1 de fevereiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 32

EFEMÉRIDES – Dia 1 de Fevereiro
Ribeiro de Carvalho (1952)
Data do nascimento em Torres Novas do policiarista Eduardo Filipe Ferreira Bento. Solucionista e produtor, que conquistaria um amplo horizonte. Contista de enormes qualidades é lembrado pelo seu anonimato voluntário. Em sede própria voltaremos a lembrar o autor.



H. C. Bailey (1878 – 1961)
Data do nascimento de Henry Christopher Bailey em Londres. É repórter do Daily Telegraph entre 1901 e 1946 e começa a escrever literatura histórica. Publica o primeiro romance policiário em 1930, Garstons (ou The Garston Murder Case), onde cria o personagem Joshua Clunk, também herói de The Red Castle (1931), um malandro e hipócrita, uma espécie de detective que chega a disfarçar-se de beata para atingir os seus fins. No entanto Reggie Fortune é o primeiro personagem que aparece no conto Call Mr Fortune (1920) e que dá origem a uma série e entra no romance Shadow on the Wall (1934) e continua em outros, alternando com Clunk. Reginald Fortune ou Reggie é baixo, gorducho louro e de olhos azuis, parece uma criança, mas é astuto e é o favorito do público, chegando a aparecer em dois volumes de contos por ano durante duas décadas.


Matthew Head(1907-1985)
Nasce John Edwin Canaday em Fort Scott, Kansas-EUA. Frequenta a universidade do Texas e serve no Marine Corps durante a 2ª Guerra. É professor universitário de História de Arte e publica vários livros sobre temas de arte sob o nome de John Canaday. Escreve o seu primeiro romance policiário The Smell of Money em 1943. Em 1945 com apresenta um personagem fixo, a Drª Mary Finney, que volta a aparecer numa série de romances. A acção de muitos dos livros de Matthew Head decorre em África em Brazaville, no Congo.
Bibliografia: The Smell of Money (1943), The Accomplice (1947) e Another Man's Life (1953); na série Drª. Mary Finney
: The Devil in the Bush (1945) The Cabinda Affair (1949), The Congo Venus (1950) e Murder at the Flea Club (1955).




Leonard Gribble (1908-1985)
Leonard Reginald Gribble nasce em Londres. Usa os pseudónimos de Bruce Sanders, Dexter Muir, James Gannett, Landon Grant, Lee Denver, Leo Grex, Louis Grey, Piers Marlowe e Sterry Browning. Pertence ao Press and Censorship Division do Ministério da Informação em Londres entre 1940 e 1945. Escritor imaginativo e prolífero escreve muitos policiários, mais de uma centena de romances e múltiplos contos curtos, espalhados pelas revistas da especialidade. Inicia-se em 1929 com The Case of the Marsden Rubies, o primeiro da série Anthony Slade e Departmento X2. Com o pseudónimo Leo Grex começa uma nova série com os protagonistas Paul Irving and Phil Sanderson: The Tragedy at Draythorpe Hutchinson (1931) e The Nightborn (1931).
Leonard Gribble é um dos membros fundadores da Crime Writers Association em 1953.



Colin Watson (1920 - 1983)
Nasce em Croydon, Surrey – Inglaterra. Escritor e jornalista, publica o primeiro romance em 1958. Cria vários personagens: Inspector Walter Purbright and Lucilla Teatime. É famoso pela série Flaxborough, um total de 13 títulos, alguns dos quais adaptados pela BBC, na série televisiva Murder Most English.
Bibliografia: Coffin, Scarcely Used (1958), Bump in the Night (1960), Hopjoy Was Here (1962), Lonelyheart 4122 (1967), Charity Ends at Home (1968), Flaxborough Chronicle (1969), The Flaxborough Crab (1969) também editado com o título Just What the Doctor Ordered, Broomsticks over Flaxborough (1972) também editado com o título Kissing Covens, The Naked Nuns (1975) também editado com o título Six Nuns and a Shotgun, One Man's Meat (1977) também editado com o título It Shouldn't Happen to a Dog, Blue Murder (1979), Plaster Sinners (1980), Whatever's Been Going on at Mumblesby? (1982).


CONTO — O MUNDO É UMA ESPERANÇA
Dissemos no início que Ribeiro de Carvalho era um contista de enormes qualidades, agora podemos acrescentar que nas várias categorias, porque o conto que transcrevemos, da sua autoria, é um conto de ficção científica de 1993 publicado na revista Célula Cinzenta, ainda que extenso é um bem a não perder.

Pese embora todos os esforços e verbas que governos e instituições privadas dedicaram à investigação, é certo que o vírus continuava a fazer vítimas a um ritmo alarmante. Dos laboratórios saíam regularmente vacinas, remédios, xaropes e outros tratamentos para combater o mal. Mas o vírus ia resistindo, modificava-se, criava novas formas e quando os cientistas esgotaram o alfabeto a baptizar as suas várias manifestações, passaram a utilizar nomes latinos tão do agrado da comunidade.
Bruxos, gurus, mães-santas, ervanários, hipnotizadores, iam fazendo fortunas com a cura do mal, mas o vírus continuava a alastrar. Alguns hospitais sentiam-se já impotentes para dar guarida e tratamento a todos os doentes que lhes apareciam e um sentimento de medo ia-se apossando progressivamente de todos os povos. Os governos apelavam à calma, aconselhavam o uso de preservativos, faziam grandes campanhas nos meios de comunicação. Mas nada resultava.
A primeira tentativa séria de pôr ordem na Sociedade, veio da Igreja Católica. O Papa publicou uma encíclica em que excomungava todos aqueles que tivessem relações sexuais extra-conjugais ou com pessoas do mesmo sexo. Era contra as leis de Deus e da natureza, dizia, e quem não cumprisse estas directivas arderia eternamente no Inferno. Do alto dos púlpitos, os padres ameaçavam os indignos com as penas mais pesadas que se pudessem imaginar e apelavam para que os verdadeiros católicos se lançassem numa nova Cruzada contra todos os seguidores de Satã. Começaram a surgir distúrbios nas casas nocturnas, incêndios, destruições, apedrejamentos. As prostitutas e homossexuais eram ferozmente perseguidos e a mais antiga profissão do mundo estava em vias de extinção.
Seitas político-religiosas, ultra-conservadoras, formaram-se rapidamente e espalharam-se por todo o mundo. Em Itália, os Filhos da Virtude, que preconizavam a abolição de todo o tipo de relações sexuais e a supressão dos toxicodependentes, ganharam as eleições nacionais com 53% dos votos. Na Índia, os Guerreiros da Inocência sofreram 60.000 baixas durante uma manifestação reprimida pelo governo. Durante os dois primeiros anos após o aparecimento da Encíclica, 27 partidos de cariz nitidamente racista assumiram o governo dos seus países, em eleições livres e democráticas.
O principal objectivo destes partidos tornou-se a eliminação de todas as formas de exploração e desejo sexual. Grandes estádios passaram a servir de campos de concentração onde prostitutas, homossexuais, artistas pomo, livreiros pouco escrupulosos, pintores de nus, se amontoavam até as autoridades definirem o seu destino que, normalmente, acabava em valas pouco fundas. Bibliotecas foram obrigadas a fechar. Estações de televisão proibidas de passarem qualquer programa que contivesse, explícita ou implicitamente, referência a sexo ou drogas. A maioria acabou por encerrar. Foi generalizado o uso obrigatório de véus e saias para as mulheres e túnicas para os homens. Naturalmente, a investigação sobre o vírus, sofreu fortes retrocessos até que estabilizou num nível mínimo.
Movimentos de resistência apareciam e desapareciam mas, embora com grandes perdas, iam consolidando e profissionalizando as suas acções. Os principais alvos que, no princípio, tinham sido os Santuários da Moral, depressa passaram a ser as figuras político-religiosas. De entre todos, sobressaiu o movimento conhecido da Esperança que, nascendo em França, se espalharam rapidamente por toda a Europa e depois pelo resto do mundo, tornando-se um verdadeiro exército internacional.
As medidas tomadas pelos vários governos, porém, eram ainda insuficientes. O vírus continuava a espalhar-se e a aterrorizar as populações. As percas sofridas pelo C.P.S., Confederação dos Povos do Senhor, formada por todos os países Defensores da Virtude, corresponderam a 10% do total da população, nos primeiros quinze anos da Confederação; esta percentagem era nitidamente inferior às dos restantes países onde, durante o mesmo período, a percentagem de mortos em virtude do vírus foi de 27%. A apresentação destes números, acompanhada por uma campanha de propaganda devidamente elaborada, levou à tomada de poder pelos partidos irmãos da C.P.S. com o apoio de parte significativa da população.
As várias agências e organizações humanitárias que tiveram a sua missão dificultadas, foram dissolvidas. Os membros da Organização Mundial de Saúde, da Cruz Vermelha, do Crescente Vermelho e de todas as outras, foram perseguidos e presos, considerando-se que todos se tinham mostrado incapazes e Inimigos da Fé. O edifício da ONU, em Nova Iorque, foi implodido dando assim origem ao fim do Mundo Velho e ao nascimento da Nova Ordem.
Mas ninguém conseguia eliminar o vírus e embora os Guerrilheiros da Esperança sofressem baixas altíssimas, as suas forças eram, ainda que lentamente ao princípio, rapidamente substituídas por elementos da população. Calcula-se que em 25 anos as suas baixas, motivadas pelo vírus, foram da ordem dos 47%.
Apesar disso, as suas acções tornavam-se cada vez mais significativas. Assaltos a depósitos de armamento, destruições de templos, libertação de crianças dos Orfanatos de Deus, libertação de áreas geográficas e organização das populações. Nesta altura, a estratégia definida pelo Alto Comando dos GEs passava pela consolidação do movimento em áreas significativas. Lembre-se, no entanto, que um dos feitos mais espectaculares durante esse período, foi o assalto ao estádio do Maracanã, de onde libertaram 40.000 prisioneiros.
O aparecimento dos Territórios Livres agravou os problemas internos dentro da CPS. Com uma população a reduzir-se significativamente, em virtude das mortes causadas pelo vírus e, principalmente, por deserção, a CPS viu-se subitamente com grandes cidades abandonadas, vias de comunicação destruídas, fábricas fechadas, insurreições armadas. Culpando os Adoradores do Vírus pelo estado caótico da economia, o Comando Militar dos Anjos decidiu bombardear os territórios livres com armas químicas, de neutrões, de protões, com tudo o que ainda havia nos seus arsenais e estava operacional.
Quando ELES chegaram, verificaram que tinha havido um pequeno erro de cálculo. O computador da nave informava ainda 27.324 humanos em todo o planeta.
Não se importaram. Tinham passado duzentos anos desde que inocularam o vírus nos duzentos humanos. Podiam esperar outro tanto.

Sem comentários:

Enviar um comentário