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24 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 329

Efemérides 24 de Novembro
William F. Buckley Jr.(1925 - 2008)
William Frank Buckley, Jr. nasce em New York City, EUA. Político conservador, editor, comentador de radio e televisão e autor de livros sobre política é também escritor de policiários, em grande parte bestsellers de espionagem. Cria a série Blackford Oakes, um espião da CIA que surge pela primeira vez em Saving The Queen, e é protagonista de 12 livros editados entre 1976 e 2005. Além destes, o autor escreve ainda mais 10 romances policiários. Em Portugal está editado:
1 – O Homem de Berlim (1987), Nº49 Livros de Bolso, Série Guerra e Espionagem, Publicações Europa-América. Título Original: The Story Of Henry Tod (1984). É o 5º livro da série Blackford Oakes.





TEMA — CRÓNICA — HONRA NÃO É VENTO!
Por M. Constantino
Não há muito tempo, a Lei exigia ao depoente o compromisso de honra:
Juro perante Deus dizer a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade.
E a palavra era de tal forma vinculada que era tida como profissão do devedor o que se recusasse a prestar juramento sobre a invocada dívida (art.ºº 314 C.C.). Nesses tempos e de longa data anterior, um aperto de mãos selava um compromisso como se de escrito notarial se tratasse. A palavra de honra era sinónimo de probidade para todo e qualquer cidadão. Honra, sempre foi a mais-valia sem preço.
Após 74 foi alterado o juramento de “perante Deus” para “Juro por minha honra”. Hoje, juramento e honra jazem no alvido. Será que se reconhece o mérito ao velho aforismo dos namorados? “Quanto mais juras mais mentes. De facto e, não só entre namorados, a mentira tomou foro. Ouvir um juramento é colocar-se-mos uma dúvida… Costumava dizer-se: “perder dinheiro é muito, perder a honra é tudo'”, hoje, diz-se: “é o dinheiro que sustenta a honra”. William Shakespeare não tinha em grande apreço a honra quando em Henrique IV, escreve: “O que a honra? Uma palavra. O que essa palavra contém? Vento!”.
Talvez sejam verdadeiras as três citações, depende de quem interpreta: se nada significa para uns, é essencial para outros. Mas Shakespeare enganava-se: honra não é vento. A honra é um direito de personalidade: surge no homem pelo simples facto do nascimento, afirma-se ao longo da vida pelas qualidades morais que adquire na sociedade. E identifica-se por si própria. Ultrapassa o património moral e fixa-se no Ordenamento Constitucional catalogada no art.º 26 nº 1 entre os direitos pessoais de qualquer cidadão, o direito ao bom nome a reputação, isto é, o direito de não ser ofendido ou lesado na sua honra, dignidade ou consideração social.
A honra não é uma palavra de Retórica, existe, como se viu, juridicamente protegida e moralmente relevante como sentimento.
Para além do que se disse, a palavra honra e a própria honra, existem em realidade? Com certeza que existem. Vivemos, é certo, numa época em que tudo parece correr ao sabor da ventania e os próprios espíritos são impelidos pelos ventos mais opostos. neles, como folhas secas outonais volteiam critérios, doutrinas, conjuntos de valores que serviram de sustentáculo a uma civilização. Neste período contemporâneo, deixaram de existir pontos referenciais constantes; tudo é mutável — uns chamam-lhe liberdade, outros progresso. Mas a sensação de liberdade que conduz à ausência de regras, confundindo--se com permissividade, isto é, liberdade sem destino, é irresponsável. Não há verdadeira liberdade sem consciência. Nesta está implícita um juízo de valor que pressupõe um julgamento baseado no sentimento racional. Nestes tempos de desintegração de valores, que são uma evidência, a honra é uma lacuna sentida. Lemos centenas de jornais sem a encontrar em letra de forma, se bem que tanto bastaria a sua constatação efectiva. Clamam os entendidos que a liberdade é a mãe de todos os valores. Aceitemos, mas o caminho a percorrer é olhar para dentro de nós mesmos a fim de redescobrirmos a verdade renascida, a Fénix da liberdade e dos valores, integrando-os no novo espírito do ser humano. Mais do que glórias que são passageiras, dos bens materiais que não compram honestidade, o homem precisa de sentimentos de honra que são apanágio de personalidades verdadeiramente grandes.



TEMA — CONTO DEDUTIVO DE ISAAC ASIMOV — EXAME DE RACIOCÍNIO
Desafio: confronte a sua sagacidade com a de Hal Kempe.

O Professor Neddring olhava com benevolência para o seu aluno recém-formado. O rapaz ali estava sentado à vontade: tinha o cabelo um tanto avermelhado, os olhos vivos, mas calmos e as mãos metidas nos bolsos da bata de laboratório. Indiscutivelmente um espécime do futuro, pensou o professor
Ele já sabia há algum tempo que o rapaz estava interessado na sua filha. E o que mais importava, já sabia há algum tempo que a filha estava interessada no rapaz.
— Vamos acertar isso — disse o professor. — Você veio pedir a minha aprovação antes de propor casamento à minha filha?
— Sim senhor — disse Hal Kempe
— É evidente que não estou a par das últimas manias da juventude… na certeza não há de ser esta a nova onda — o professor meteu as mão nos bolsos e reclinou-se para trás na cadeira — Hoje em dia a rapaziada não e muito de pedir licença, não é verdade? Não me diga que vai desistir minha filha se eu o rejeitar?
— Não, se ela ainda me quiser, não vou, e acho que ela me quer. Mas seria bom…
— … se tivesse a minha aprovação. Porquê?
— Por razões muito práticas — disse Hal — Eu ainda não tenho o meu título de doutor, e não quero que digam por aí que estou a namorara sua filha para o obter. Se o senhor achar que estou, diga logo, que talvez eu espere até depois de ter o título. Ou talvez não espere, arriscando que a sua desaprovação velha a dificultar-me bastante a obtenção desse título.
— Portanto, por amor ao doutoramento, acha que seria aconselhável que estivéssemos de acordo em relação a seu casamento com Janice
— Sim professor, para lhe ser franco.
Houve um silêncio entre eles. O Professor Neddring pensava no assunto com certo mal-estar. Durante alguns anos no seu trabalho pesquisa ocupava-se de complexos de crómio, e tinha grande dificuldade em pensar com certa precisão, sobe assunto tão imprecisos como afeição e casamento.
Esfregou o rosto escanhoado — com a idade de cinquenta anos, sentia-se velho demais para os diversos estilos de barba exibidos pelos membros mais jovens do departamento, e disse:
— Bem, Hal, se você quer uma decisão de minha parte, terei de baseá-la em alguma coisa, e a única maneira que tenho de julgar pessoas é através de seu poder de raciocínio. A minha filha julga-o à moda dela, mas eu terei de julgá-lo à minha.
O professor inclinou-se para a frente, rabiscou algo num pedaço de papel e disse:
— Diga-me o que quer dizer isto, e terá minha bênção.
Hal pegou no papel. O que estava escrito era uma série de números:
6922304520372625435627
— Um criptograma? — disse
 — Pode chamá-lo assim.
Hal franziu ligeiramente, a testa.
— O senhor quer dizer que deseja que eu resolva um criptograma, e, se conseguir resolvê-lo, o senhor aprovará o casamento?
— Sim
— E se não conseguir, então o senhor não aprovará o casamento?
— Pode achar trivial, admito, mas é esse o meu critério. Seja como for, poderá casar com Janice sem minha aprovação. Janice e maior de idade.
Hal sacudiu a cabeça.
— Mesmo assim, preferia ter sua aprovação. De quanto tempo disponho?
— De nenhum. Diga-me agora o que significa. Raciocine.
— Agora?
O professor assentiu.
Hal Kemp remexeu-se na cadeira e contemplou a fila de números na sua mão.
— Tenho de fazê-lo de cabeça? Ou posso usar lápis e papel?
— Faça-o, apenas. Fale. Quero ouvir como raciocina. Quem sabe? Se gostar do seu modo de raciocinar, poderei dar-lhe a minha aprovação mesmo que não o resolva.
— Bem, está certo— disse Hal certo—É um desafio. Em primeiro lugar, partirei de um pressuposto. Pressuponho que o senhor seja um homem honrado, e não me colocaria um problema sabendo de antemão que eu não o poderia resolver. Portanto este é um criptograma que, em sua opinião poderei resolver sentado nesta cadeira e quase de improviso. O que por sua vez significa que ele contém algo que eu conheço bem-
— Isso parece-me lógico — concordou o professor.
Hal, porém, não o estava a ouvir, parecia decidido.
— Conheço bem o alfabeto, naturalmente, portanto poderia ser uma cifre de substituição comum… números por letras. Presumo que se fosse isso, haveria de conter alguma subtileza, ou seria fácil demais. Mas sou amador nesse tipo de coisa, e, a não ser que eu visse logo um plano característico nos números que desse um significado ao conjunto, ou estaria perdido. Noto que há três 6, seis 2 e nem um só 8, mas isso nada significa para mim. Assim, abandono a possibilidade de uma cifra generalizada e mudarei para o nosso ramo.
Continuou:
— O seu ramo especializado, professor é a química inorgânica e decerto é também o meu. E, para qualquer químico, os números dão logo a ideia de números atómicos. Cada elemento tem o seu próprio número e há cento e quatro elementos conhecidos hoje em dia; portanto, os números em questão iriam de 1 a 104. O senhor não indicou como é que os números estão divididos. Há números atómicos de um algarismo de 1 a 9; os de dois algarismo de 10 a 99 e os de três algarismos de 100 a104. Tudo isso é óbvio, professor, mas o senhor quis ouvir o meu raciocínio, logo estou a expô-lo por completo.
Podemos esquecer os números atómicos de três algarismos, já que o 1 é necessário e no criptograma não há um único 1. Como o senhor me deu vinte e dois algarismos ao todo, há uma possibilidade de que somente números atómicos de dois algarismos estejam incluídos — onze deles. Poderia haver dez de dois algarismos e dois de um algarismo, mas duvido. Até a presença de dois números atómicos de um algarismo poderia resultar em centenas de combinações diferentes de lugares nesta lista, e isso certamente dificultaria demais as coisas para uma solução imediata ou mesmo rápida. Parece-me que tenho onze números de dois algarismos e, assim, poderemos mudar a mensagem para
69 22 30 45 20 37 26 25 43 56 27
Estes números por si só parecem não dizer nada, mas se forem números atómicos, porque não convertê-los nos nomes dos elementos que os representam? Os nomes poderiam ter algum significado. Isso de improviso, não é tão fácil, porque não tenho de cor a lista dos elementos na ordem dos seus números atómicos. Posso procurar numa tabela?
O professor ouvia com interesse.
— Eu não procurei nada quando preparei o criptograma.
— Está certo então. Vejamos — disse Hal devagar — Alguns são óbvios. Eu sei que 30 é o zinco, 20 é o cálcio, 26 é o ferro e 27 é o cobalto. Quanto ao 43, isso é por perto da prata, que é o 47. Isso significa paládio, ródio, rutênio, tecnécio, diria que é tecnécio. Os outros são elementos raros na terá e nunca consigo acertar. Vejamos… vejamos… Está certo. Acho que já sei.
Escreveu rapidamente e disse:
— A lista dos onze elementos da sua relação é túlio, titânio, zinco, ródio, cálcio, rubídio, ferro, manganês, tecnécio, bário, cobalto. Está certo? Não, não responda.
Estudou a lista atentamente.
— Não vejo relação entre esses elementos, nada que me parece dar uma pista. Passemos adiante, então e examinemos se há algo, além do número atómico, que seja tão característico nos elementos, que salte logo aos olhos de qualquer químico. Evidentemente seria o símbolo químico… a abreviatura de uma ou duas letras de cada elemento, que se torna a segunda natureza de qualquer químico. Neste caso, a lista dos símbolos químicos é… — escreveu novamente —
 Tm, Ti, Zn, Rh, Ca, Rb, Fe, Mn, Tc, Ba, Co.
Poderíamos tentar formar uma palavra ou frase, mas não formam, não é? Portanto teria de ser um pouco mais subtil do que isso. Se fizermos um acróstico com as letars e escolher apenas as primeiras letras, de nada adianta. Logo, vamos tentar as segundas letras de cada símbolo, em ordem, temos: “minhabencao” —
 minha bênção. Suponho que seja essa a solução professor.
— É — disse o Professor Neddring — Você teve um raciocínio perfeito e merece a minha permissão para propor casamento à minha filha, conforme combinámos.
Hal levantou-se, virou-se para se ir embora, hesitou e depois voltou.
— Por outro lado — não gosto de ter fama do que não fiz. O raciocínio que empreguei pode ter sido exacto, mas eu apenas apresentei porque queria que me ouvisse raciocinar com lógica. Na verdade eu sabia a resposta antes de começar, portanto, de certo modo, enganei-o e tenho de confessar.
— Ah é? Como?
— Bem sei que o senhor me tem em boa conta, imaginei que queria que eu acertasse na solução e não resistiria a dar-me uma pista. O senhor disse-me ao entregar o criptograma: “Diga o que quer dizer isso e terá a minha bênção”. Calculei que poderia quer dizer literalmente isso. “Minha bênção” tem 11 letras e o senhor entregou-me 22 algarismos. Reduzi-os imediatamente a onze. Depois, também lhe disse que não sabia de cor a lista dos elementos. Os poucos que sabia bastavam-me para me mostrar que as segundas letras dos símbolos formavam “minha bênção”, portanto deduzi os restantes entre os elementos que tinham nos seus símbolos as letras que convinham. Ainda mereço?
O professor Neddring sorriu, afinal.
— Agora, meu filho, — disse — você merece realmente. Qualquer cientista competente consegue pensar com lógica. Só os grandes empregam a intuição.



8 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 313

Efemérides 8 de Novembro
Bram Stoker (1847 – 1912)
Abraham Stoker nasce em Clontarf, Dublin, Irlanda. Escritor de romances e contos é reconhecido pelo seu maior sucesso, o livro Dracula (1897). Entre 1875 e 1911 publica 13 romances e algumas colectâneas de contos Este autor foi já referido no CALEIDOSCÓPIO 65 (Clicar) e CALEIDOSCÓPIO 106 (Clicar). Horror Writers Association criou os prémios com o nome do escritor — Bram Stoker Awards — com que distingue anualmente obras de terror e autores deste género em 16 categorias diferentes. Em Portugal muitas editoras publicaram Drácula e outras obras de Stoker. O Policiário de Bolso refere as edições mais recentes:
1 – A Jóia Das Sete Estrelas (1997), Nº601 Livros de Bolso, Publicações Europa América. Título Original: The Jewel Of The Seven Stars (1903)
2 – Contos De Terror E Arrepios (2007), Editora Coisas de Ler.
3 – O Enterro Das Ratazanas E Outros Contos (2010), Colecção Misteriosos, Editora K4. Título Original: The Burial Of The Rats (o conto foi escrito em 1914)
4 – Drácula (2010), Colecção Grandes Obras, Livros de Bolso, Publicações Europa América. Título Original: Dracula (1897)

Simon Ganett (1939)
António Carlos Pereira da Silva nasce no Porto. Ver TEMA por M. Constantino
Bibliografia:
1 – Sangue Sobre O Mar (1964), Nº10 Colecção Criminalidade, Coimbra Editora.
2 – O Mais Forte E O Mais Fraco (1966), Nº13 Colecção Criminalidade, Coimbra Editora.
3 – Armadilha Para Um Homem Mau (1966), Nº10 Colecção Policial, Luís Campos.
1 – Os Olhos Malvados Do Tio Jonathan (1966), Nº16 Colecção Policial, Luís Campos.
4 – Operação Vil Metal (1967), Nº1 Colecção Premeditação, A. Pereira da Silva
5 – Rubro, Quente E Pegajoso (1967), Nº3 Colecção Premeditação, Agência. Internacional de Livros e Publicações. Sob o pseudónimo Barney Kilbane
6 – Os Crimes Do Noivo Fantasma (1967), Nº3 Colecção Premeditação, Agência. Internacional de Livros e Publicações.
7 – Operação Utopia (1967), Nº9 Colecção Um Livro Confidencial, Agência. Internacional de Livros e Publicações.




TEMA — SIMON GANETT, POLICIARISTA E ESCRITOR
Por M. Constantino
Simon Ganett, de verdadeiro nome António Carlos Pereira da Silva, cedo mostrou vocação para as letras e mistérios. Colaborou em vários jornais, mais assiduamente no Jornal de Notícias onde publicou algumas dezenas de problemas ou enigmas policiários sob o pseudónimo de Marvel. Aliás, neste campo foi Campeão Nacional nas modalidades de produção e decifração.
Como escritor policiário estreou-se em 1964 com “Sangue Sobre o Mar”, com o pseudónimo Simon Ganett; utilizou ainda outro pseudónimo, Barney Kilbane.
Experimentou diversas profissões, das quais retirou úteis conhecimentos humanos e acabou por se fixar no comércio.
Modesto, porventura algo tímido, bom Amigo do seu Amigo, eis um retrato de Simon Ganett.




TEMA — ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA PRÁTICA — O CLUBE DOS ANÕES E DOS GIGANTES
Por Márvel
Foi nas proximidades do termo daquela sexta-feira, que ao salão nobre do Clube dos Anões e dos Gigantes foi outorgado o beneplácito de aptidão para comportar os festejos comemorativos do 5º aniversário da colectividade, a realizar no domingo seguinte, por parte da unanimidade dos seus decoradores e membros da agremiação.
As consequências da abalizada conjugação de esforços entre os 14 jovens de ambos os sexos eram visivelmente notáveis. Assim o declarou Silvino, o presidente do Clube, sem reflectir na apologia com que galardoava a própria pessoa, concluindo por dirimir, como acto de inultrapassável e merecida justiça, a imediata inauguração do pequeno bar.
Somente três pessoas não se sentiram seduzidas pela perspectiva enunciada. Encostado ao parapeito de uma janela aberta, onde sacudia de quando em vez a cinza do seu pseudo Havano, um sujeito de rosto cadavérico não parecia disposto a desviar a vista da outra janela que o aposento possuía, sita na parede que ficava à sua esquerda, ou mais precisamente do parzinho que nela se debruçava, trocando deliciosas impressões a respeito doa inumeráveis astros que povoam o Universo, com referência especial à Ursa Menor e à derradeira estrela da sua cauda, que semelhava um caprichoso pingo de prata a coroar os píncaros da colina fronteira.
Todavia, esta situação não durou muito. Em breve a turba protestava contra o isolamento do trio e obrigava-o a compenetrar-se em assuntos menos sisudos. Alberto, o moço enamorado, foi o que mais renitente se mostrou em abandonar a bucólica estadia à janela; e por isso se viu na pele de “vítima” da alegria dos animados companheiros.
O convite para se sentar num certo banco individual não foi recusado pelo já resignado rapaz; teve, porém, o cuidado de ocupar apenas uma das extremidades laterais, suficientemente afastado do centro côncavo previamente lubrificado com uma tinta condizente com a cor do banco.
As provas formais da louvável persistência dos improvisados “carrascos” não se fizeram demorar. Um comprido tabuleiro repleto de taças vazias foi colocado sobre os joelhos da “vítima”; e, uma por uma, foram sendo cheias por mãos diligentes, e com tal magistral exactidão que uma gota mais em qualquer delas a faria transbordar por todos os lados. Ao mesmo tempo o “gigante” Silvino dizia:
— Faz lá um favorzinho, amigo. Segura neste tabuleiro para nós fazermos o último brinde. Sabes, não queremos usar a mesa para não sujar a toalha. Mas…ó seus idiotas, então vocês puseram um dos panos que teremos de usar na festa, a forrar o tabuleiro? Não vêem que se lhe cai uma gota que seja, o pobre Alberto será obrigado a lavá-lo? Ora, que imbecis!
Com os pés firmemente assentes no soalho, Alberto evitara até então o menor derrame de líquido. Felizmente para ele, o seu sistema nervoso era a toda prova, permitindo-lhe imobilizar absolutamente as pernas, evitando-lhe, ao mesmo tempo, o contágio da alegria que pairava ao seu redor.
— Vá, então, bebam e vão para o diabo — aconselhou a “vítima”, diligenciando não perturbar a estabilidade dos membros inferiores.
— Que é lá isso? Calma! — recomendou o presidente. Já bebemos bastante. Deixa-nos primeiro digerir devidamente o que temos dentro.
Mas Alberto controlava com melhor êxito os nervos das suas pernas do que os seus “martirizadores” a própria paciência. Esgotada esta, Monteiro, um dos mais entusiasmados, resolveu apressar o acontecimento iminente e aguardado.
— Ó pá! Foge dal! — gritou ele, pleno de intenções maquiavélicas.
Olha que o banco está cheio de tinta!
Como, evidentemente, o aviso não surtisse o efeito desejado, disfarçou-se com o coroável intuito de salvar a indumentária do amigo e lançou a mão a um dos pés do banco, puxando-o para si. O resultado obtido elevou ao paroxismo o regozijo que já então imperava.
— Oh! Coitado! — lamentou Silvino, entre duas gargalhadas. Sempre é mais difícil limpar um soalho do que lavar um pano…
 Alberto, o “Pequeno”, apelido que derivava do facto de ser o “gigante” menos alto do Clube — possuía, precisamente, o mínimo de estatura exigido: 1,80 metros — pretendeu explicar ao anão “Monteiro” — o mais alto da sua categoria: 1,48 metros — quanto lhe desagradara a brincadeira, do que foi fácilmente dissuadido pelos outros. Mas o apaziguamento total só adveio com a permissão do presidente para que adiasse até ao dia seguinte a restauração que se impunha no soalho danificado.
O homem do rosto cadavérico ouvia e planeava…

Um… dois… três… quatro tiros brotaram da mão entrapada do homem de rosto cadavérico. Eficazmente perfurado, Alberto, o “pequeno”, largou o pano molhado que usara para limpar o chão, e caiu para trás, morto.
O homem fitou criticamente o corpo estirado, à sua frente. Por vezes, os lábios entreabriam-se-lhe para formularem uma casquinada inexpressiva. À sua retaguarda encontrava-se o famigerado banco que conhecemos, agora com a tinta já seca. E o assassino acomodou-se nele o melhor possível, continuando a dedicar a sua atenção ao corpo a que roubara a vida.
Não manteve por mais tempo a contemplação a que se entregara. Desceu do banco e aproximou -se de uma das janelas do aposento, que estava aberta, tal como a do prédio fronteiro havendo a separá-las uma distância de um metro, pouco mais ou menos. Meteu o pano e a arma no bolso, dirigiu um último olhar ao cadáver e mudou-se para o edifício vizinho, soltando uma gargalhada estridente… uma gargalhada de louco.

Depoimento do porteiro:
— Eu estava com um amigo, que é da Policia, sentado do lado de dentro de uma porta que dá para o estreito e extenso pátio que estende em recta entre este edifício e o vizinho. De súbito, estando a olhar distraidamente-para o solo do pátio, vi projectar-se nele uma sombra como se alguém tivesse passado do outro prédio para este. Quando quis certificar-me do que havia, já nada vi. Estavam algumas janelas abertas nos cinco andares de cada edifício, mas apenas no terceiro piso se viam janelas abertas que se defrontassem. Falei no caso ao meu amigo, tendo ele opinado tratar-se de impressão minha. Mas, pouco depois, nova sombra se recortava no pátio e, então, teve de modificar o seu parecer, pois desta vez também viu. Resolvemos ir saber o que se passava lá em cima e foi então que encontramos o corpo.

Depoimento de Vieira:
— Devido a ter-me deitado já de madrugada, por causa dos últimos preparativos para festa do aniversário do Clube, levantei-me bastante tarde. Seriam, talvez, 11.30. Pensei ir até ao ginásio que eu, o Silvino e o Salvaterra — ambos, também, sócios
do Clube — armámos num apartamento, cuja janela defronta uma das do salão nobre do Clube, mas desisti por me encontrar algo maçado. Fui a um café onde fiquei até às 12. Depois, passeei por São Lázaro cerca de 20 minutos. Gastei 10 minutos a ouvir um propagandista, findo o que regressei a casa, onde cheguei ás 13.15. Como vivo só e havia dado folga ao meu criado, preparei eu próprio uma pequena refeição à base de conservas. Às 14.10 saí e fui ver um jogo de futebol de reservas, onde encontrei um amigo. No final, passei por um café, dei umas voltas, sempre acompanhado pelo meu conhecido, e regressei a casa.

Depoimento de Silvino:
— Estive ausente do Porto desde manhã cedo até á noite, praticando campismo nos arredores. Não me afastei daquelas imediações. Naturalmente que a morte de Alberto me surpreende. No entanto, atribuo-a a ciúmes, pois, se as suspeitas se restringem a certos membros do Clube, devo dizer que, até lá, todos nos sentíamos mais eu menos apaixonados pela noive dele.

Depoimento de Salvaterra:
Quer por me sentir cansado, quer por não trabalhar ao sábado, não me levantei tão cedo como habitualmente. Cerca das 11 horas, entrei num café para tomar o “galão” do “regulamento”. Qual não foi a minha surpresa e satisfação ao ver numa mesa um casal que não via há vários anos e a quem me liga uma amizade indestrutível. Eles, igualmente satisfeitos, não me larguem senão depois das 15, após ter almoçado com eles. Telefonei à minha noiva para a convidar a sair, no que não fui feliz. Então, resolvi ir ao cinema para de seguida gastar as horas que me separavam do jantar num jogo de bilhares.
O polícia, amigo do porteiro, o amigo de Vieira e o casal das relações de Salvaterra, pessoas de probidade a toda prova confirmaram as declarações que lhes diziam respeito.
Pergunta-se:
Interpretando perfeitamente a lógica, o raciocínio e a dedução, quem acha o leitor que é o “homem de rosto cadavérico” e porquê?

6 de outubro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 280

Efemérides 6 de Outubro
Stanley Ellin (1916 - 1987)
Stanley Bernard Ellin nasce em Brooklyn, New York, EUA. É considerado como um escritor chave do pós guerra da narrativa policiária (ver TEMA). A obra do escritor foi distinguida com os prémios Edgar Award para Best Short Story em 1955, 1957 respectivamente com The House Party e The Blessington Method, e 1959 na categoria Best Novel com The Eighth Circle; em 1960, 1964 e 1969 é nomeado para a Best Short Story, respectivamente com The Day Of The Bullet,The Crime Of Ezechiele Coen e The Last Bottle In The World e também em 1969 é nomeado para o Edgar Best Novel com The Valentine Estate. Em 1974 recebe o Grand Prix de Littérature Policière com o romance Mirror, Mirror, On The Wall (1972). Stanley Ellin é presidente de Mystery Writers of America em 1969 e é laureado, em 1981, com o galardão máximo desta associação: o Grand Master Award. Em Portugal há apenas registo da edição do romance:
1 – A Chave Dourada (1955), Nº46 Colecção Xis, Editorial Minerva. Título Original: The Key to Nicholas Street (1952).


TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — STANLEY ELLIN, UM VENCEDOR
Por M. Constantino
Com a primeira novela em 1948, Dreadful Summit ou The Big Night, Elllin conquistou um lugar de vencedor entre os escritores. Caracterizado por um estilo sólido e fluente, por argumentos onde ressalta a substância e a imaginação criativa, enquadra-se com alguns voos poéticos na classe da literatura de psicologia criminal (crime psychology), a denúncia social, não isenta de golpess de horror ou fantasia. A intriga e a sublimação do “suspense” pertencem ao seu campo de acção. Ocasionalmente, como em Star Light, Star Bright (1979) ou The Dark Fantastic (1983) ou, ainda Very Old Money (1984) aparece o detective privado, da sua criação, John Milano. Não desdenha o enigma sem solução.
É especialista apreciado na novela curta e no conto. Imensos números dos seus escritos têm sido a cinematografia e séries de televisão. Um vencedor!

Stanley Ellin


TEMA — ESTUDOS DE ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA — SOLUÇÃO DO ENIGMA A MORTE DE UM TIRANO
Solução
A questão resume-se em conhecer qual o veneno que, ingerido no mesmo alimento (salada) pelo coelho e pelo homem, tem a propriedade de conceder a morte a um e a vida ao outro.
A sintomatologia verificada na morte do rei aponta-nos para um veneno à base de atropina (diminuição da acuidade visual, midríase, secura na boca dificuldade de deglutição - rigidez dos membros, delírio, coma…).
Não eram conhecidas naqueles tempos as ervas ou plantas que continham essa substância. Eram usadas em espécie, para os mais díspares exercícios de magia ou bruxaria, envenenamento, remédio, porque se ignorava a extracção da essência.
Entre tais sobressaía a mandrágora propriamente dita e a beladona, conhecida então por mandrágora do monte, por ter os efeitos daquela, mas muito mais fortes. Só que também existe entre elas mais uma analogia - ambas podem ser ingeridas pelo coelho sem prejuízo deste, sendo mortal para o homem; e uma diferença muito grande - a beladona é tolerada pelo coelho e não distinguível pelo homem (daí a razão de muitos envenenamentos por acidente), ao contrário da mandrágora, cujo sabor é amargo e tão mal cheirosa que se torna reconhecível por ambos.
A conclusão é lógica: envenenamento por beladona!
De resto, a própria bandeira - “coelhinho branco sobre um feixe de mandrágoras do monte” - contém a “chave” indirecta do problema.
Ao referir-se a mandrágora está a referir-se a beladona, nome aquele por que, repete-se, era conhecida a beladona = “Strychnos, mandrágora, erva-moura, furiosa e mortal".
Poderia indicar-se que o coelho, por instinto, comeu a alface e evitou a mandrágora. Correcto. Simplesmente, pelo sabor e cheiro desta, seria igualmente evitada pelo rei.


Continuando
Não poucas vezes o envenenamento é disfarçado pela medicação, tornando-se, nestes casos, muito mais difíceis de localizar.
Aqui fica um exemplo.


ENIGMA PRÁTICO — O CASO DA MORTE DO MAGNATA
Publicado em XYZ Policiário, não encontramos o nome do autor.

O Inspector Lopes foi chamado porque apareceu morto no seu quarto o grande magnata da indústria automóvel, Sir Henry Lane.
Em princípio, todos os ocupantes da casa atribuíram a causa da morte a um ataque cardíaco, pois Sir Henry sofria, já há alguns anos, do coração; contudo o meu chefe mandou-me averiguar e talvez confirmar…
Ao entrar fui recebido pelo sobrinho da vítima que me conduziu de imediato ao quarto do falecido. Este encontrava-se deitado na cama, sem qualquer marca de agressão, ou mesmo morte violenta. (Pelo menos, aparentemente, não se notava nada).
Sobre uma mesa-de-cabeceira via-se um frasco quase vazio que, segundo o rótulo, continha digitóxina; poderia ainda ver-se uma seringa e umas ampolas dentro de uma caixa, que me disseram ser para a gripe, para acalmar as altas temperaturas — o que pouco depois confirmei pelas indicações da caixa e das próprias ampolas; no entanto, a caixa encontrava-se intacta, ou seja com todas as suas ampolas… mas de qualquer maneira a seringa havia sido utilizada.
Resolvi-me interrogar todas as ocupantes da casa
Dora Lane — esposa da vítima — Sim, meu marido sofria do coração já há alguns anos; ainda anteontem se comprou o remédio que ele anda a tomar conforme receita do seu médico, que todos os dias lho ministra, exceptuando hoje, que telefonou por não poder comparecer, mas que meu sobrinho, que é um bom médico, lho poderia ministrar. Meu sobrinho, apesar de médico e de ser para nós como um filho, visto que nunca tivemos nenhum, nunca mais quis ser o médico do tio alegando que isso representava uma grande responsabilidade para ele e que o actual médico de meu marido também era um grande médico, pois até fora indicado por ele, e era na realidade uma pessoa competente para tratar de seu tio. E foi assim que meu sobrinho, hoje, perto das 22H00, foi ministrar os medicamentos a seu tio; levou da casa de banho os medicamentos habituais, ou seja a caixa das injecções para a gripe, uma caixa cheia, e ainda o remédio que comprámos ontem para o coração; levava também uma ampola que segundo ele afirmou era para a gripe e que tinha restado da caixa anterior.
Pelas 23H00 estava aqui a conversar com meu sobrinho e já prestes a ir deitar-me quando oiço a criada aos gritos. Fomos ver o que se passava e encontrámos o meu marido tal como está agora…
Criada - Pelas 22H00 o Sr. Artur foi ao quarto do patrão para lhe dar os remédios, pois eu vi-o ir pela escada acima para dar uma injecção no tio que se encontrava com gripe e bastante febre.
Na realidade, o Sr. Henry já ao jantar afirmara encontrar-se constipado e com febre, pelo que a seguir ao jantar resolveu ir logo deitar-se, deviam ser 21H00; ele estava um pouco pálido, mas nada fazia prever que viesse a ter um ataque logo depois de tomar os medicamentos, pois quando entrei pelas 23H00 e chamei pelo patrão para lhe perguntar se precisava de alguma coisa como faço todas as noites antes de me ir deitar, ele já estava morto, pois por não obter resposta ao meu chamamento entrei, aproximei-me e verifiquei que realmente estava morto.
Corri imediatamente a chamar a patroa e o sobrinho que estavam na sala a conversar.
Artur Lane — sobrinho da vítima — Sim, fui eu, hoje, pelas 22H00, que ministrei os remédios ao meu tio, mais propriamente a digitóxina, e dei-lhe também uma injecção, pois ele encontrava-se com muita febre; como tinha restado uma ampola da outra caixa, trouxe-lhe uma inteira que ficaria aqui para o caso de vir a ser precisa e ministrei-lhe a que restara da caixa anterior.
Ele ficou a descansar e eu desci e estava a conversar com a minha tia quando a criada apareceu aos gritos a dizer que o meu tio estava morto.
Informaram-me que os medicamentos estavam na casa de banho e aproveitei para dar uma vista de olhos… Lá estavam o mercúrio, a água oxigenada, o algodão, o álcool e ainda dois pequenos espaços que me informaram ser da digitóxina e das injecções e que se encontravam agora lá em cima… Depois pedi para saírem, pois tinha de fazer um teste, e logo que saíram debrucei-me sobre o caixote e pus-me a ver o que continha… Ligaduras que haviam sido usadas, um bocado de algodão que havia sido embebido em álcool e que continha ainda um vestígio de sangue, alguns pensos rápidos que também haviam sido usados, e ainda uma cápsula vazia onde pude ler noradrenalina e também a indicação 1,5mg.
Depois saí, já tinha uma ideia do que havia acontecido, e voltando-me para os três personagens atirei-lhes de chofre: “O Sr. Henry não morreu de ataque de coração, foi assassinado!
1 - Quem matou Henry Lane?
2 - Explique pormenorizadamente o que aconteceu!


TEMA — PEQUENO CONTO DE FICÇÃO CIENTÍFICA — O SOM
De Belém Vintém
Após um dia cansativo, e de tensão nervosa, a noite surgia sempre todas as noites, como monumento à solidão impedida diurnamente por colegas de rotina, caminhando, lado a lado na destruição comum.
Agora só, no quarto da sua casa de três divisões, daquele 10º andar, lá estava ele na cama encostado. À sua volta papel, pontas de feltro, dois livros, um transístor. No entanto nada fazia, pensava… sem noção do seu pensamento; não escrevia, não lia, não ouvia rádio. À medida que o tempo ia passando, e já eram três da matina, continuava sem conseguir descansar, embora fatigado, e cheio de sono, faria tudo menos dormir. Desde quando dormir num estado de espírito tão turbulento!? — Certamente que poderia escrever ou ler, como procurara fazer inicialmente, mas a preguiça, indiferença ou o que lhe queiram chamar, impedia-o.
A rádio ainda era o melhor! Lentamente esticou os braços que mantivera cruzados e com a mão direita apanhou o aparelho. Após ligá-lo, Veio a música, quer fosse jazz, rock ou blues não interessava; era música e, a esta hora, publicidade e piadas imbecis de locutores eram coisas que não existiam. Fechou a luz, para assim melhor passar o tempo…
Momentos depois, subitamente, um som emergiu da escuridão, ao mesmo tempo que a rádio deixara de se fazer ouvir; esta nova e mágica sensação auditiva encantava-o.
O som inicialmente fraco, ia a pouco e pouco aumentando a sua cadência e intensidade; encantado e surpreso primeiramente e, curioso depois, pôs os pés no chão e levantou-se. De onde viria o som?
— Parecia provir de todos os lados e, simultaneamente, de nenhum… Do quarto não era, foi a conclusão a que chegou; faltava a sala, a outra divisão e a cozinha. Da cozinha também não era… por fim faltava só a sala… Lá entrou; tudo lhe desapareceu já antes lhe parecera sentir-se nas nuvens e obcecantemente o som, o som, o som, só o SOM…
Parecia vir do que agora julgava ser, ou ter sido, a janela; tinha de abri-la, urgia, assim o fez… Então o som surgiu com toda a sua plenitude e, para seu maior espanto, à sua frente surgia aquilo que ele mais ambicionara em toda a sua vida… Lá estava, ali mesmo numa projecção, numa existência tridimensional — apenas alguns instantes à sua frente. Tentou apanhar, agarrar, o objecto desejado e caiu, vagueou no vácuo inexistente, perdido… Já não existia.