9 de março de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (1 - 1ª PARTE )

M. Constantino retoma hoje a colaboração regular com Policiário de Bolso com uma série dedicada a Sherlock Holmes: RECORDAÇÕES HOLMESIANAS.
No 1º fim-de-semana de cada mês, está prevista a publicação de textos inéditos e de contos ou pastiches que têm como figura central este famoso personagem criado por Conan Doyle.
 
 

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (1 — 1ª Parte)

1 – INTRODUÇÃO

O leitor que nos últimos anos se tenha debruçado, exclusivamente, sobre a leitura das modernas gerações da literatura policiária, seja qual for o tipo, isto é, clássica e enigma, que incita à utilização do raciocínio; da narrativa negra que apadrinha o recurso à força dos punhos, em oposição àquela, aos prodigiosos jogos psicológicos e suspense, personalizados por uma vasta gama de profissionais da investigação, amadores ou simples curiosos, adolescentes ou adultos, de ambos os sexos, pobres, abastados, professores, aristocratas ou ministros, ladrões sem classe ou mestres, de colarinho branco, etc. etc. Esse leitor vai julgar a prosa de Doyle, Sir Arthur Conan Doyle, por demais monótona e troçará desdenhosamente de Sherlock Holmes, o personagem de quem nos propomos falar.
Note-se, entretanto, que tal narrativa decorre há mais de cem anos!
Comparativamente aos meios de transporte significativos da época, era o coche movimentado à força animal e, actualmente, estão apoiados em máquinas que sulcam os mares, devoram os caminhos da terra, cruzam os ares, por vezes em velocidades que ultrapassam o som. Também Sherlock Holmes corresponde aos médicos de então: juntavam os sintomas A, mais B ou C para diagnosticar a provável doença.
Recorde-se que à época de Holmes a criminologia dava então os primeiros e curtos passos. Saber inventariar, recolher, com base na força da indução ou dedução — quais indícios — saber quais os que são dispensáveis e quais os que são vitais, não era tarefa ao alcance de qualquer mortal — ainda que de ficção — mas uma verdadeira ciência.


Fonte: Wikipedia

 Sherlock Holmes tornou-se notado a partir de Dezembro de 1887, A Study in Scarlet. A popularidade cresce com o decorrer da sua difusão e alcança o tecto da glória uma vez concluído o conjunto das suas histórias e em resultado delas. Hoje verdadeira bíblia publicada por todas as culturas mundiais. Nem o tempo, nem os homens deixaram esquecer o mítico Sherlock Holmes, ídolo e exemplo.
Os heróis são eternos. Os fãs reclamam a sua presença.
Os apócrifos, as imitações com forma de pastiches, sérios, bem escritas e sinceros bem como paródias de heterónimos, referenciam a sua importância, Criam-se clubes Sherlockianos de alto nível, A saga do mito é estudada e pacientemente explorada, nos seus erros, nas suas virtudes; escrevem-se biografias:


  
The Private Life of Sherlock Holmes, de Vicent Starrett, com base nas aventuras escritas por Doyle, Sherlock Holmes, A Biography of the World’s First Consulting Detective de W. S. Baring-Gould que envereda pela fantasia, chega aos antepassados do personagem, organizando uma cronologia das suas aventuras, e muitos outros nomes e grandes escritores.
 O teatro e posteriormente o cinema e a televisão contribuíram para dilatar o mito nos dois lados do Atlântico e até à Ásia, sobretudo o Japão.
A abundância de estudos e obras várias de ficção, são hoje o grande testemunho da sua imortalidade.



HOLMES, O PERFIL


Ilustração de Sidney Paget

Holmes era um homem alto, ultrapassava 1,80m e tão esguio que parecia ainda mais alto, Cabelos pretos, fronte alta, olhos cinzentos, vivos e penetrantes, nariz fino e em bico davam a expressão geral de ar alerta e decidido. Queixo quadrado e proeminente, grandes sobrancelhas negras, lábios finos e firmes, demostravam grande determinação. A voz era um tanto aguda, por vezes estridente e introspectiva. A sua pessoa e aparência, não deixavam de despertar a atenção de um observador mais indiferente. As mãos normalmente salpicadas de tinta e manchadas pelos produtos químicos, possuíam uma extraordinária delicadeza de tacto. Aparentava cerca de trinta anos.
Cientificamente o Professor Mortimer definiu-o como um homem viril, dotado de um crânio dolicocéfalo e grande desenvolvimento supra orbital.
Era, de facto, enérgico, activo, dotado de uma vitalidade e força fora do comum. Podia facilmente, como o demonstrou, endireitar um atiçador de ferro, que fora curvado, à força de músculo.
Tinha uma rigorosa proporção atlética. Se bem que não considerasse o esforço físico indispensável, se necessário, era capaz de desenvolvê-lo em extremo. Perito no jogo do pau, esgrima de armas brancas e bengala, boxe, dominava bem a misteriosa arte marcial denominada baritsu.
Sóbrio no regime alimentar e hábitos simples que se aproximavam da austeridade espartana que contribuíam para a sua boa forma física.
Por vezes, um cérebro sem coração, escasso em simpatia humana quanto notável pela inteligência, sabia ser comunicativo quando lhe dava na gana, e colher os frutos da confiança.
Um tanto petulante, presunçoso mesmo, sensível à lisonja e aos elogios feitos à sua arte, aponta-se a si próprio como o primeiro perito do Mundo no campo do raciocínio. Referindo-se a si, e citando Goethe, declara:
“Pena é que a Natureza tivesse feito de ti um só indivíduo, pois havia matéria para um homem digno e para um patife”.
Não se lhe negam, porém, dotes de humanidade: um vitoriano, gentleman, idealista, desejando ver melhoradas as condições dos que suportam as assimetrias da sociedade imperfeita.

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