31 de janeiro de 2013

2 - COLECÇÃO VAMPIRO

O MISTÉRIO DOS FÓSFOROS QUEIMADOS
(Maio 1947)

Clicar para aumentar


Autor: Ellery Queen
Pseudónimo de Daniel Nathan / Frederic Dannay (1905 - 1982) e Manford Emanuel Lepofsky / Manfred Bennington Lee (1905 - 1971)
Tradução: Wilson Velloso (Brasil)
Capa: Cândido Costa Pinto
Título Original: Halfway House
Data 1ª Edição: 1936
Género: Crime, Detective
Formato: Romance
Local: Trenton, New Jersey (EUA)
Método: Esfaqueamento
Personagem Principal: Ellery Queen (10ª aventura de E.Q.)


TEXTO DA CONTRACAPA DO Nº1 — “O PRÓXIMO VOLUME”
ELLERY QUEEN é, segundo a unânime opinião da crítica internacional, um émulo de Edgard (sic) Poe, de Conan Doyle e de Gilbert Chesterton. Como estes, é também o escritor na posse plena de um estilo admirável e de um espírito de lógica e equilíbrio que coloca os seus livros numa posição de evidência no âmbito da Literatura Policial. Há em cada um deles uma fonte perene de sentimentalismo e humanidade, como se em cada um deles Ellery Queen deixasse sempre um pouco da sua alma de poeta e da sua inteligência de criador de problemas da vida dos homens.
Em “O mistério dos fósforos queimados”, por exemplo, tudo se alia para transformar o facto vulgar de um acto criminoso num grande romance: a evidência que dá lugar ao mistério impenetrável, a duplicidade de personalidades da vítima, o surgir contínuo de suspeitas justificáveis que recaem sobre personalidades, digamos, tipicamente simpáticas e inocentes, tudo — a evidência, o mistério, a justificação fácil dos factos… — depende de uma coisa banal, de uns poucos de fósforos queimados que se encontram no local do crime. E, no meio de tudo isto, a beleza e a graça das mulheres, o amor a nascer entre ruínas de almas, o sacrifício, a bondade e o espírito compreensivo surgindo à superfície do grande mar das paixões humanas. É assim.


Para saber mais sobre O MISTÉRIO DOS FÓSFOROS QUEIMADOS
O website Ellery Queen (em inglês), apresenta Halfway House (Clicar) com interessantes imagens das capas publicadas um pouco por todo o mundo: México, Israel, China, Japão, Rússia etc.
Michael E. Grost, que considera O Mistério dos Fósforos Queimados um livro de nível médio, escreve no A Guide to Classic Mystery and Detection:
Os fãs da detecção pura vão apreciar este livro que na narrativa de detective segue a tradição de “dedução através de pistas”. É um livro com um fluxo contínuo de detecção e dedução, com realce especial para a investigação no cenário do crime. No entanto o resultado parece fraco quando comparado com os melhores trabalhos Ellery Queen. Não existe complexidade no enredo, nem esquemas de crimes ou de revelações finais. Alguma da lógica de Ellery Queen é interessante, especialmente o seu raciocínio ao concluir que um personagem está a dizer a verdade.

SOBRE A CAPA
A imagem dos fósforos já utilizados (indício marcante para a solução do mistério) remete para o título da edição em português. Por outro lado, a imagem da casa numa encruzilhada remete para o título original Halfway House que neste caso tem um duplo sentido: uma casa localizada a meio caminho — entre Nova Iorque e Filadélfia — e é uma casa de transição / mudança, dois pontos com um significado importante para o enredo do romance.

Ellery Queen no Policiário de Bolso:

Fontes:

30 de janeiro de 2013

1 - COLECÇÃO VAMPIRO

Nº 1 - POIROT DESVENDA O PASSADO
(Abril 1947)

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Autor: Agatha Christie (1890 – 1976)
Tradução: Edson Ferreira Santos*
Capa: Cândido Costa Pinto
Título Original: Five Little Pigs**
Título EUA: Murder in Retrospect
Data 1ª Edição: EUA Maio 1942 / Reino Unido - Janeiro 1943
Género: Crime, Detective
Formato: Romance
Local: Inglaterra
Método: Veneno
Personagem Principal: Hercule Poirot (24º mistério de Poirot)



* Edson Ferreira Santos aparece referido como Edison Ferreira Santos
** Os romances de Agatha Christie são frequentemente publicados em primeiro lugar nos EUA,  por vezes com um título diferente da edição britânica. O Título Original do Policiário de Bolso identifica o que é referido na Colecção Vampiro.


Sinopse:
Poirot investiga um crime que ocorreu há 16 anos: o envenenamento com cicuta de um pintor brilhante, Amyas Crale. Caroline, mulher de Amyas, é julgada e condenada por homicídio, acabando por morrer na prisão. Carla Lemarchand, filha de Caroline, ao atingir a maioridade, convencida da inocência da mãe, recorre a Poirot para investigar o passado, acreditando que o famoso detective “descobrirá o que realmente se passou”.


Para saber mais sobre POIROT DESVENDA O PASSADO
O título da edição inglesa FIVE LITTLE PIGS (os Cinco Porquinhos)
As rimas infantis estão presentes sob várias formas nos livros de Agatha Christie. Nos casos mais relevantes, as rimas ou canções infantis são indissociáveis da obra literária, porque funcionam como motor da trama policial, ou integram o próprio enredo, ou ajudam a desvendar o crime. A rima presente neste romance, Five Little Pigs é um jogo infantil para os cinco dedos da mão. Poirot ao conhecer um dos protagonistas compara-o a um porco bem alimentado e evoca a conhecida rima: este porquinho foi ao mercado. A rima permanece na mente de Poirot durante uma investigação que envolve precisamente cinco personagens.

This Little Pig
This little pig went to market;
This little pig stayed at home;
This little pig had roast beef;
And this little pig had none;
This little pig said “Wee, wee, wee!”;
I can't find my way home."
Este Porquinho
Este porquinho foi ao mercado;
Este porquinho ficou em casa;
Este porquinho comeu rosbife;
E este porquinho não comeu nada;
Este porquinho disse “Wee, wee, wee!”;
Não consigo encontrar o caminho para casa.

Agatha Christie dedicou Five Little Pigs a Stephen Glanville, historiador, especialista em egiptologia, amigo da escritora e do seu marido o arqueólogo Max Mallowan. Stephen Glanville (1900 – 1956) colaborou com o governo egípcio, em 1923 participou na expedição a El Amarna, capital do Antigo Egipto, em 1924 foi assistente do Museu Britânico. Regressa às escavações de El Amarna em 1925 e, três anos depois na cidade de Armant, próximo de Luxor ao sul do Egipto. Mais tarde foi professor na University College London e na University of Cambridge.


SOBRE A CAPA
Uma regra de ouro na elaboração das capas da Vampiro: “na capa não apareça qualquer indício que roube ao leitor o prazer do desenlace-surpresa”.
Nesta 1ª capa é possível ver uma paleta de pintor e uma pequena cruz, objectos relacionados com a vítima; o copo de bebida, em primeiro plano,  é um factor importante no envenenamento. (Logo após a leitura das primeiras páginas o leitor toma conhecimento de todos estes elementos).
Um olhar mais atento permite ainda descobrir três silhuetas femininas, uma delas nitidamente uma criança (com um papagaio de papel?) e que representam as 3 personagens deste mistério.



Fontes:
Site oficial da autora http://www.agathachristie.com/
Poirot (1991) de Anne Hart, Editora Pergaminho.
Os Cadernos Secretos de Agatha Christie (2010), John Currain, Edições Asa.

29 de janeiro de 2013

COLECÇÃO VAMPIRO - CAPAS




As primeiras 112 capas da Vampiro são da autoria de Cândido Costa Pinto, um artista plástico inexplicavelmente votado ao esquecimento, apesar da importância da sua obra e de ser considerado um dos maiores responsáveis pela inovação gráfica das décadas de 40 e 50.
Em 1995 a  Fundação Calouste Gulbenkian (Clicar) presta a devida homenagem a Cândido Costa Pinto com uma exposição no Centro de Arte Moderna da Centro de Arte Moderna, entre 20 de Julho e 30 de Setembro.
Em 2011, centenário do seu nascimento, a Universidade de Coimbra expõe algunss trabalhos e escreve sobre Cândido Costa Pinto:
A sua actividade engloba a caricatura, a decoração, o cartaz, o cinema, as artes gráficas, os selos, a pintura mural e a ilustração.
Durante o período de 1949 a 1972, Cândido Costa Pinto colaborou com os CTT inovando a linguagem gráfica da arte postal portuguesa. Como ensaísta, investigador e teórico das artes os seus artigos traduzem uma excelente reflexão crítica sobre a função da arte, do design e da comunicação.
Esta mostra evoca o seu trabalho enquanto artista gráfico como capista das colecções Vampiro, Vampiro Magazine, Argonauta e Vidas Célebres e como caricaturista e ilustrador em publicações como Sempre Fixe, Panorama, Vida Mundial Ilustrada, O Globo, Acção e Mundo Literário.
Citando Lima de Freitas “Para Cândido Costa Pinto, as capas coloridas e de pequeno formato dos enigmas policiais de Agatha Christie ou das aventuras interplanetárias de Isaac Asimov constituíram uma espécie de galeria permanente de pequenas criações plásticas aberta a milhares de pessoas”.


Dados Biográficos
Artista plástico português, Cândido Costa Pinto nasceu a 20 de Maio de 1911, na Figueira da Foz. Morreu em São Paulo, Brasil, em 28 de Março de 1976. Proveniente de uma família que se dedicava às artes decorativas, o artista obteve a sua primeira aprendizagem no atelier do seu pai, começando a pintar e a desenhar muito cedo. Esta aprendizagem precoce proporcionou lhe um grande domínio de execução o que lhe permitiu, mais tarde, dedicar se a múltiplas atividades. Inicia a sua carreira artística aos 12 anos, trabalhando na imprensa. Estuda no Liceu de Coimbra, onde em 1931, juntamente com outros companheiros, funda o grupo Divergentes, que se opõe efemeramente à revista Presença, orientada, também em Coimbra, por José Régio.
Em 1939 instala se em Lisboa e o seu pendor para o misticismo, iniciado pelo pensamento do escritor católico Joaquim Paço D'Arcos, é alimentado pelas leituras de Krishnamurti, que lhe inspirarão, em 1946, a conferência intitulada “O complexo conceptual”, onde ataca o que considera excessivo na tendência racionalista ocidental, que, para ele, ameaça dividir o ser humano.
A sua primeira exposição foi no Secretariado de Propaganda Nacional, em 1941. É o momento em que se aproxima do surrealismo, praticando uma pintura de execução meticulosa. O mais conhecido dos seus quadros surrealistas é Aurora Hiante (1942). A maioria das telas, entretanto, partindo embora de uma inspiração surrealista, termina entre o decorativo e um geometrismo que delimita a imaginação.
A sua atividade intensa abrange a caricatura, a decoração, o cartaz, o cinema, as artes gráficas, os selos, a pintura mural ou a ilustração.


Mais informação sobre Cândido Costa Pinto em: O Sítio dos Desenhos (Clicar)

Informação detalhada sobre as capas da Vampiro em: Malomil – Surreal Policial (Clicar)
        

28 de janeiro de 2013

COLECÇÃO VAMPIRO

A Colecção Vampiro — Os Mestres da Literatura Policial, mais conhecida por Vampiro de Bolso, surge em 1947. É uma das 30 colecções editadas pela Livros do Brasil e é reconhecida, com unanimidade e aclamação, como a colecção mais popular de literatura policiária.
O sucesso deste caso deve-se certamente a uma multiplicidade de factores. Para o prestígio da colecção, foi determinante a qualidade dos autores — muitos inéditos em Portugal — fruto de uma selecção criteriosa. Segundo Luís Miguel Queirós (Clicar) a popularidade da Vampiro também pode ser atribuída às capas “uma verdadeira pedrada no charco das artes gráficas nacionais.”, destacam-se as da autoria de Cândido Costa Pinto e de Lima de Freitas. O formato de bolso (105x160) e o seu impacto, não só no preço, mas na comodidade com que podiam ser transportados e lidos. A diversidade de locais onde os livros podiam ser adquiridos extravasa os escaparates das livrarias, os quiosques, bancas de caminho-de-ferro e camionagens, tabacarias, contribuiu certamente para facilitar a compra e agarrar novos leitores numa época em que as viagens eram longas e o quotidiano deslizava devagar. Cada livro oferecia nas últimas páginas “a condensação” do volume seguinte, um verdeiro presente envenenado que transcrevia pequenos trechos e terminava invariavelmente com perguntas “Mas afinal quem assassinou…? Porque o fez? Como se passou…?” aliciando desta forma o leitor para a compra de mais um livro. E como se isso não fosse suficiente exibia na contracapa sob o título “O Próximo Volume” mais um chamariz com dados sobre o autor ou sobre os protagonistas, chegando por vezes ao ponto de lançar um desafio irrecusável ao leitor: conseguir descobrir o mistério antes da personagem principal…
A Vampiro é um caso único de longevidade, com a publicação mensal regular durante décadas e tem 703 títulos publicados.
Em 2004, no Nº677 A Astúcia de Mr. Reeder de Edgar Wallace, a Colecção Vampiro altera o formato dos livros (115x185) e publica apenas mais 26 livros até 2007
No Nº703, o último título editado — Do Álbum de um Detective da autoria de Headon Hill — na Nota de Abertura é prometido que “a Colecção Vampiro passará a sair regularmente de dois em dois meses” o que infelizmente não viria a acontecer…

O Policiário de Bolso traz hoje aos leitores a promessa feita no início do ano — um olhar especial sobre a famigerada da Colecção Vampiro. A primeira etapa: Nº1 a Nº100!


Reportagem SIC - 2006

27 de janeiro de 2013

COLECÇÃO VAMPIRO DE BOLSO

Amanhã, 2ª feira, daremos início à COLECÇÃO VAMPIRO, o 1º projecto de 2013 do Policiário de Bolso.
Para abrir o apetite, é indispensável a leitura do excelente artigo de Luís Miguel Queirós, publicado na revista do jornal Público em 12 de Setembro de 2010.

25 de janeiro de 2013

BIBLIOTECA FICÇÃO CIENTÍFICA

  
TEMA — FICÇAO CIENTÍFICA — BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (74)
 
Volume 74 — The Moon is a Harsh Mistress (1967) de Robert A. Heinlein
(é o 4º volume do autor incluído na Biblioteca para ver o 1º volume e informações sobre o autor clicar AQUI, para o 2º e 3º volumes clicar AQUI)


A acção decorre na Lua, convertida num satélite-prisão do planeta Terra e onde vivem os delinquentes comuns e presos políticos com os filhos dos primeiros deportados. Estes últimos, nascidos na Lua, são livres por direito, ainda que submetidos a um regime de governo duro, pelo que se revoltam reclamando a autodeterminação e independência. Há um paralelismo entre a novela e a história real da U.S.A. em determinado período da sua existência, daí o interesse que a levou a receber o prémio HUGO.

Ficha Técnica
Revolta na Lua
Autor: Robert A. Heinlein
Tradução: Eurico da Fonseca
Ano da Edição: 1967
Editora: Livros do Brasil
Colecção: Argonauta Nº119-120



















24 de janeiro de 2013

CONTO — HY GARDNER

O CASO DO FALSIFICADOR DESCUIDADO

O condenado Nº 32146, a quem chamaremos Blinky para facilitar, só há pouco passou da enfermaria de doentes mentais na prisão para uma cela regular.
Tudo se prende com o motivo da sua detenção.
Blinky era conhecido como o Avô Moses dos falsificadores. Era tão meticuloso na cópia de uma nota que só o olhar de águia de um profissional experiente poderia distinguir o dinheiro feito por ele do dinheiro verdadeiro.
Durante muitos meses Blinky trabalhou no que julgava ser uma cópia exacta, para a posterior falsificação em série de uma nota de dez dólares.
Concluído o serviço, ele apreciou a sua obra de arte, comparou-a com o original auxiliado por uma forte lente  e resolveu experimentar passá-la, antes de se lançar na produção em série.
Em apenas duas horas, Blink foi preso.
— Eu desafio-o — vociferava ele, espumando diante do agente do tesouro, colocando lado a lado o original e a cópia — a indicar-me a diferença entre estas duas notas de dez.
— Não há diferença nenhuma, Blinky — concordou o homem.— E aí é que está o problema. Mas você cometeu um erro: a sua falsificação foi feita imitando uma nota falsa!

22 de janeiro de 2013

CONTO — FRANK DONOVAN

A ESPOSA PERFEITA

A palavra trabalho pôs-lhe um sorriso de desprezo nos lábios. Também ele trabalhava, mas o seu serviço era um pouco diferente dos empregos vulgares. Só trabalhava das quatro às seis da manhã. Tinha começado há um ano e admirava-se de não ter pensado nisso antes. Era tão simples que por vezes ficava assustado. A única coisa que tinha de fazer era atravessar o corredor de um dos grandes hotéis — nunca se o preocupava com os de segunda categoria — e experimentar as portas. Algumas encontravam-se fechadas. Com essas se preocupava. Mas outras estavam somente encostadas. Sempre se surpreendera com a percentagem de pessoas tão desleixadas a ponto de deixarem as portas abertas durante a noite. Quando um hóspede se recolhe, geralmente deixa as suas coisas da cómoda; uma pessoa em cada dez contraria esse hábito. Como era fácil agarrar os objectos da cómoda e sair com eles.
Tão simples como ele chamar-se Johnny.
Fazia, geralmente, uns duzentos ou trezentos dólares por noite, e sem correr nenhum risco. Por várias vezes ficara numa situação incómoda de ter de explicar ao hóspede do quarto que acordara, o que estava a fazer ali. Justificava-se sempre da mesma forma:
— Sou o detective da casa. Estou a verificar as portas que ficaram abertas. A gerência não se pode responsabilizar pelos objectos de valor, se os hóspedes não fecham as portas.
Os ocupantes desculpavam-se sempre, principalmente se estavam sós e prometiam de futuro fechar a porta.
Acabou de beber o café e pediu outra chávena. Instintivamente, meteu a mão no bolso onde se encontrava o roubo da noite. Tinha sido simples como sempre. Sorriu de leve quando se lembrou do casal do quarto que assaltara esta noite. As suas promessas de amor ainda lhe ecoavam nos ouvidos. Não o tinham dado por ele, na outra sala guardando tudo o que podia.
O relógio por detrás do balcão marcava seis horas. Mas não iria para casa antes das sete. Judy, a mulher, julgava-o a trabalhar no turno da noite de uma fábrica. Aquilo era divertido! Ele como alguém imbecil, a trabalhar numa fábrica.
E começou, novamente, a pensar em Judy. Estavam casados há apenas seis meses. Pensava no seu narizinho o, que se franzia quando sorria e no olhar lânguido que só transparecia amor quando olhava para ele.
Tinham passado a lua-de-mel em Palm Spring, no melhor hotel da cidade, e levado uma vida de reis durante quinze dias. A mulher censurara-o por ele ser tão extravagante, mas ele sabia que ela também gostava.
Ela imaginava-o superintendente de uma fábrica! Nunca perguntara onde trabalhava ou o que fazia — o que era um descanso. Não podia negar — Judy era uma esposa perfeita!
Lá fora o dia começava a clarear com o nascer do sol. Levantou-se, procurou uns trocos nos bolsos. Pensar em Judy tornara-o gastador e por isso deixou uma boa gorjeta
Foi andando até à esquina onde estacionara o carro e pôs o motor a trabalhar, esperando que aquecesse. Enquanto esperava, tirou do bolso a recolha daquela noite, para ver se era boa. Ali estava uma carteira com trezentos dólares, um par de botões de punho em ouro e uma aliança de mulher.
Suspendeu a respiração quando leu a inscrição na aliança: “Para Judy, com amor, Johnny”.

18 de janeiro de 2013

BIBLIOTECA FICÇÃO CIENTÍFICA

BIBLIOTECA ESSENCIAL DE FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA (72-73)

Volume 72 — Dangerous Visions (1967) de Harlan Ellison


Halan Jay Ellison, nasceu em 1934 em Cleveland, Ohio, onde realizou os seus estudos. Cedo saiu de casa para se juntar a um grupo de feirantes ambulantes, tendo sido posteriormente madeireiro, pescador, condutor de camionetas, cozinheiro, etc. até decidir escrever Ficção. Científica, cujo género revolucionou com aquele mesmo espírito de enfant terrible que o levou a fugir de casa. Manifestou-se como contista, modalidade na qual conquistou vários Prémios Hugo, Nebula, Locus e Júpiter, façanha difícil de igualar por qualquer outro escritor. Sendo o contista mais popular dos EUA, deve a fama inicial ao labor antológico, relevando Dangerous Visions, ao qual se seguem Again, Dangerous Visions (1972) e Medea Harlan’s World (1985).
Não sendo frequente que uma antologia se transforme num clássico indispensável, com esta obra preparada por Ellison sucedeu o contrário.

Dangerous Visions é uma obra composta por trinta e três contos procedidos de um prólogo notável, representa trinta e dois autores a quem foi recomendado que escrevessem livremente, sem tabus, sem reservas, qualquer espécie de relatos — ousados, renovadores, cruéis, etc. — de qualquer tema inédito, convictos de que nenhum editor de Ficção Científica os aceitaria. Tomaram parte na antologia escritores clássicos, autores marginais e desconhecidos e autores populares e já famosos. O resultado foi o triunfo de uma verdadeira revolução inspirada por Ellison; dois prémios Hugo e dois Nebula.
A experiência de Harlan Ellison criou um precedente, começando a partir daí a surgir antologias similares sem, contudo, atingirem o nível de Dangerous Visions.


Capa da 1ª edição. Fonte: Wikipedia



Volume 73 — Lord of Light (1967) de Roger Zelazny

(é o 2º livro do escritor incluído na Biblioteca, para ver informações sobre o autor e sobre o 1º volume clicar CALEIDOSCÓPIO 161



Lord of Light é uma novela na temática mitológica hindu, uma adaptação ao futuro das mitologias terrestres.
O tema dos deuses extraterrestres, tão tratado em Ficção Científica, tem aqui a mesma estrutura básica, desenvolvida porém, em versão própria. São deuses os primeiros colonizadores do planeta, os quais mantêm os mortais na mais profunda ignorância e barbárie com a alegação falta de preparação; são deuses a quem os mortais pagam generosas ofertas sob a promessa da possibilidade de reencarnarem na casta superior se se portarem bem.
Neste panorama, vamos conhecer um herói, um mortal que tem direito à divindade e a ela renuncia em favor da liberdade, e assistimos à sua revolta contra a odiosa situação de submetido.
Um livro excelente.

Ficha Técnica
O Senhor da Luz
Autor: Roger Zelazny
Tradução: Mª Helena Lopes Fernandes
Ano da Edição: 1986
Editora: Europa-América
Colecção: Livros de Bolso, Série Ficção Científica Nº106
Páginas: 193

17 de janeiro de 2013

CONTO — JULES RICHET

ASSASSINATO CRONOMETRADO

O plano de Herman Muller para matar o seu rico e velho tio Edgar Blitz estava completo em todos os detalhes. O relógio da Catedral bateu oito horas. Herman enfiou a faca de caça no cinto, abotoou o sobretudo e saiu sorrateiramente do apartamento.
Subiu ao telhado. Era um bloco formado por prédios de apartamentos contíguos, e por isso não teve qualquer dificuldade para chegar ao último edifício. Ali abriu uma porta. Desceu três andares e saiu para a rua. Ninguém o viu: havia muito nevoeiro.
A caminho do centro da cidade, olhou diversas vezes para o relógio de pulso. Eram agora oito e quatro minutos. Às oito e vinte chegaria à loja de Blitz.
Muller sabia que o crime tinha de ser cometido entre oito e vinte e oito e meia, dez minutos vitais, durante os quais não podia haver uma falha, não podia dar um passe em falso. O elemento mais importante de um crime perfeito é o cálculo exacto do tempo, e ele tinha planeado o seu com precisão Matemática. Exactamente às oito e meia Pop Hendrick, o guarda-nocturno, estaria no quinto andar a inspecionar os escritórios. A essa hora, Muller estaria a caminho de casa e o seu tio morto, com uma faca enterrada no pescoço.
Às oito e vinte Muller enfiou a chave no portão; deixara o carro no quarteirão seguinte. Uma luz brilhava no quinto andar. Era sexta-feira e Blitz estaria a assinar as folhas de pagamento. O cofre estaria certamente aberto, com os seus quinze mil dólares para serem distribuídos na manhã seguinte.
E lá foi Muller, sorrateiramente, no silêncio da noite, com um sorriso vitorioso nos lábios finos. Sua fisionomia apresentava traços duros e cruéis. Que grande emoção! Enterrar a faca no pescoço daquele velho rabugento e mal-humorado. Que satisfação iria ter! Via o velho tio a contorcer-se e a gritar, horrendo como um sapo.
O ódio de Muller datava do dia em que e velho Blitz o obrigara a trabalhar como simples operário, “para que começasse do princípio”. Mas havia um testamento e, quando Blitz morresse, toda a fortuna passaria para o sobrinho. Não! Não podia esperar mais! Queria dinheiro à vista, e agora!
A partir do terceiro andar, Muller redobrou os cuidados, procurando as sombras, parando várias vezes. Nada ouviu que denunciasse a presença do guardo. Mesmo porque Pop era míope e meio surdo.
Sem ser visto nem ouvido, Muller chegou ao quinto andar. Ali, colando-se à parede, foi, pé ante pé, até ao escritório do tio. Através do vidro da porta viu a silhueta do velho.
Olhou para o relógio. Eram oito e vinte e quatro. Tinha ainda seis minutos: tempo de sobra. Apoiou a mão enluvada na maçaneta da porta.
Edgar Blitz teve um sobressalto e levantou os olhos da sua mesa de trabalho. A surpresa, porém, transformou-se em raiva.
— Que é isto, Herman? Tu sabes bem que os empregados não podem entrar aqui depois, das seis!
Com a faca oculta nas costas, Muller avançou lentamente para a mesa. Os seus olhos escuros brilhavam cruelmente: um sorriso sinistro entreabria-lhe os lábios.
— Estava a passar… Vi luz na janela e resolvi entrar para pedir-lhe um aumento.
O rosto de Blitz ficou roxo.
— Então o senhor quer um aumento? O maior vagabundo do mundo! Que-ousadia! Eu devia era despedir-te
Muller deu mais um passo em frente. Podia atingi-lo agora. Os seus nervos enrijeceram, estendeu o braço. Pela primeira vez Blitz notou o estranho brilho dos seus olhos.
— Herman! — gritou, procurando levantar-se da cadeira. — Herman, que vais tu fazer?
A voz morreu-lhe na garganta e deixou escapar um gemido. O braço de Muller adiantara-se, enterrando a faca profundamente. Os olhos de Blitz saltaram das órbitas, com uma expressão de intenso pavor. O sangue começou a correr. O corpo contorceu-se horrivelmente. Finalmente, como um saco vazio, rebolou para o chão.
Muller estremeceu, teve um momento de hesitação. Agarrou a faca, embrulhou-a cuidadosamente num lenço e dirigiu-se ao cofre. Havia uma quantidade enorme de notas atadas com elásticos. Encheu os bolsos, lançou um olhar triunfante ao cadáver e apressou-se a sair.
Ao descer as escadas das traseiras, verificou que ainda tinha uns seis minutos. Pop Hendrick não estava por ali, mas às oito e meia completaria a ronda.
Deitou a faca, as luvas e o lenço para o esgoto e dirigiu-se para o carro no meio do nevoeiro.
Vinte minutos mais tarde, Muller estacionava o carro perto da sua casa e recomeçava o percurso pelo telhado. Estava: satisfeito: tudo correra bem. Uma vez no apartamento, guardaria as notas num lugar seguro. Poderia viver com os quinze mil dólares durante um ano, até receber a herança.
Muller meteu a chave na fechadura e entrou. Quando acendeu a luz, o sangue gelou nas suas veias. O seu rosto tornou-se subitamente lívido, apertou os lábios descorados contra os dentes. Um homem alto e forte estava à sua frente; um outro saiu de trás da porta e fechou-a. Mostraram os distintivos.
— Representamos a lei, Muller.
Muller engoliu em seco. Transpirava por todos os poros. Não conseguia articular uma só palavra.
— Onde estava às oito e meia, Muller? — perguntou o polícia.
Muller ficou com um olhar desvairado.
— Eu… Eu estava a dar uma volta.
O enorme detective resmungou.
— Que alibi, hem, Pete?
— Sim, este é o tal! Diga-me, Muller, onde escondeu a faca?
— Faca? Não vos compreendo.
— Agarre-o, Joe!
Duas mãos fortes agarraram Muller, que tentou escapulir-se.
Encontraram o dinheiro nos bolsos. Os detectives não pareciam surpreendidos. Em poucos segundos Muller estava algemado. Olhava para os dois com ar estúpido, sem compreender nada. Apanhado! Como podiam eles ter sabido?
— O que não consigo compreender, — disse Joe — é que um espertalhão como você tenha escolhido esta hora, oito e meia, para assassinar o tio. Não sabia que esta era a hora da visita do guarda do quinto andar? Não sabia que ele havia de ver e telefonar?
Muller recuou, cambaleando. A sua cabeça rodopiava. Oito e meia! Estavam loucos! Tinha acertado o seu relógio pelo da Catedral, naquela mesma noite, e estava sempre na hora. Todas as manhãs, quando ia para o trabalho, às sete e meia, acertava-o pelo enorme relógio da Catedral e nunca chegara atrasado!
Agora mesmo, olhando para a torre, viu que a, relógio marcava nove horas, coincidindo com a hora que acusava o seu próprio relógio!
O detective olhou na direção em que estava olhar Muller. Avançou e olhou para o relógio de Muller e em seguida virou os olhos para o seu próprio relógio. Sorriu.
— Há quanto tempo mora você aqui, Muller?
— Mudei-me na semana passada. Porquê?
— Estude bem e relógio da Catedral e compare-o com o seu, Muller!
Da janela do apartamento, Muller olhou para a torre gótica. Perdia-se no nevoeiro, mas os ponteiros eram perfeitamente visíveis. Cada minuto que passava parecia ganhar — ou seria o relógio de pulso que estava misteriosamente a perder — tempo.
Isso deu-lhe uma sensação da inutilidade de seus esforços, do inevitável da sentença…
Muito longe, ouviu a voz do detective….
— Pena é que não conhecesse o relógio da torre, Muller. Nunca está certo, a não ser quando marca as “meias horas”. O ponteiro dos minutos é tão grande e pesado que perde sempre cinco minutas na subida. Quando a movimento é para baixo, porém, com a gravidade e favor, o ponteiro move-se mais depressa e ganha o tempo perdido. Você acertou o seu relógio hoje às oito em ponto; estava, pois, atrasado de cinco minutos. Foi por isso que Pop Hendrick pode presenciar a morte de seu tio. Assassino!