Lewis Carroll (1832-1898)
Charles Lutwidge Dodgson nasce em Daresbury, Halton, Cheshire – Inglaterra. Lewis Carroll é pseudónimo literário deste matemático, fotógrafo e escritor. É educado na Universidade de Oxford, onde mais tarde é professor de matemática; é ordenado diácono pela Igreja Anglicana em 1832. De carácter tímido e bondoso vê o seu grande valor matemático ultrapassado pelo mérito da palavra escrita. Como escritor é um marco da literatura de fantasia e uma referência entre os grandes da Literatura Universal. Alice no País das Maravilhas (1865) e Alice do Outro Lado do Espelho (1871) são obras-mestras entre os clássicos. Todavia, se o matemático é ultrapassado pelo escritor, é justo não esquecer os Jogos de Lógica (1886) e Lógica Simbólica (1896) como adestrações intelectuais. Lewis Carroll tem uma paixão por enigmas, e por isso a sua obra literária contém jogos de palavras ou enigmas e é frequente a inclusão de acrósticos na sua poesia. Outra área em que é perito liga-se ao desenvolvimento de códigos e cifras. Entre 1858 e 1875 cria cinco cifras que utiliza na sua correspondência pessoal; todas são baseadas no sistema de substituição, onde cada letra é substituída por outra e a palavra-chave é a base da cifra. O interesse de Lewis Carroll pelos desafios lógicos está bem manifestado em A Tangled Tale (1885) um conjunto de contos curtos e enigmas, publicados pela primeira vez em revistas e posteriormente reunidos em livro.
UM TEMA — LITERATURA: O QUE É LITERATURA DE FANTASIA?
Tal como entendemos, não é possível conceber um conceito de literatura de fantasia, já que em boa verdade toda a literatura é invariavelmente fantasia, em razão dos elementos imaginários que comunica. Só na representação ou intenção se poderá distinguir a realidade empírica que se mostra aos seus sentidos, ainda que copie o que existe, ao contrário da fantasia. Esta, proveniente do latim phantasia significa irreal, quimérico, imaginário. Fantasia aplica-se de forma indiscriminada a qualquer tipo de literatura que não dê prioridade à representação realista, designadamente os contos de fadas, folclore dos mitos, lendas, alegorias utópicas, abrange a ficção científica e o terror. Fantasia representa a violação daquilo que se aceita como possível, implica o exagero ou distorção da natureza, sempre em ruptura da ordem da realidade.
M. Constantino.
CONTO – UM MUNDO MELHOR
O presente conto, com mais de duas décadas, da autoria de Luis Britto Goraz (Brasil?) contem uma tripla vertente:
É um conto de ficção científica;
É uma alegoria
É uma lição de sabedoria destinada àqueles que na vida procuram dispensar o trabalho.
UM MUNDO MELHOR
E conseguiu-se a sociedade perfeita, atenuou-se a loucura da espécie humana e os homens ficaram dispostos a dedicar os seus esforços à consecução de um objectivo.
Então reconheceram que não havia objectivo algum ao qual se pudessem dedicar…
Entretanto, foi idealizado como objectivo a falta de todo o objectivo
Em primeiro lugar, a humanidade que libertar-se do trabalho, e assim se iniciou uma louca correria ao trabalho conjunto destinada ao objectivo — não trabalhar.
Finalmente, todo o trabalho humano foi feito por máquinas, e as máquinas foram construídos por outras máquinas, que por sua vez eram dirigidas por máquinas, assim se libertou a humanidade do trabalho.
Porque todas as faculdades mecânicas do homem, a sua musculatura, os seus membros e as possibilidades de mover-se e de mover objectos, deixaram de se úteis, atrofiaram-se — acabaram por desaparecer.
Em segundo lugar, havia que libertar-se a humanidade da escravatura do alimento.
Todas as potencialidades químicas se implementaram na síntese das proteínas e dos hidratos de carbono a partir de matéria inanimada e do calor, e, finalmente, mediante a energia atómica, força e matéria foram transmutadas nos laboratórios até que formaram a mais apurada — quinta-essência — alimentícia, susceptível de passar directamente ao canal sanguíneo sem prévia digestão.
Como a boca, o estômago, o intestino, o fígado e, em geral, as vísceras deixaram de ter a pesada tarefa de extrair energia dos alimentos, atrofiaram-se e acabaram por desaparecer.
Em terceiro lugar, que libertar-se a humanidade da morte. E os laboratórios eliminaram as toxinas que produziam a degeneração, antes conhecida por velhice, corrigiram os genes que suicídio a partir da matéria orgânica resultante da síntese do protoplasma, e desta a síntese da imortalidade.
Com a desnecessidade de reprodução os órgãos de geração atrofiaram-se e acabaram por desaparecer.
Nesta alvorada do espírito o intelecto, já dono e senhor do Universo, estava capaz de lançar-se à mais audaz das aventuras.
Libertado do trabalho, da fome, do sexo, libertado da morte, o cérebro humano dispunha-se a criar o seu mais potente fruto: aquele que não nascia das vísceras nem do apetite da carne.
Um acontecimento enorme, porém estava por surgir: com efeito, o cérebro humano também deixou de ser necessário, também se atrofiou e também havia acabado por desaparecer.
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