O
cabo Jeremias era um homem sério. Um fiel cumpridor dos deveres do lar.
Estava
casado com a sua Micaela − uma moçoila de Trás-os-Montes − habituada às geadas,
a mugir as vacas e a levar umas boas palmadas nas nalgas.
Não é que o cabo Jeremias tivesse
muitas virtudes. Mas era temente a Deus e à Santa Madre Igreja. Todos os
domingos − quando a folga permitia − lá ia comungar, mais a Micaela. Pelo
Natal, não perdiam a missa do galo.
Mas
o Diabo tece-as e espreita. Um homem não é de ferro. Fundido. A carne é fraca e
o bife é tenro. Era o caso da Menina Amélia florista. Vendia flores ao domingo
no adro da Igreja da Penha de França e tinha um ar angelical.
O
cabo Jeremias assim que a via começava a coçar-se. Pensava: a miúda é boa como
o milho, carago!
Uma
espécie de erisipela toldava-lhe o corpo e enevoava-lhe a visão.
Várias
vezes pensou que era o Diabo a tentá-lo.
Até
que um dia em que foi sozinho à missa abordou a pequena e perguntou-lhe se ela
tinha licença de venda ambulante. Que não. Que não tinha ou se tinha estava lá
em casa e se o Sr. Guarda quisesse ver podia lá ir que a mãe tinha ido à terra.
O
cabo Jeremias foi.
O
papel nunca mais aparecia, Amelinha chorava. O cabo Jeremias afagava-a as
nalgas, com respeito e, às duas por três soltou-se um beijo.
Os
nossos libidinosos leitores sabem que estas histórias acabam sempre no
quentinho da cama. Esta não é excepção, porque estava frio e era inverno!
E
o cabo Jeremias pecou. Pecou uma vez, pecou segunda vez e não pecou mais porque
a hora do turno já estava a chegar. Vestiu-se, pegou no chanfalho ajeitou a
pistola na cartucheira, apertou o cinturão. Enfiou as botas. Pôs o chapéu.
Desceu
a calçada até à esquadra. O dever chamava-o.
(Não
perca o próximo capítulo se por acaso é curioso ou mesmo voyeurista.
Se
é temente a Deus: Adeus!)
A. Raposo
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