EFEMÉRIDES – Dia 31 de Janeiro
C.W. Grafton (1909-1982)
Data do falecimento de Cornelius Warren ("Chip") Grafton. Nasce na China, filho de pais missionários americanos. Estuda jornalismo e estudos jurídicos. Em 1943 publica o primeiro livro The Rat Began to Gnaw the Rope, com o qual obtém o Mary Roberts Rinehart Award, para o melhor romance do ano. Em 1944 publica The Rope Began To Hang The Butcher e em 1950 Beyond A Reasonable Doubt. Os dois primeiros livros têm como narrador/protagonista o detective/jurista Gilmore Henry. Grafton deixou um manuscrito para um terceiro romance da série Gil Henry The Butcher Began to Kill the Ox que nunca chegou a ser editado. Os títulos desta série correspondem a uma lengalenga infantil.
UM TEMA — A NARRATIVA DE ESPIONAGEM
Lado a lado ou constituindo apenas um dos ramos da grande árvore do género policiário (tanto se confundem), a narrativa de espionagem tem um decurso paralelo e inter-relacionado com o uso do espião. Curiosamente, ou não, talvez na fatalidade do livro mais distinguido no mundo, onde nada parece faltar, é na Bíblia que vamos encontrar a primeira referência à espionagem. Moisés, conduzindo os hebreus após o êxodo do Egipto, não encontra mais do que inóspitos desertos para acolher o seu povo. Envia espiões às Terras de Canaã em reconhecimento local. Os fins justificam os meios… aliás, não será a espionagem um acto tão antigo como a existência humana? Eva espiava Adão para encontrar o ponto vulnerável, o homem primitivo espiava para atacar o lado mais débil da caça ou de outros homens.
Cipião (236-183 a.C.) mandou espiar Aníbal para forjar a estratégia de vitória. Ramsés II (séc. XIII a.C.) usou da inteligência e arte da espionagem para vencer os hititas, Alexandre Magno, Ciro, Júlio César Augusto seguiram o exemplo. Mitrídates, Teodorico, os cruzados da Idade Média, reis e vassalos dos estados modernos e contemporâneos mantiveram e mantêm hordas de espiões, a pouco e pouco preparados, criaram serviços organizados de espionagem e contra-espionagem. Hoje, utilizando a experiência adquirida e os meios adequados. Grandes e prósperas organizações: CIA, Deuxième Bureau, KGB ou NKWD, Intelligence Service, OSS, Sûreté, FBI, NSA, M-16 etc. etc… a verdadeira expressão para definir a espionagem actual, é que se trata de um verdadeiro iceberg, uma enorme montanha de gelo cuja parte visível sobre a água parece inocentemente inútil, mas a grande massa dura e perigosa permanece invisível. É deste fenómeno que a narrativa de espionagem se alimenta.
O primeiro romance deste ramo cabe a James Fenimore Cooper, nascido em 1789 (EUA), que publica em 1821 O Espião, uma abordagem patriótica às andanças de um mensageiro do general Washington.
Rudyard Kipling leva a espionagem à Índia com Kimba (1901), Doyle põe Sherlock Holmes a resolver O Caso Naval (1889), mas descritivamente, com maior acerto, só Joseph Conrad com O Agente Secreto (1906) nos dá uma verdadeira dimensão narrativa do tema. Em termos latos — este texto é uma abertura ao tema — passando por dezenas de autores que mereceriam citação, até ao maior êxito comercial, que representa o incrível James Bond, até ao frio Mr Smiley de John Le Carré, vai um mundo extraordinário de literatura de espionagem
M. Constantino
CONTO — O PLANO SECRETO
O conto apresentado, de um autor desconhecido Tex Ritter, foi publicado em 1946 ou 1947. Serve para divulgação do tema, que também têm cultores portugueses que serão futuramente referenciados.
Um ponto luminoso surgiu subitamente na tela do radar, momentos depois o uivo das sirenes cortou o ar da Base Digger. A incursão dos bombardeiros japoneses intensificara-se nos últimos dias, mas a floresta camuflava inteiramente a acumulação de munições que durava há meses, tendo em vista a projectada ofensiva geral. Mesmo assim os japoneses sobrevoavam o acampamento, demonstrando que se mantinham alerta.
Pouco depois o uivo das sirenes morreu e deu lugar ao sinal de tido bem. O avião foi identificado como americano e regressava à base após um voo de reconhecimento. No radar o ponto luminoso aumentou sobre o mar azul do Pacífico e o avião aterrou. O piloto permaneceu a bordo enquanto o técnico entregava um envelope endereçado ao Departamento de Observações e continha filmes tirados ao longo da frente, situada 65 quilómetros a norte. O avião manobrou para entrar no hangar, enquanto o filme revelado era examinado… O tenente-coronel Wertenbaker olhou a tela onde se projectava uma imagem ampliada e franziu a testa intrigado. Sabia que o inimigo era feroz e dele tudo havia a esperar. Apanhou uma vara e apontou um ponto da projecção.
— O que é isto? Perguntou.
O major Herb, que olhava para o outro ponto da projecção, voltou a atenção para o ponto assinalado.
— Sim esse ponto não se encontrava aí a semana passada.
Herb retirou um filme do arquivo e colocou-o no projector, procurando o reflexo da água agora detectado; não existia.
— Eu já sabia. — Grunhiu Wertenbaker
— Uma vez que é um génio, diga-me o que significa esse reflexo na água — disse Herb Berkker.
O coronel estudou o filme, substitui-o pelo outro e respondeu:
— Isto pode ser obra da chuva, tem chovido bastante…
— É engraçado, recebi um relatório de manhã que comunica que as nossas provisões de água têm diminuído bastante, apesar da chuva. Atalhou Herb.
Wertenbaker sacudiu a cabeça:
— Pode ser um detalhe sem importância, aliás temos assuntos mais importantes a tratar, mais tarde voltaremos ao filme.
— Quem sabe se Joe Fannel do Serviço de Inteligência, não poderia tratar do assunto considerou Herb.
— Está certo, remeta-lhe tudo para que o estude.
Uma pequena aeronave voltou ao local e três horas mais tarde o tenente Joe Fannel recebia novos filmes que estudou em detalhe e conferenciou com o seu capitão. Segundo ele, o ponto do manancial de água coincidia com o local em que seria desencadeada a ofensiva geral. Para Fannel era um achado importante, vital mesmo para a ofensiva já marcada. Pediu um avião para o levar até ao local assinalado no mapa e algum material. Tencionava esconder-se na floresta e iria ao encontro das tropas leais, na ofensiva, acrescentando:
— Os japoneses encaram esta guerra seriamente e eu também. Eles sabem que preparamos uma ofensiva e também onde vai começar!
Quando anoiteceu um avião conduziu Fannel próximo das linhas inimigas e a cerca de 1200 metros de altura, lançou-se em pára-quedas, com uma pesada mochila sobre os ombros.
A ofensiva teve lugar dez dias decorridos, a cerca de 6,5 quilómetros da represa de água. Vindos da costa, os bombardeiros americanos atacavam a retaguarda das posições inimigas. Ao sul da cadeia de montanhas defendidas pelos japoneses encontrava-se o vale, o único ponto de acesso a estas defesas, e foi por ali que a infantaria atacou. Enquanto os soldados avançavam, aviões, tanques pesados, e morteiros estabeleciam uma barragem de fogo. Surgiu então da floresta um homem roto e barbado que alegou ser o tenente do Serviço de Inteligência das forças armadas americanas. Levado ao quartel-general, Joe Fannel prestou continência e sentou-se cansado. Sorriu e disse:
— Há dez dias que estou aqui, major, para me desincumbir da missão que o senhor e o coronel Wertenbaker me deram. A pequena represa encontra-se na foto, major. O senhor e o coronel achavam que era uma lagoa formada pela água da chuva, mas eu relacionei-a com a diminuição das correntes no sul, e estava certo. Os japoneses construíram um dique de cimento armado. O seu plano era acumular água na represa e quando as nossas tropas avançassem e alcançassem o vale, dinamitavam a represa.
— Quer dizer se…
— Isso. Seria, se o plano fosse bem sucedido, mas há dois dias abri um buraco no dique e a água escoou antes de os nossos homens chegarem.