EFEMÉRIDES – Dia 26 de Fevereiro
Jack Ritchie (1922 – 1983)
John George Reitci nasce em Milwaukee, Wisconsin, EUA. Alista-se no exército americano na 2ª guerra mundial e é colocado nas ilhas Kwajalein no Pacifico Central. É aqui que descobre a ficção policiária. Regressa a casa no final da guerra e como não quer dedicar-se à profissão de alfaiate como o pai, decide viver da escrita de contos. Vê o seu primeiro trabalho Always The Season, publicado em 1953 no New York Daily News. Nas três décadas seguintes contribui com centenas de short stories para revistas especializadas em ficção: Alfred Hitchock's Mystery Magazine, Ellery Queen's Mystery Magazine e Manhunt. Com várias adaptações ao grande e ao pequeno ecrã, os contos de Jack Richie abarcam uma diversidade de géneros: mistério, suspense, thriller, quarto fechado, vampiros etc. São escritos com o mínimo de palavras, mas os personagens são bem caracterizados como Henry Turnbuckle, um detective idiossincrático ou o vampiro, detective particular, chamado Cardula, anagrama de Dracula. Jack Ritchie recebe um Edgar Award para best short story em 1982 com The Absence of Emily. O seu único romance Tiger Island é publicado postumamente em 1987.
Gabrielle Lord (1946)
Gabrielle Craig Lord nasce em Sydney, Austrália. Especialista em literatura vitoriana, é considerada a rainha do crime no seu país. Começa a escrever aos 30 anos, em especial na área do chamado thriller psicológico cria as séries Gemma Lincoln, Jack McCain e Conspiracy 365. Esta última é destinada à juventude e desdobra-se em 13 volumes, 12 com o nome de cada um dos meses do ano e um último com o título Revenge (2011). A editora Contraponto tem vindo a publicar esta série da escritora.
Em 2002 Gabrielle Lord recebe um Ned Kelly Award para a Best Crime Novel., prémio atribuído pela Crime Writers Association of Australia e em 2003 é distinguida com o Davitt Award, a melhor escritora de crime australiana, por Baby Did a Bad Bad Thing.
Elizabeth George (1949)
Susan Elizabeth George nasce em Warren, Ohio, EUA. É uma autora de romances policiários, enquadrados na categoria de suspense psicológico. O seu primeiro livro A Great Deliverance (1988) recebe o é triplamente premiado: com o Anthony Award, e com o Agatha Award para Best First Novel nos EUA e com o Grand Prix de Littérature Policière em França. O livro Well-Schooled in Murder (1990) é galardoado com o prestigioso prémio alemão MIMI 1990. Cria o Inspector Thomas Lynley da Scotland Yard e a Sargento Detective Barbara Havers. A BBC adaptou à televisão a série The Inspector Lynley Mysteries. Elizabeth George é uma escritora reconhecida internacionalmente e as suas obras têm sido também publicadas em Portugal. O Policiário de Bolso voltará a esta autora.
TEMA — LITERATURA POLICIÁRIA – TESTEMUNHO
COMO VI O ROMANCE POLICIÁRIO
Assinado por J. Sousa, que pertenceu ou pertencia à PJ este texto chegou até nós através do saudoso colega Inspector Saldanha, entre os documentos com vista a um Manual Policial, jamais concluído.
M. Constantino
Ao abraçar a carreira policial, intuitivamente, devorei alguns romances ou novelas policiais, convencido de que, na vida real, as ciências criminais, as técnicas e tácticas de investigação ali explanadas seriam um manancial de conhecimentos quase infalíveis ou, pelo menos, um frutuoso contributo na investigação criminal. A breve trecho, porém, veio o desencanto, a desilusão! Com efeito, na minha então débil inteligência crítica e instintiva, como diria Fernando Pessoa, entendi que o romance policial me apontava falhas, já que o enredo não correspondia sequer a uma especulação da realidade. Também é certo que, então, nem sempre cuidei na escolha e, daí, que os romances a que tive acesso, normalmente os mais económicos, me parecessem despidos de interesse, quer no tocante à sua estrutura: espaço, tempo, personagens e acção; tudo uma série de actos previamente estudados onde o crime e a investigação se confundiam com o acidente ocasional; quer mesmo quanto à parte específica da literatura que, para mim, muito deixava a desejar, resultando quase todos eles em história folhetinesca ou vulgar literatura de cordel. Por outro lado, ainda na minha óptica de então, o “investigador particular”, o “detective” — o herói de história — partia para a decifração dos enigmas com uma tal visão superadora, mesmo irreverente para com as instituições, que deixava o pobre polícia da lei amesquinhado e boquiaberto: de um mero indício arranjava prova irrefutável; as testemunhas surgiam abundantes e espontâneas; as portas abriam-se para as mais incríveis diligências; e, finalmente, o suspeito era de imediato identificado e localizado. Dadas as conclusões evidentes, logo este se confessava culpado. Enfim um happy end. Dessa maneira, como já se referiu, nasceu a desmotivação e as horas de lazer foram orientadas noutros sentidos. De realçar, todavia, que de tudo quanto se leu, depois de sedimentado ou até esquecido, algo permaneceu no subconsciente que, em tempo oportuno, frutificou não só do ponto de vista cultural como também no campo profissional. E tanto assim é que, mais tarde, quando a prole adrede me ofereceu, em festas de ano, alguns romances policiais, houve como que uma “refontalizacão”, um voltar à fonte, ao princípio, mas, desta vez, foi à luz de um espírito mais amadurecido que se fez a sua leitura.
Então, sim, os romances policiais seduziram-me como a outros milhões de leitores. Em face do exposto, esta singular introdução que compilei, aliás pouco lisonjeira ou quiçá incoerente, não pretende, como é óbvio, minimizar o romance ou a novela policial, mas, pelo contrário, estimular a sua leitura, alertando contudo os novéis leitores para as falhas e reacções apontadas, tendo em conta que tais romances fomentam o mito policial e favorecem a confusão entre o imaginário e o real, bem como ainda será uma chamada de atenção para o que já alguém referiu: “a novela policial impõe-se, desde que se cuide de dois factores; por um lado, da determinação da inteligência do investigador; por outro, da determinação psicológica do criminoso”.