24 de dezembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 359

Efemérides 24 de Dezembro
James Hadley Chase (1906 – 1985)
René Lodge Brabazon Raymond nasce em Ealing, Londres, Inglaterra. Fortemente influenciado por autores policiários norte-americanos tentar a escrita deste género, sob o pseudónimo James Hadley Chase. O primeiro livro que publica em 1939, No Orchids For Miss Blandish é um sucesso literário, mais tarde adaptado ao teatro e ao cinema. No total escreve cerca de 80 romances, passados nos Estados Unidos da America, que Chase apenas visita duas vezes — New Orleães e Florida. Os seus livros estão recheados de intriga, chantagem e histórias de crimes e espionagem e os seus personagens incluem o ex commando Top Corrigan, Vic Malloy um detective privado californiano, Mark Girland um ex-agente da C.I.A., e o milionário Don Miclem. ~
Chase que usa também os pseudónimos Ambrose Grant, James L. Docherty, e Raymond Marshall. O autor tem diversas obras editadas em Portugal:
1 – A Carne Da Orquídea (1954), Nº38 Colecção Escaravelho de Ouro, Editorial Édipo. Título Original: The Flesh Of The Orchid (1954).
2 – Apenas Por Dinheiro (1970), Colecção Clube do Crime, Editora Parilex. Título Original: Strictly For Cash (1954).
3 – O Ponto Fraco (1971), Nº57 Colecção Clube do Crime, Editora Parilex. Título Original: The Soft Center (1954).
4 – Uma Questão De Tempo (1972), Nº8 Colecção Círculo Negro, Editora Bertrand. Título Original: Just A Matter Of Time (1972).
5 – Queres Continuar Vivo (1973), Nº14 Colecção Círculo Negro, Editora Bertrand. Título Original: Want To Stay Alive (1971). Reeditado em 1983, Nº13 Colecção Álibi, Edições 70.
6 – Um Milhão Em Jogo (1973), Nº18 Colecção Círculo Negro, Editora Bertrand. Título Original: You're Dead Without Money (1972).
7 – Mudar De Ambiente (1974), Nº26 Colecção Círculo Negro, Editora Bertrand. Título Original: Have A Change Of Scene (1973).
8 – Desafio À Mafia (1974), Nº32 Colecção Círculo Negro, Editora Bertrand. Título Original: Knock, Knock Who's There? (1973).
9 – Não Mandem Orquídeas A Miss Blandish (1983), Nº4 Colecção Álibi, Edições 70. Título Original: No Orchids For Miss Blandish (1939), também editado com o título The Villan And The Virgin. Em 1990 é reeditado, também pelas Edições 70 com o Nº 26 na Colecção Alibi : os clássicos do romance policial. Série especial com o título A Virgem E O Bandido.
10 – O Mistério Do Ícone Desaparecido (1990), Nº107 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Try This One For Size (1980).
11 – Antes Morrer Que Matar (1991), Nº111 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Lady - Here's Your Wreath (1940).
12 – Considerado Violento (1991), Nº116 Colecção Livros de Bolso, Série Clube do Crime, Publicações Europa América. Título Original: Belived Violent (1968).



Mary Higgins Clark (1929)
Mary Theresa Eleanor Higgins nasce em Bronx, Nova Iorque, EUA. Publica o primeiro romance policiário em 1975, Where Are The Children?, um bestseller que marca a vida e a carreira da escritora. Seguem-se mais de 4 dezenas de romances de suspense e 3 colectâneas de contos, vendidos em todo o mundo. Só nos EUA as vendas dos seus livros ultrapassam 80 milhões de cópias e o seu 1º romance atinge a 75ª edição. Dois livros da autora estão adaptados ao cinema — Where Are the Children? e A Stranger Is Watching — e diversos romances e contos adaptados à televisão. Entre os vários prémios atribuídos a Mary Higgins Clark destaca-se o Grand Prix de Literature Policière de 1980 com A Stranger Is Watching e o título Grand Master Edgar Awards em 2000. Em Portugal estão editados todos/ou quase todos os romances da autora.



TEMA — CONTO DE NATÉRCIA LEITE — CHUVA E LÁGRIMAS DE NATAL
Caía uma chuva intensa e gelada mas apesar disso as ruas estavam cheias de gente e as lojas profusamente iluminadas.
A mulher aconchegou mais o casaco ao corpo magro e levantou tanto quanto pôde a gola no pescoço. Do chapéu-de-chuva escorriam torrentes de água.
Apressou o passo furando por entre a multidão que se agitava nos passeios, nas suas compras, e pensou o quanto as suas tinham sido poucas e mais que modestas. Quedou-se depois abismada na montra duma pastelaria onde, dispostos em vários andares, os doces e os bolos eram uma tentação.
Vinha do interior da loja um calor morno de forno e um cheiro delicado de doçaria. A mulher olhou a montra e viu aquelas maravilhas. Chamou-lhe a atenção um bolo grande, redondo, coberto de chocolate e coco ralado, que seria exactamente ao gosto de Fredie. Chocolate e coco.
Os preços estavam marcados. Para ela eram pequenas fortunas. Há 5 — cinco anos, que os Natais eram tristes e solitários com Fredie na prisão cumprindo a sua pena.
Criara o seu filho com tanto amor e cuidados, mas desde pequeno fora uma luta constante com a sua rebeldia e revolta, com a pobreza, a vida que a mãe levava, o meio que o rodeava.
Adolescente e tinham começado os pequenos delitos e a vida da mãe um sobressalto constante.
Durante dias Fredie desaparecia, sumia da vizinhança. De pequenas coisas sem importância de maior, tornara-se num jovem marginal revoltado contra tudo e todos — tendo por único refúgio, consolo e consideração a mãe.
Depois da casa de correcção e da subsequente saída, Fredie parecera melhorar um pouco. Ainda arranjara alguns pequenos empregos mas onde pouco tempo se mantivera.
Conhecera Rosie e acalmara. Rosie era doce e bonita e a mãe viu nela a salvação para o filho. Mas Rosie trocara Fredie pelo filho mais velho do penhorista do bairro e então Fredie ficara bravo de verdade.
Foi nessa altura que Fredie se meteu com péssimas companhias, dando pequenos golpes donde vinha sempre com dinheiro. Até que deram o assalto na loja do penhorista (o que de certo modo resultara da raiva e frustração de Fredie por aquela gente).
Assalto à mão armada, o penhorista bastante machucado, a loja escavacada.
Dias depois tinham sido apanhados e as penas após o julgamento foram pesadas.
A velha mãe chorara de meter dó e a solidão pesava-lhe de há 5 anos a esta parte como um tormento e uma culpa. Não sabia em que falhara na educação do filho, e quanto mais o aconselhava e acarinhava mais rebelde ele lhe parecia em relação ao meio e à sociedade.
A mulher abriu a bolsa e contou o dinheiro que possuía. No dia seguinte iria visitar o filho, levar-lhe umas pequenas lembranças e, se pudesse, aquele maravilhoso bolo de coco e chocolate. Entrou na loja e fez a sua compra, O bolo ficou muito bem acondicionado numa caixa de cartão com um bonito papel de fantasia no exterior e uma fita colorida.
Afoitando-se à invernia e à chuva a mãe regressou à sua pobre casa. Dispôs as suas compras na pequena cozinha e pôs-se a trabalhar.
Sempre que visitava o filho voltava mais esperançada. Os assistentes sociais, o psicólogo (? …), o próprio director falavam-lhe bem de Fredie. O seu comportamento era óptimo — quem sabe não cumpriria a pena toda… Trabalhava na prisão em relojoaria e tomara gosto. Ansiava sempre pelas visitas da mãe — que o achava cada vez mais caído e mais triste.
Ah, não poder modificar a vida, viver numa outra casa com outras condições, num outro bairro de gente ordeira e sossegada, ter um outro trabalho mais bem pago que aquele numa fábrica de cartonagens
A mãe preparou, temperou, cozinhou um frango. Pôs de lado a fruta da época — belas, grandes e sumarentas laranjas — o relógio barato que comprara a prestações, as meias listradas de lã fina, a caixa de cartão com o belo bolo de Natal para Fredie.
Algures em milhares de casas haveria ceias alegres, luzes, lareiras acesas, bebidas boas jorrando. E muita luz!
Ali era escuro, pobre, triste.
A mãe arrumou as suas coisas e preparou-se para se deitar. Foi olhar por detrás dos vidros. Chovia ainda copiosamente. A chuva batia nos vidros e escorria. A escorrer pareciam lágrimas de um choro desfeito.
Amanheceu triste, cinzento e chuvoso na mesma. A mãe levantou-se vestiu o seu robe sem forma e quase sem cor.
Estava frio no quarto. Andou dum lado para o outro arrumando coisas e preparando tudo para ir visitar Fredie — levar umas migalhas de Natal a Fredie.
Bebeu o seu café com pão da manhã.
Estava pensado que o seu “menino” iria ficar encantado com o enorme bolo de chocolate e coco.
 Ainda faltavam dois ou três Natais em que passaria só e triste. Mas depois tinha fé que o seu Freche tomasse tento na vida e enveredasse pelo caminho do bem e duma vida normal.
Enquanto dava as suas voltas pela pequena casa que procurava manter limpa e tanto quanto possível acolhedora, as lágrimas corriam pelo rosto da mãe.
Nos vidros de igual maneira escorria o pranto.
Tocam à porta. Quem será? No dia de Natal, na casa desta pobre viúva? Abre. E é o seu Fredie — o seu Fredie que vem (com redução de pena), que a abraça e levanta no ar — que mistura as lágrimas com as dela.
Ainda está aparvalhada, tonta, nem quer acreditar!
O filho coloca-a no chão, olha-a muito sério, afaga-lhe a face. Milagre de Natal — pensa a mãe…
Natal de Paz e Alegria com bolo de chocolate e coco.
E cai chuva, escorre chuva, escorrem lágrimas de felicidade.


TEMA — CRÓNICA DA CIDADE
O táxi atravessava a zona deserta da cidade. O condutor, Mourato, sondava as sombras procurando clientes. Aqui e ali, dos prédios informes, chegava-lhe aos ouvidos esporádica música, ocasionais risos.
Continuou.
Uma figura encapuçada, meio escondida, fez-lhe sinal para parar. Mourato hesitou por um instante, receoso de tomar um freguês num lugar tão isolado; decidiu, porém, não desperdiçar a oportunidade de ganhar mais algum dinheiro. Era noite do Natal. Afinal de contas o Natal era uma ocasião em que se gastava um pouco mais; representava, igualmente, a expectativa de uma gorjeta, própria daquela noite. A necessidade impunha-se-lhe.
Ao parar junto da berma descobriu que o embuçado era um homem, mas o rosto estava, quase no todo, escondido pela aba do chapéu e pelo espesso cachecol enrolado em volta do pescoço.
Teve um sobressalto, mas o homem já havia aberto a porta traseira e instalara-se.
O desconhecido deu um endereço do outro lado da cidade e o condutor animou-se momentaneamente, calculando o montante do transporte e a antecipação da esperançada gorjeta.
Depois sentiu nas costas a indubitável pressão de um objecto frio e pontudo.
— Continue em frente até que o mande parar! — advertiu a voz seca do desconhecido.
Mourato encolheu-se. Começou a transpirar. Um suor frio e incómodo cobria-lhe o rosto e o corpo que estremecia nervoso.
Que iria fazer? Como havia de livrar-se do incómodo passageiro, tanto mais que a pressão nas suas costas não deixava de se fazer sentir? Arriscar? Valeria a pena a arriscar-se a apanhar um balázio? Que manobra idealizar sem que uma bala o atingisse?
Procurou levar o veículo por ruas mais concorridas e iluminadas; a arma fazia pressão e ele desistia.
O suor acumulava-se-lhe no corpo.
Desistiu, fatalista. Continuou em frente.
De repente um ligeiro ruído vindo de trás tomou forma. Escutou, duvidoso e espantado. Sem poder acreditar, pelo insólito da situação, começou a guiar cuidadosamente evitando solavancos, atravessou as várias ruas transversais tomando um rumo certo que lhe parecia longínquo.
Lançou um olhar furtivo ao espelho retrovisor, mas divisou apenas um vulto escuro. Prestou atenção: os seus ouvidos não pareciam enganá-lo.
Acelerou a marcha, mantendo cuidado na direcção como se transportasse um corpo de fino cristal.
Finalmente parou. Tinha a porta da esquadra do bairro na frente, e ali entregou o perigoso passageiro sem que este deixasse de roncar. (Este o ruído insólito que havia chegado aos seus ouvidos atentos e o levara a concluir que o freguês dormia desabaladamente embalado pelo rodar do carro).
Quando a polícia arrancou da mão do embuçado a pistola que conservava ameaçadoramente sobre o peito e a substituiu por um par de algemas, Mourato tirou o boné e com um largo lenço estampado de vermelho enxugou o rosto e o pescoço repletos de suor e soltou, enfim, um suspiro de alívio.
O preso foi identificado como Morais Carlos. Não se soube se o homem tinha sido motivado por excesso de despesas do Natal que o deixaram sem dinheiro, se desejara apenas servir-se gratuitamente de um transporte: não respondeu ao interrogatório, porquanto, logo que se sentara em cadeira mais ou menos adequada, voltara a adormecer profundamente… Afinal, ali, tinha tempo de dormir.
Afinal era Noite de Natal; uma noite dedicada ao Amor, à Fraternidade… noite sem violências, noite sem crimes.


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