1 de fevereiro de 2012

AINDA SETE DE ESPADAS

Como já se disse, Sete de Espadas iniciou-se no enigma policiário no princípio da década de 40, talvez mais propriamente no ano de 1944 ou 1945. De qualquer modo desde logo se destacou, com vivacidade invulgar, na defesa da literatura de mistério e emoção. Daí que ao aparecer no mercado nacional a publicação brasileira Policial em Revista, fizesse chegar a sua escrita de letra garrafal ao Brasil.
Em 1946 o redactor da referida revista, assinala a publicação de uma das suas críticas, que publica do seguinte modo:


Veio-nos de Portugal, há algum tempo, uma colaboração de Manuel José Lattas, residente em Agualva-Cacém. Se tem boa memória devem lembrar daquele bem feito trabalho intitulado Chesterton ou Wallace? Que deu início em nossas colunas a uma polémica do nosso colaborador A.B.. Hoje inserimos novo trabalho do Amigo Português.


VANTAGENS DA LITERATURA DE FICÇÃO
De Manuel José Lattas
Procurando bons autores, cujas traduções são bem cuidadas, eu posso encontrar entre as suas personagens todos tipos do dia a dia da vida, verdadeiramente retratados, absolutamente reais e ligados por aquele fio que assenta em bases de pura dedução lógica e me encaminham para a resolução final de um problema que me atai e seduz.
Lendo-os eu encarno um a um, todas as suas personagens e posso sentir amor, paixão, desilusão ódio, ciúme cinismo abnegação, justiça e toda a gama de sentimentos que nós mortais temos cá dentro, calcados bem no fundo do nosso íntimo, mais ou menos em estado latente.
Além do magnífico e salutar exercício cerebral, eu vou encontrar sempre nas páginas da literatura policial, uma figura que me domina e que me prende, quer esteja incarnada num inspector de polícia, num advogado ou num detective particular, mas que é, acima de tudo, um magnífico paladino da justiça e da moral, cumpridor da lei, que a lei é muitas vezes sofisma e um lutador enérgico contra o Universo cheio de mentiras idealista e onde o mal impera.
Confesso que leio livros policiais e isso não me assusta nem me diminui. A crescente expansão do romance policial trouxe as suas obrigações e deveres; um vastíssimo público, composto de homens das leis e de ciência, de médicos, de engenheiros e de toda a espécie de especialistas não podia deixar de ser observante e exigente; e para satisfazer este Argos de olhos inexoráveis tornou-se necessário um extremo cuidado na construção e apresentação da história. Um erro ou deslize podia deitar abaixo ou invalidar a solução. Cada nova conquista da ciência criou responsabilidades novas. A história policial manobra hoje todos os lados da ciência, da arte e da lei.
E por tudo isto e pelo muito que fica por dizer, eu não tenho medo de me confessar um defensor da literatura policial, que já não faz encolher desdenhosamente os ombros senão a uma meia dúzia de senhores muito sérios e superiores a estas coisas, tudo o que seja realmente vivo e do nosso tempo.
Entre os mestres do género, sem margem para discussão, está colocada a criadora da figura extraordinária do detective amador Sir Edward Palliser morador no nº 9 de Queen Anne’s Close, um beco sem saída — Agatha Christie!
Prefiro, porém, Oppenheim!
Mais romancista! Os seus livros são sempre histórias bem delineadas e bem dosadas. Ele não tem necessidade de forçar; não procura as histórias de rabo torcido e também não tem necessidade de puxar muitos cordelinhos para a movimentação das suas personagens. Ali tudo é natural e lógico. Nada de aventuras rocambolescas, nem plataformas especiais.
Simples! Humano! Leal!

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