10 de agosto de 2013

RECORDAÇÕES HOLMESIANAS


RECORDAÇÕES HOLMESIANAS (6 - 2ª PARTE - CONCLUSÃO)
PASTICHE / PARÓDIA — O INTÉRPRETE GREGO
(CONCLUSÃO)
 
Um conto de Sir Arthur Conan Doyle reescrito por W. S. Baring-Gould, autor de Sherlock Holmes of Baker Street, numa versão de M. Constantino.
 
 
 
Sherlock olhou para o irmão e perguntou:
— Algumas pistas? Mycroft pegou no Daily News que estava em cima da mesa ao lado.
“Quem puder fornecer informações sobre o paradeiro de um cavalheiro grego de nome Paul Karatidesuú, de Atenas, que não sabe falar inglês, será recompensado” — leu — Uma recompensa semelhante será extensível a quem nos puder informar acerca de uma senhora chamada Sophy X 2473”. Pus isto em todos os jornais diários mas ninguém respondeu.
Vais investigar este caso, Sherlock?
— Com certeza — disse Sherlock Holmes, levantando-se da cadeira. — Entretanto, Sr. Melas, no seu lugar, manter-me-ia alerta porque eles devem saber, por estes anúncios, que o senhor os denunciou.
De volta à Baker Street, Holmes subiu as escadas e, quando abriu a porta da sala, ficou surpreendido. Olhei por cima do seu ombro, também eu fiquei surpreso Mycroft Holmes estava a fumar, sentado num cadeirão.
— Entra Sherlock! Entre Sr. Watson! — exclamou — Não esperavas tanta energia da minha parte, pois não Sherlock? Mas, não sei porquê, este caso atrai-me particularmente.
— Como é que chegaste aqui?
— Passei por vocês num cabriolé.
— Houve mais alguma novidade?
— Mal tinham saído quando recebi uma resposta ao meu anúncio.
— E em que consiste?
Mycroft tirou do bolso uma folha de papel.
— Vejam vocês mesmos. Aqui está, escrito com uma caneta de aparo em papel real de cor creme…
— … por um homem de meia-idade…
— … com uma constituição frágil. “Caro Senhor — diz ele — em resposta ao seu anúncio de hoje, permita-me informá-lo que conheço muito bem a jovem senhora a que se refere. Se tiver oportunidade de me vir ver, poder-lhe-ei dar algumas informações relacionadas com a sua triste história, Está a viver, presentemente, numa casa chamada The Myrtles, em Beckenham. Atenciosamente, J. Davenport”. Ele escreve de Lower Brixton. Não achas, Sherlock, que poderíamos ir até lá agora e ficar a saber mais pormenores?
— Meu caro Mycroft, a vida do irmão é mais importante do que a história da irmã. Creio que deveríamos entrar em contacto com o inspector Gregson da Scotland Yard e irmos directamente para Beckenham.
— E melhor irmos buscar, de caminho, o Sr. Melas — sugeriu Watson. — Poderemos precisar de um intérprete.
— Óptimo, Watson! — disse Sherlock Holmes. — O rapaz que vá à procura de um fiacre e sairemos já. — Abriu então a gaveta da mesa enquanto falava, e Watson reparou que tinha retirado não a pistola especial, que ele usava para a prática de tiro ao alvo, mas um Webley.  — Sim, — disse em resposta ao olhar de Watson. — De acordo com tudo o que ouvi, acredito que estamos a lidar com um bando particularmente perigoso.
Tinha quase escurecido quando chegámos à Pall Mall e aos aposentos do Sr. Melas. Contudo, um cavalheiro tinha necessitado dos seus serviços e ele acabara de sair.
— Pode dizer-me para onde? — perguntou Mycroft Holmes à senhoria.
— Não faço ideia, caro senhor. Só sei que ele seguiu com esse tal cavalheiro numa carruagem.
— Vamos, Mycroft! — gritou Sherlock Holmes, abruptamente. — O caso está a tornar-se sério!
Passou-se mais de uma hora até que pudessem falar com o inspector Gregson para resolverem as formalidades legais que lhes permitissem entrar na casa. Era um quarto para as dez quando chegaram à London Bridge, e dez e meia quando desceram até à plataforma do comboio para Beckenham. Com Sherlock Holmes ainda furioso devido às formalidades, viajaram durante meia hora até The Myrtles, uma enorme casa sombria, desviada da estrada, no interior de uma propriedade. 
 Os nossos pássaros levantaram voo e o ninho já está vazio — resmungou Sherlock Holmes para Gregson.
— Porque diz isso?
— Olhe para o chão da entrada, Gregson. Uma carruagem carregada de bagagens passou por aqui nem há uma hora.
— Eu vejo as marcas das rodas à luz do candeeiro que está junto ao portão — concordou Gregson. — Mas como é que o senhor descobriu que havia bagagem?
— Deveria ter observado as mesmas marcas de rodas dirigindo-se em sentido contrário — explicou Mycroft Holmes. — Estas eram muito mais profundas. De tal modo que poderemos dizer com toda a certeza que havia bastante peso na carruagem.
— O seu raciocínio ultrapassa-me um pouco — disse o inspector, encolhendo os ombros. Bateu com força na aldraba e puxou pela sineta, mas sem obter qualquer resposta. Holmes tinha desaparecido, mas voltou logo daí a alguns minutos.
— Consegui abrir uma janela disse ele.
— Felizmente, Sr. Holmes, está do lado da lei e não contra ela —  observou Gregson, ao reparar na maneira hábil com que o detetive forçara o fecho. — Bem, parece-me que, dadas as circunstâncias, poderemos muito bem entrar.
Um após outro, lá entraram todos na enorme divisão, com alguma dificuldade para a corpulência de Mycroft. Silenciaram. Um gemido muito abafado vinha algures do andar de cima. Holmes. Apressou-se a subir as escadas com Watson e Gregson atrás dele, enquanto Mycroft os seguia, tão rápido quanto o seu corpo volumoso lhe permitia.
Viram-se diante de três portas no primeiro andar, e era da porta central que esses ruídos sinistros pareciam emanar. A porta estava trancada mas a chave estava no lado de fora. Holmes abriu a porta de par em par e precipitou-se para o interior da divisão, mas saiu logo em seguida com as mãos na garganta.
— É carvão! — gritou ele. Esperem até o fumo se ter dissipado mais.
Ao olharem para dentro puderam vislumbrar duas figuras agachadas junto a parede. Apressadamente pegaram nos homens intoxicados e arrastaram-nos até ao patamar. Um era o intérprete grego, o outro um jovem alto no último estado de fraqueza. Um olhar foi suficiente para revelar a Watson que, para o homem alto, a ajuda chegara tarde de mais. O Sr. Melas, no entanto, ainda estava vivo e, em menos de uma hora, com a ajuda de brandy e amoníaco, tiveram a satisfação de o ver abrir os olhos.
Ao comunicar com o cavalheiro que respondera ao anúncio de Mycroft Holmes, Sherlock em breve veio a saber que a infeliz jovem senhora provinha de uma família grega muito rica. De visita a uns amigos em Inglaterra, conhecera um jovem chamado Harold Latimer, que, aparentemente, a persuadira a fugir com ele. Os amigos dela, chocados informaram o irmão que Sophy tinha em Atenas. Imprudentemente, ao chegar a Inglaterra, o irmão acabara por ficar à mercê de Latimer e do seu associado, cujo nome era Wilson Kemp, um homem com antecedentes criminosos. Estes dois tinham-no mantido prisioneiro, e tinham tentado através de certas crueldades e da fome, que ele lhes legasse a propriedade. Tinham-no mantido nessa casa sem que a rapariga soubesse de nada, e com ligaduras de gesso no rosto, para evitar que ela o reconhecesse, se por acaso o visse.
Meses mais tarde, um curioso recorte de jornal chegou ate Holmes, vindo de Budapeste. Relatava como dois ingleses, que viajavam com uma mulher, tinham encontrado um fim trágico. Tinham sido esfaqueados, e a Policia húngara era da opinião que tinham discutido um com o outro e se tinham esfaqueado mutuamente.
Sherlock Holmes, no entanto, tinha uma opinião diferente.
— Se alguém conseguisse encontrar essa rapariga grega… — dissera ele a Watson. — Talvez pudéssemos saber de que modo alguém se poderia ter vingado de todos os prejuízos, causados a ela e ao irmão. E como seria que Wilson Kemp se associou a Latimer? Creio que por detrás de todos esses crimes existe uma outra mão.
— A do Professor James Moriarty? — perguntou Watson com voz baixa. — A do próprio Napoleão do crime Watson — disse Holmes, acenando afirmativamente com a cabeça. — Mas já o disse antes e volto a dizê-lo.
O nosso dia irá chegar!

 

 

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