A partir de hoje, sem dia ou hora marcados, vão aparecer por aqui os Desafios Inesperados.
Para começar, temos enigmas de resolução simples no Policiário de Bolso, ou seja, verdadeiras perguntas de algibeira para os solucionistas habituados às andanças da decifração de mistérios policiários.
Pode enviar a sua resposta para policiariodebolso@gmail.com e receberá a solução do autor do desafio.
Detective Jeremias
O CASO PORTAS
Este problema foi publicado no nº 4 da revista O Gato Preto (Abril 1952) sem indicação do nome do autor.
Do Notícias da Manhã de 29 de Junho de 1946:
“Ontem às 19.45 foi encontrado morto na biblioteca de sua casa o riquíssimo industrial Tiburcio Portas. A vítima apunhalada com uma faca de mato tirada de uma panóplia da parede, estava sentada na poltrona, com o jornal da tarde sobre os joelhos, junto da telefonia desligada. O cadáver foi descoberto pelo criado de nome Tomé. No palacete além industrial, moram os seus dois sobrinhos, David e Maurício e os criados (o referido Tomé uma criada e uma cozinheira).
Tiburcio Portas era pai da cantora Marilena que se encontra em Nova Iorque desde o dia 26, contratada por um célebre empresário americano. Marilena está noiva de seu primo David.
O casamento devia realizar-se brevemente.”
Relato estenográfico do interrogatório do criado Tomé:
Pergunta: Porque foi à biblioteca?
Resposta: Levar um telegrama ao patrão. Assim que entrei vi a grande desgraça que acontecera. Não toquei em nada. Preveni o sr. David e o sr. Maurício e depois telefonei à policia.
P: Não sabe o que dizia o telegrama? Vou-lho ler. NÃO QUERER AINDA FAZER PAZES COMIGO INTERROGAÇÃO. ESPERO GOSTE OUVIR-ME CANTAR HOJE RÁDIO AMERICANA MARILENA. Sabe a razão por que a vítima estava zangada com a filha?
R. Calculo. A viagem a Nova Iorque foi feita contra vontade do pai.
Nota garatujada à margem pelo agente Ramos: “Tomé é homem sem cadastro. Nenhum motivo aparente para matar o patrão. Os outros criados têm álibi.”
Do Notícias da Manhã de 30 de Junho:
“Continua envolto em mistério o assassínio de Tiburcio. Segundo o relatório médico-legal, a morte verificou-se entre as 19 e as 19.30. A arma não apresenta impressões digitais.”
Transcrição do auto de declarações de David Portas:
“Na altura em que o crime foi cometido, estava no meu quarto a ouvir a minha noiva pela telefonia. Marilena avisara por telegrama que cantaria das 19 às 19.30. Dedicava-me uma canção. Não ouvi qualquer ruído suspeito, o que é natural pois a biblioteca fica no andar inferior. Não sei onde se encontrava Maurício. Só o vi quando o Tomé nos preveniu do sucedido. Dei com o meu primo no corredor, vestido de sobretudo e de luvas calçadas…”
Relato estenográfico do interrogatório de Maurício Silva:
P: Porque discutiu com o seu tio na véspera do crime?
R: Porque estou apaixonado por Marilena. Quero casar com ela. David não a merece. Mas o tio Tiburcio não me queria para genro. Sempre antipatizou comigo, e por isso discutimos.
P: Porque estava vestido para sair quando Tomé o informou do crime?
R: Decidira ir-me embora para sempre. Marilena preferia também o David e não havia para mim possibilidades de sucesso.
P: Não viu o seu tio nesse dia?
R (relutante): Falei com ele na biblioteca às 18.30. Reconciliámo-nos. Não queria que eu me fosse embora, mas eu teimei em partir e fui arranjar as malas.
P: A faca de mato ainda estava na panóplia?
R: Ainda.
P: É verdade que é canhoto?
R (sem hesitação): É verdade.
Do Notícias da Manhã de 2 de Julho:
“Chegou ontem a cantora Marilena, filha do industrial T. Portas, há dias assassinado misteriosamente, como noticiámos.
A figurinha simpática da cantora, vestida de negro, impressionou profundamente aqueles que a aguardavam.
Vim no primeiro avião declarou, com os olhos molhados de lágrimas. Eu andava a adivinhar um desastre. Na tarde do dia 28, em Nova Iorque, segundos antes de começar o programa radiofónico, senti um aperto no coração. A lâmpada do estúdio deu sinal de início. Eram sete horas. Comecei a cantar com o pressentimento de que ia acontecer uma desgraça."
Conclusões do relatório confidencial nº4 do agente Romeira:
“A única pessoa a beneficiar com a morte é Marilena Portas, herdeira de toda a fortuna do pai. David e Maurício não têm modo de vida regular. São estroinas, cheios de dívidas, mas nada lucram com a morte do tio.”
Do segundo interrogatório do criado Tomé:
P: Quando viu o seu patrão pela última vez?
R: Quando lhe levei o jornal, cerca das vinte para as sete.
P: Segundo declarou, ao avisar o sr. Maurício, encontrou-o vestido para sair. Ele tinha as luvas calçadas?
R: Não reparei. Sim, parece-me que tinha.
Com estes elementos, o chefe Rafael descobriu o assassino de Tiburcio Portas. O leitor será também capaz de o descobrir?
Veja se sabe responder a estas duas perguntas: Quem foi o assassino? Porquê?
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