27 de agosto de 2012

CALEIDOSCÓPIO 240

Efemérides 27 de Agosto
Ira Levin (1929 – 2007)
Nasce em The Bronx, New York City, EUA. Dramaturgo e romancista recebe o Edgar Award pelo seu primeiro romance A Kiss Before Dying (1953), que está adaptado ao cinema em duas versões — 1956 e 1991. Ira Levin é também o autor do conhecido bestseller internacional, Rosemary’s Baby (1967), adaptado ao cinema por Roman Polansky — exibido em Portugal com o título A Semente do Diabo. Escreve também Deathtrap (1978), uma peça de teatro em dois actos, que é o suspense mais antigo em exibição na Broadway, também adaptada ao cinema e vencedora do Edgar Award de 1980 para Best Play. Em Portugal estão editados:
1 – A Semente Do Diabo (1969), Nº12 Colecção Cinema, Portugália Editora. Título Original: Rosemary’s Baby (1967). Reeditado pelas Publicações Europa-América com o Nº611 Colecção Crime Perfeito.
2 – Os Meninos Do Brasil (1980), Círculo de Leitores. Título Original: The Boys From Brazil (1976).
3 – Silver: Violação Da Privacidade (1993), Nº34 Colecção Crime Perfeito, Publicações Europa-América. Título Original: Silver (1991).



TEMA — ALGO SOBRENATURAL — O DIABO NA LITERATURA
É utópico ousar citar o primeiro texto puramente da ficção literária com particular protagonismo do DIABO. Evidentes razões sentimentais arrisca-se lembrar as comédias teatrais de Gil Vicente representadas de 1502 a 1536,nas quais é um personagem nada terrificante nem estranho pelo contrário, é um agente risonho o bom aceite, crítico incisivo por vezes insolente.
Encontramo-lo, todavia, mais autonomizado no poema épico de Du Bartas denominado “La Semaine ou Création du Monde” (1578), nas tragédias “Adamus Exul” (1601) de H. Grotius e “Lucifer” (1654) de Joost van den Vondel. Nesta última o autor faz uso da tradição talmúdica, na qual o arcanjo seus partidários se opõem à criação do homem. Lúcifer não é ali apresentado como um espírito ambicioso ou maligno, mas como um anjo que luta consigo mesmo face ao horror de ter empreendido um caminho errado e do qual não consegue desviar-se.
Num poema do mesmo autor descreve-se a metamorfose física do Diabo em seguida à queda moral:

Tal como a claridade do dia se transforma em noite escura
No momento em que o Sol desaparece;
Assim, quando Lúcifer cai no abismo,
A sua beleza transforma-se numa fealdade repelente.
O seu rosto radioso transforma-se num focinho feroz;
Os seus dentes, presas aceradas, capazes de roer o metal;
Os pés e as mãos tornam-se garras;
As cores variegadas das suas vestes dão lugar a uma pele negra;
Das suas costas, eriçadas de pelos, saem duas asas de dragão…
O Seu corpo reúne num único monstro
As formas horrendas de sete animais:
Um leão cheio de orgulho, um porco glutão e voraz.
Um asno preguiçoso, um rinoceronte encolerizado,
Um macaco lascivo e sem pudor, um dragão dominado pela inveja,
Um lobo que e a imagem da avareza sórdida

Em “Paraíso Perdido” (1667), a grande obra de Milton, mostra-se igualmente um Diabo mais carecido de compaixão do que de crítica, um anjo-herói, que se sabe antecipadamente derrotado, se auto condena e sente piedade pelos seus companheiros de luta, com ele condenados às penas do Inferno.
A literatura da Idade Média é bastante crítica para o personagem — reduzem-no particularmente ao papel de tentador, sedutor, mau conselheiro — como o exemplificam as novelas de Lesage “Le Diable Boiteux” (1707) e “Le Diable Amoureux” (1772) de Cazotte.
Com “Messias” (1748/1773) o autor alemão Klopstock, faz regressar a figura à posição de anjo caído, castigado por Cristo, na tradição representada por Milton.
O espírito bom de Lucifer como portador de uma nova luz para os homens, que devem saber a verdade da vida, é celebrada em “Jamben” (1784) pelo conde Stolberg. No poema “Address to The Devil” (1785), de R. Burns, o autor inglês expressa mesmo a esperança, de que Satanás se salve da ira de Deus.
No mesmo sentido da sua reabilitação se propõe Goethe em “Fausto I” (1805) e “Fausto II” (1832), apresentando-o como um espírito quo sempre quer o mal e pratica o bem.
Em “Le Genie du Christianisme” (1802), F.R. Chateaubriand afirma que o Satanás cristão é uma fugura mais poética do que os deuses pagãos, colocando-o em “Les Martyres”, a novela que escreveu em 1810, como o protagonista do paganismo em luta com o cristianismo e inspirador da Revolução Francesa; com igual intenção temática escreve “Les Natchez” entre os anos de 1797 e 1800, mas só publicada em 1826.
Como um viajante burlão e blasfemo na prática da sátira social apresenta-se na poesia “The Devils” (1813), como senhor do mal, revela-se em “Manfred” (1816), am1go do homem em rebelião contra Deus, aparece em “Cain” (1821), defensor da Justiça em “The Vision of Judgement” (1821), Prometeu do futuro em “Heaven and Earth”, todos de Lord Byron, este último comparável do ao Prometeu de Shelley em “Prometheus Unbound” (1820).
A. de Vigny prevê a salvação daquela alma perdida em “Satan Sauvé”, poema de 1824, argumento com continuidade em “Une Larme du Diable” (1839), de Gautier, que põe o Demo a chorar comovido com a bondade e inocência de umas jovens. Deus, porém, não permite a redenção.
(continua)


TEMA — POEMETO — OS LÍRIOS NÃO MURCHAM…
De Cutelle Mendés
Morreu Suzette. Tinha apenas quinze anos. Pobre querida! Tão nova sob a terra fria…
Colocaram-na num caixãozito do tamanho dum berço. E encomendaram a um canteiro uma pedra tumular com esta inscrição:
E aqui que repousa Suzette, morta aos quinze anos.
Eu vim de longe, de muito longe, para pedir um beijo que ela me prometera quando era pequena. Mas alguém, disse-me no caminho.
— Como! Não sabe? Morreu Suzette. Apenas com quinze anos e já morta!
— Não acredito, repliquei. Há no povoado tanta gente velha que ainda vive… e depois não é na Primavera que murcham os lírios.
Mas só me responderam:
Colocaram-na num caixãozito do tamanho dum berço!
No cemitério procurei, entre os túmulos, o da pobre criança, e como não o encontrasse, perguntei ao coveiro:
— Sabe-me dizer onde enterrararn a Suzette?
— Não sei positivamente. O que lhe posso dizer é que sobre o túmulo dela há uma pequena inscrição…
Mas a alguns passos dali, um botão de rosa branca, tão branca como a neve, entreabria-se trémulo para o céu. Ah! Como a gente se sentia bem ali. Que perfume em volta de nós!
— Provavelmente, disse comigo mesmo, é aqui que repousa Suzette, morta aos quinze anos, em pleno Abril…
Aguarela Steve Greaves


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