In Memórias de Desafios Intelectuais
Regista o Grande Dicionário da
Língua Portuguesa, de Morais da Silva, que PROBLEMA é a “questão
proposta para se lhe obter solução”, conceito que, na simplicidade de uma única
frase se ajusta inteiramente à intenção. Mais adiante, e no mesmo dicionário,
manancial de sabedoria, indica para ENIGMA “a descrição de uma coisa por
particularidades ou pelas qualidades que lhe são próprias, mas propositadamente
de modo que se torne difícil identificar do que se trata”. O mistério que advém
deste problema ou enigma é um desafio ao espírito investigante do solucionista,
vivificante, vitalizando elementos intelectuais, ante o labirinto ardiloso,
armadilhado pacificamente, edifício de chaves incomuns nas sólidas portas.
Todas as armas e bagagens são possíveis, da simples dedução/indução aos
complexos indícios do saber humano. É um desafio à inteligência que excita e
motiva a curiosidade.
Na fascinação e emoção do apelo
à solução existe um duelo de inteligência astuciosa para vencer outra
inteligência, igualmente astuciosa - o autor do enigma.
É certo que não existem normas
fixas nos problemas ou enigmas policiários, antes se concretizam pela livre
representação de ideias, factos, significados clássicos ou ao encontro de novas
imagens e enredos originais. Todavia, não se pode falar em policiário ou
policial, sem a ligação a algo relativo ou afecto à polícia, regra geral um
delito, um mistério que requer a intervenção de um investigador oficial ou
particular de características e métodos afins, já que é imprescindível
afastá-los da vasta gama dos enigmas charadísticos. Qual é a diferença
determinante entre as espécies? Ambos são um desafio evidente, mas o enigma
charadístico não passa de um passatempo reforçado na pesquisa da cultura geral;
no policiário, para além da recriação, desenvolve-se num problema (um em
outro!) pessoal do solucionista, que assume a luta repressiva do ilícito - ainda que imaginado - apossa-se da investigação,
recorre às regras policiais, raciocina, tira conclusões intuitivas baseadas em
circunstâncias complicadas extraídas do texto, dos erros que aí se cometem e
levam ao esclarecimento ou impunidade do crime.
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