11 de março de 2012

CALEIDOSCÓPIO 71

EFEMÉRIDES – Dia 11 de Março
Elizabeth Linington
(1921 – 1988)
Barbara Elizabeth Linington nasce em Aurora, Illinois, EUA. É considerada a primeira mulher a escrever romances policiários do género procedimento policial que retrata diversas vertentes da acção das forças policiais: investigação, recolha de provas, interrogatórios, análise forense, etc como sucede, por exemplo, nos livros de Ed McBain ou George Simenon. Elizabeth Linington publica o seu primeiro livro em 1955, é uma escritora que utiliza diferentes pseudónimos. Como Elizabeth Linington escreve 16 livros; como Anne Blaisdell cria a série Ivor Maddox e escreve 12 livros; sob o pseudónimo Lesley Egan cria as séries Vic Varallo (14 títulos) e Jesse Falkenstein (13 títulos); sob o pseudónimo Dell Shannon cria a série Lieutenant Luis Mendoza, que protagoniza perto de 40 livros. Esta autora tem diversas nomeações para o Edgar Awards: como Dell Shannon para Best First Novel em 1961 com Case Pending, que apresenta o Lieutenant Luis Mendoza e em 1963 Knave of Hearts, para Best Novel, também com Mendoza; como Anne Blaisdell é nomeada em 1962 para Best Novel com Nightmare.



Tema — NARRATIVA DE TERROR – SEMPRE PRESENTE
Ontem à noite à saída do cinema encontrai o Zé Maria, amigo de velha data. Olhamo-nos sem palavras, porque se falássemos seria para lembrar algo de estranho e sobre o qual prometemos guardar segredo. Na verdade, se o fizéssemos, algumas pessoas teriam rido, outras pediriam detalhes ou sugeririam hipóteses para explicar o que para nós não tem explicação.
Ao conhecer o Zé em Botafogo, estávamos na mesma escola, eu com 18 anos, ele com 19. Um dia perguntou-me se gostava de acampar. Nunca acampara mas respondi afirmativamente para não parecer ignorante. Foi no acampamento que conheci Rosa, sua irmã e também Raul, Ivete, Julião, Ari e Maura que estavam presentes. Acampar era a paixão de todos eles, a que aderi também, não sei se por gosto sincero ou porque era o meio mais fácil de ficar perto de Rosa. Sou tímido, nunca tive jeito de dizer alguma coisa que pudesse dar a impressão de que estava apaixonado. Sei… Dizem que as mulheres sempre percebem. Mas juro que a Rosa nunca me disse coisa alguma, nem fez qualquer brincadeira que deixasse os outros perceberem que tinha consciência do meu interesse por ela. A não ser o de simples amizade. Tornamos muito amigos. Eu, ela, o irmão e todo o resto da turma. Estávamos sempre presentes em toda parte: cinema, festas, praia e, principalmente, nos acampamentos das férias, quando a aventura estava em descobrir um lugar ainda selvagem de mar ou de montanha, juntar a barraca e os mantimentos e andarmos para lá. Para “desvendar a natureza”, como dizia Julião, poeta da turma.
Acampámos em tanto lugar diferente que até perdi a conta. Só me como aquele, numa praia deserta, perto de Parati, quando fazia uma lua cheia, daquelas enormes, e o Ari havia levado o violão. Houve muitos outros momentos assim, depois… mas o que mais lembro ainda é o rosto macio e claro de Rosa, iluminado por aquela lua enorme…
Durou quase três anos aquela vida feliz. Três anos pode ser muito pouco, para mim foi uma vida inteira. Nunca mais fui o mesmo. Quando recebi a notícia do acidente estava em Brasília. Poderia ter voltado ao Rio no mesmo dia, mas preferir ficar. Queria que minha última lembrança da Rosa fosse cheia de vida, assim como ela estava quando a vi pela última vez, parecia rir com o corpo inteiro, parecia dançar quando fazia qualquer movimento, nunca conheci ninguém tão cheio de vida… queria conservá-la assim, na minha lembrança.
Uma semana depois, voltei. Procurei o pessoal, aos poucos fomos vencendo a fossa. Logo começaram as férias de fim de ano e Zé Maria insistiu para que a gente acampasse como antes. Nada poderia ser como antes, mas ele recusava aceitar. Os outros também. Havíamos planejado acampar em Itatiaia. Zé Maria estudava fotografia, havia comprado uma máquina nova, estava todo animado. Concordei em ir, mas só para não estragar a alegria da turma.
Foi horrível. O tempo estava lindo, os riachos estavam transparentes, as montanhas ensolaradas. Mas o tempo todo a gente lembrava a ausência de Rosa. Bastava alguém rir para todos se lembrarem dela. “Onde houver riso a Rosa estará presente”, disse Julião, na volta. Acho que essa frase foi a melhor poesia que ele já conseguiu fazer.
Três dias depois, Zé Maria apareceu lá em casa. Estava pálido como um defunto. Não falou nada. Tirou um monte de fotos de um envelope e espalhou sobre a mesa. Fotos do nosso acampamento, em Itatiaia. É, a Rosa estava em todas. Rindo, brincando, dançando, só ela parecia estar viva, em contraste com todas aquelas caras tristes e desanimadas.
Vê-la foi um choque tremendo. Chorei enquanto rasgava furiosamente as fotografias. Rosa nunca se fora, estava sempre presente no meu coração. Poderia haver outra explicação?

TEMA — FICÇÃO CIENTÍFICA – RIFIFI
De Fernando Saldanha
Elevou a voz ao céu e pôs-se a cantar enlevadamente.
As estrofes eram belas e comoventes — a voz maviosa e bem modulada.
Cantava, cantava — cantava com amor a sua amada. Talvez Rififi fosse belo, tolerante, firme, de bom e doce carácter. Talvez no seu mundo Rififi fosse um chefe na nobre acepção da palavra. E talvez não. Talvez fosse um ser comum.
Quem era Rififi? Quem era a amada de Rififi? A quem era que Rififi tão concentradamente cantava? E como cantava ele?
Seria formosa a tema amada de Rififi? Que encantamento o prendia?
Talvez Rififi não soubesse.
Era noite — a noite de muitas luas de Andrómeda. E Rififi cantava, cantava — cantava a sua amada. As estrofes eram belas — a voz maviosa.
A quem era que Rififi cantava?
Cantava a sua amada.
Ninguém lhe respondia. Rififi desesperava.
E cantava, cantava — cantava com amor a sua amada.
Seria coerente cantar assim?
A quem cantava Rififi? Quem era a sua amada?
Subitamente o belo canto de Rififi calou-se.
Pusera-se a lua no céu do seu mundo.
Era a amada de Rififi.
Mas Rififi quem era?
Era belo, forte, firme, de bom carácter.
Mas não — Rififi não era humanóide.
Rififi era um esquilo. Era belo, forte, firme, de bom carácter.
Só que naquele mundo de Andrómeda todas as espécies eram suas iguais.
Deus Pai lhe dera voz — doce, maviosa, bem modulada.
Naquela madrugada de Primavera no seu mundo ele pedia ao Pai uma lei protectora das espécies.









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