Na esquadra, nas horas mortas ouviam muito frequentemente um
assobio. O cabo Jeremias imitava o rouxinol e a toutinegra. Tentara durante
longas horas o canário mas não tinha pé para tamanho chinelo.
A vizinha Rosalina −
uma rapariga que olhava muito para as fardas e sonhava de alto, ficava
embevecida ao ouvir o cabo Jeremias a assobiar imitando o rouxinol.
Tanto assim que ela quando o via dizia para si baixinho “Ai
rouxinol, rouxinol, de bico doirado, se te apanho um dia, chamo-te um
rebuçado!”
É claro que o cabo Jeremias não se apercebia dos corações
que despedaçava.
Porém, conforme um dia afirmou o guarda-nocturno da área, que
todos os dias tinha que ir à esquadra assinar o ponto: “O cabo Jeremias, para
além do mais, é um erudito poeta espontâneo, tipo António Aleixo, mas para
melhor. Um dia sem ninguém estar à espera saiu-se com uma que nunca mais me
esqueceu a profundidade, ora ouçam:
São
as fezes que nos salvam
Nos
momentos de aflição
Por
isso acredito em Deus
Dia
sim e dia não!
O
Aleixo não faria melhor. E o Pessoa nem à cartucheira lhe chegava. E o
que ele gostava da Florbela Espanca.
Não
sei se conhecem esta poetisa.
Penso que ele gostava mais pelo nome. O nome Espanca
dizia-lhe qualquer coisa.
O que seria? Mistério.
A. Raposo
Este Cabo Jeremias é imperdível... Faz lembrar outras sagas inesquecíveis e irrepetíveis
ResponderEliminarUm abraço grato
Zé
Este Cabo Jeremias é imperdível... Faz lembrar outras sagas inesquecíveis e irrepetíveis
ResponderEliminarUm abraço grato
Zé