31 de janeiro de 2016

3º EPISÓDIO - UMA FACADINHA NO MATRIMÓNIO



O cabo Jeremias era um homem sério. Um fiel cumpridor dos deveres do lar.
Estava casado com a sua Micaela − uma moçoila de Trás-os-Montes  habituada às geadas, a mugir as vacas e a levar umas boas palmadas nas nalgas.
Não é que o cabo Jeremias tivesse muitas virtudes. Mas era temente a Deus e à Santa Madre Igreja. Todos os domingos  quando a folga permitia  lá ia comungar, mais a Micaela. Pelo Natal, não perdiam a missa do galo.
Mas o Diabo tece-as e espreita. Um homem não é de ferro. Fundido. A carne é fraca e o bife é tenro. Era o caso da Menina Amélia florista. Vendia flores ao domingo no adro da Igreja da Penha de França e tinha um ar angelical.
O cabo Jeremias assim que a via começava a coçar-se. Pensava: a miúda é boa como o milho, carago!
Uma espécie de erisipela toldava-lhe o corpo e enevoava-lhe a visão.
Várias vezes pensou que era o Diabo a tentá-lo.
Até que um dia em que foi sozinho à missa abordou a pequena e perguntou-lhe se ela tinha licença de venda ambulante. Que não. Que não tinha ou se tinha estava lá em casa e se o Sr. Guarda quisesse ver podia lá ir que a mãe tinha ido à terra.
O cabo Jeremias foi.
O papel nunca mais aparecia, Amelinha chorava. O cabo Jeremias afagava-a as nalgas, com respeito e, às duas por três soltou-se um beijo.
Os nossos libidinosos leitores sabem que estas histórias acabam sempre no quentinho da cama. Esta não é excepção, porque estava frio e era inverno!
E o cabo Jeremias pecou. Pecou uma vez, pecou segunda vez e não pecou mais porque a hora do turno já estava a chegar. Vestiu-se, pegou no chanfalho ajeitou a pistola na cartucheira, apertou o cinturão. Enfiou as botas. Pôs o chapéu.
Desceu a calçada até à esquadra. O dever chamava-o.

(Não perca o próximo capítulo se por acaso é curioso ou mesmo voyeurista.
Se é temente a Deus: Adeus!)

A. Raposo



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