“Haja
respeitinho ou levam no focinho": Esta era a máxima que o cabo
Jeremias – cabo de esquadra do posto de polícia do Alto do Pina na mui digna e
leal cidade de Lisboa. Anos 60. Seculo XX.
Com o cabo Jeremias não havia
“fun-fun nem gaitinha” ou as coisas corriam como ele queria ou resolvia-se tudo
à porrada. Era por isso que alguém inventara o chanfalho.
Se alguém que me leia que não
conheça – por mera iliteracia – esse adorno de autoridade, o chanfalho, passo a
apresentá-lo. Trata-se de um rolo com cerca de um metro ou meio-metro, tipo
borracha com interior rígido, para vergar nas costas dos pacientes. Dado com força faz
doer.
Se algum dos meus inúmeros
leitores, leitoras ou mesmo anaforditas (os que não são nem carne nem peixe) já
levou uma boa chanfalhada nas costas sabe do que falo.
Hoje em dia o chanfalho ficou
fora de moda desde que inventaram os carros da água sob pressão. É o futuro! O
pessoal escusa depois de tomar banho! Poupa.
Ladrão de meia-tijela que caísse
nas nãos do cabo Jeremias já sabia como acabava a história. Primeiro uns
safanões para aquecer e depois umas belas chinfalhadas nos costados e a
confissão surgia breve, completa e aumentada de detalhes inventados.
Para quê utilizar processos
primitivos antigos tal como “os tratos de polé” ou máquinas sofisticadas, que a
Santa Inquisição, graças a Deus inventou.
Para o Cabo Jeremias a dose era
20 chinfalhadas uma confissão – era tiro e queda!
Quem hoje for visitar a esquadra
do Alto do Pina ainda encontra uma lápida na parede exultando os processos
simples e práticos de obtenção de confissões sem dor. Era como tirar um dente
sem anestesia. Só doía ao princípio.
Sem dor é como quem diz: com
alguma dor! Mas esta vida não é ela um ramalhete de rosas perfumadas tendo na
base os malvados espigões das roseiras?
Como dizia a avó do cabo
Jeremias, depois de tomar meia litrada de tintol para aclarar a voz:
“Isto,
meu querido neto, não há bela sem sermão!”
A. Raposo
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ResponderEliminarDelicioso
ResponderEliminarUm abraço
Zé