29 de setembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO 273

Efemérides 29 de Setembro
Elizabeth Peters (1927)
Barbara Louise Gross Mertz nasce em Caton, Illinois, EUA. Doutorada em Egiptologia escreve livros de mistério, suspense e thriller muitos deles com a arqueologia e o Egipto como pano de fundo. Utiliza o pseudónimo Elizabeth Peters para as séries Vicky Bliss, Amelia Peabody Emerson e Jacqueline Kirby e outros romances, com um total de cerca de 40 títulos publicados. Sob o pseudónimo Barbara Michaels escreve 30 romances góticos e de sobrenatural. Elizabeth Peters está incluída no TEMA REGRESSAR AO PASSADO NO POLICIÁRIO publicado no CALEIDOSCÓPIO 5 (Clicar) e CALEIDOSCÓPIO 7 (Clicar). A autora acumula uma extensa lista de prémios que distinguem a literatura policiária. Em Portugal estão editados vários livros da escritora, alguns já referidos, mas que agora se sistematizam de forma mais completa.
Barbara Michaels
1 – Pontos Dados No Tempo (1997), Planeta Editora. Título Original: Stitches In Time (1995).
2 – O Monstro Do Labirinto (1998), Planeta Editora. Título Original: The Dancing Floor (1997).
3 – Outros Mundos (2000), Planeta Editora. Título Original: Other Worlds (1998).

Elizabeth Peters
1 – Um Crocodilo Na Duna (2002), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: Crocodile On The Sandbank (1975). É o 1º livro da série Amelia Peabody.
2 – A Maldição Dos Faraós (2003), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: The Curse Of The Pharaohs (1981). É o 2º livro da série Amelia Peabody.
3 – O Caso Da Múmia (2003), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: The Mummy Case (1985). É o 3º livro da série Amelia Peabody.
4 – Um Leão No Vale Caso (2003), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: Lion In The Valley (1986). É o 4º livro da série Amelia Peabody.
5 – Um Crime Do Museu Britânico (2005), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: Deeds Of The Disturber (1988). É o 5º livro da série Amelia Peabody.
6 – O Último Camelo Caiu Ao Meio-Dia (2007), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: The Last Camel Died At Noon (1991). É o 6º livro da série Amelia Peabody.
7 – A Cobra, O Crocodilo E O Cão (2008), Colecção Nocturnos, Editora Gótica. Título Original: The Snake, The Crocodile, And The Dog (1992). É o 7º livro da série Amelia Peabody.


Colin Dexter (1930)
Norman Colin Dexter nasce em Stamford, Lincolnshire, Inglaterra. Escritor policiário criador do Inspector Morse, que surge em 1975 em Last Bus To Woodstock e é o protagonista dos 13 romances do escritor e de um livro de contos. Colin Dexter tem recebido vários dos mais prestigiados galardões da narrativa policiária, inclusivamente é-lhe atribuído em 1997 o Diamond Dagger, Em Portugal estão publicados:
1 – Morte Em Jericó (1993), Nº37 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: The Way Through The Woods (1975). É o 10º livro da série Inspector Morse. Premiado com o Silver Dagger, atribuído pela Crime Writers' Association.
2 – Desaparecida No Bosque (1995), Nº40 Colecção Não Incomode, Editora Gradiva. Título Original: The Death Of Jericho (1981). É o 10º livro da série Inspector Morse. Premiado com o Gold Dagger, atribuído pela Crime Writers' Association.

Donna Leon (1942)
Nasce em Montclaire, New Jersey, EUA. Professora de literatura inglesa um pouco por todo o mundo: Suíça, Arábia Saudita, China Irão, Itália. Donna Leon é a criadora do famoso Commissario Guido Brunetti figura central de 21 romances policiários que têm como cenário Veneza, a cidade onde a autora se fixou em 1891. A autora tem um romance The Jewels Of Paradise agendado para Outubro de 2012. Donna Leon tem sido distinguida com vários prémios e é uma escritora reconhecida internacionalmente, com obras publicadas em 24 países. Curiosamente, a sua obra não está traduzida em italiano por desejo expresso da autora. Em Portugal os seus livros têm sido editados pela Editorial Presença e pela Planeta (Clicar)


TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — AINDA A PERSONALIDADE DE CHARLIE ~
M Constantino
Continuação de CALEIDOSCÓPIO 237 (Clicar)
A casa de Charlie Chan em Punchbowl Hill estava longe de ser sossegada A vida com crianças estava igualmente longe de ser calma: de manhã muito cedo transformava-se o lar, um verdadeiro pandemónio de vozes por todo o lado, gritando, discutindo, rindo e pelo menos um chorando alto. Mas era sempre com um sentimento confortador que começava normalmente o seu dia de trabalho. Da porta da casa descortinava vales verdejantes, águas cristalinas, manchas roxas das copas as poincianas em plena floração, chorões dourados em generosa quantidade, aqui e ali a nota rubra de uma latada de buganvílias o que alegrava o seu coração.
Com sentimento de respeito lembrava o cemitério da encosta onde repousava sua mãe, que ele trouxera da China para com eles passar os últimos anos a vida.
Para Chan, como para os demais chineses, a noite é o seu momento favorito: sentado, imóvel, na varanda como um buda de pedra, numa serena indiferença aos factos, estende os olhos sobre as luzes vacilantes da cidade, para a curva da praia de Waikiki, que resplandece toda branca sob o luar tropical. É um homem calmo e este é sempre um dos momentos mais calmos sua vida. A lua do Havai tem um poder mágico.
No interior da casa, a sua esposa, que encontrara pela primeira vez na praia, esbelta como um junco, bonita como os botões da ameixoeira, hoje é uma mulher de aspecto agradável, quase tão nutrida quanto Chan, com um plácido sorriso rosto olhos calmos.
A arrumada sala da casa algo de que o casal -tem orgulho. Um único quadro na parede, pintado em seda, representando um pássaro pousado num ramo de macieira. Encanto e simplicidade. Segundo Chan “um quadro é um poema mudo”. E Chan gosta de poesia, estuda poesia com o mesmo interesse que costuma estudar os crimes misteriosos que enchem as páginas dos jornais.
Por debaixo do quadro uma mesa quadrada ladeada de cadeiras de braço. Nos outros móveis, em madeira de teca, vasos brancos e azuis, jarras de porcelana, árvores anãs. Lanternas ouro-pálido pendiam do tecto. No chão um tapete de cores suaves.
“… tenho observado o que representa o lar para vocês, gente do continente. Um apartamento não privado, um pombal em que se repousa depois da dança ou do passeio de automóvel. Nós, os chineses, somos diferentes. Amor, casamento, lar… ainda nos apegamos a casas fora de moda, como essas. O lar é o santuário dentro do qual nos enclausuramos. O pai é um alto sacerdote, e os focos dos altares ardem como chama brilhante…” “…alimento grosseiro para comer, água para beber, e o braço dobrado por travesseiro, eis velha definição da felicidade na minha terra. Que é a ambição? Um cancro que rói o coração branco roubando-lhe as alegrias do contentamento…”
Nas Chan tinha outras pequenas felicidades… esquecer as preocupações de detective flutuando languidamente na água da praia, de papo para o ar, o enorme ventre a distinguir-se como uma bolha sobre a superfície.
O posto da polícia, que ficava no andar térreo, sob o tribunal, na retaguarda, ficava a sala de chá, que era o seu orgulho e alegria. Fora-lhe destinada pelo seu chefe quando agira com brilhante sucesso no caso Fane. Dali via, através da janela, a alameda que corria por detrás dos edifícios.
Não são muitos os crimes em Honolulu. Mas Chan, um caçador de criminosos, reconhece que o homem tranquilo é o homem feliz e não se queixa desta verdade.
Os orientais sabem que há uma ocasião para pescar e outra para enxugar as redes. Diz: “Procuro não deixar escapar a minha ansiedade e cumpro os meus deveres apresentando certa calma interior. Muitas vezes contemplando a cidade adormecida, sofro a tortura de desejar que o telefone traga uma comunicação importante. Vou realmente onde o dever me leva, mas prefiro ficar ocioso. Será possível nadar num tapete? Não, temos de procurar um lugar onde haja água profunda.”
Tinha os seus triunfos, mas não se sentia orgulhoso. Era-lhe impossível encarar os factos, friamente, sob um prisma científico. Meditava sobre os homens, sobre o coração humano, negava-se ao regozijo nos momentos de triunfo.
Oiçamos a sua experiencia policial:
As impressões digitais e outras provas são boas nos romances policiais, mas não tanto na vida real. A minha experiência ensinou-me a pensar muito na natureza humana. Paixões humanas, sempre acompanham o crime. Estudo incansavelmente a natureza humana. Em todo o caso, gosto dos métodos de Scotland! Yard.
É pena que a gente cometa tantos erros no decorrer da vida. Eu, por mim, sou um estúpido trapalhão.
Um velho chinês, discípulo de Confúcio disse: “Os tolos interrogam outras pessoas, o homem avisa do interroga-se a si próprio.”. Por isso as minhas investigações aparentam inocência; é o meu sistema, neste jogo é melhor que o adversário não saiba o que pensamos. Não se deve agir com ideias preconcebidas. Em caso de homicídio, o primeiro dever do detective é examinar a posição em que o corpo caiu, um tiro pode ter vindo de qualquer lado, por vezes o atingido dá uns passos antes de cair. É preciso ouvir o médico, é prudente não tirar conclusões precipitadamente. Se tivermos respostas muito prontas, podemos enganar-nos, como os meus filhos quando estudam álgebra Aquele que se apressa demais não pode ter o passo firme.
Muitas vezes parece-nos que subindo não encontramos o caminho e descendo, não achamos saída. Mas mesmo um cego, se conhece bem a estrada, pode indicar o caminho, por isso temos que observar tudo muito bem. Não, adivinhar não. Adivinhar é uma coisa barata, mas adivinhar errado é uma coisa muito cara.
Nos interrogatórios não é meu costume usar lápis e papel, estes produzem, muitas vezes, um efeito prejudicial na pessoa que fala. Guardo tudo na cabeça e oportunamente tomo notas.
Às vezes, há indícios demais: tantos que se venderiam alguns bem baratos. Mas a prática tem demonstrado que com o correr do tempo os indícios vão tomando o seu devido valor; os falsos desvanecem-se, os verdadeiros reúnem-se e transformam-se num inequívoco sinal luminoso.
Os álibis perfeitos muitas vezes tornam-se imperfeitos sem grandes dificuldades.
E conclui:
É no coração humano que se encontram os grandes motivos. Que paixão teria feito este “trabalho”? Ódio, ambição, inveja ou ciúme? É no estudo das pessoas que está a solução. Mas, como diz um filósofo da minha terra “Os peixes no fundo da água podem ser fisgados, os pássaros no ar, podem ser caçados, mas o coração do homem está fora do nosso alcance”.
Será este o sistema para um bom detective? Não sou bom polícia, a minha cabeça como o Rio Amarelo. Mas alguém já disse que até o Rio Amarelo tem dias em que é mais claro.
Sobretudo não desanimem. Lembro-me do meu primeiro caso importante. Pensam que descobri alguma coisa!
Pode uma formiga arrancar uma árvore?
Como se vê, Charlie Chan é pródigo em citar provérbios e pensamentos chineses. Alguns não passam de adequações de ocasião.
Vejamos ao acaso:
Se a força fosse tudo, o tigre não tinha medo do escorpião. Por uma palavra, um homem pode ser considerado prudente, por uma palavra pode ser considerado insensato. Quanto mais forte o trovão, mais fraca e a chuva. As nuvens escuras passam, o céu azul permanece. Nenhum homem gosta da pessoa que guiou os seus passos vacilantes até ao degrau superior da escada. Muito poucos oradores de banquetes têm o bom gosto de parar a tempo. Até um mendigo hesita em atravessar uma ponte em ruínas. Que lucram os mortos com o sofrimento dos vivos? Quando uma árvore cai, a sua sombra desaparece O homem que atravessa o rio a vau não deve despertar o crocodilo que dorme.
E continuando para recreio próprio: No escuro, por vezes, é difícil distinguir o gavião do corvo. Quem vive com grande evidência chama a atenção do destino. O homem não pode pensar debaixo de uma árvore cheia de papagaios. Aquele que pesca em águas turvas não pode distinguir o peixe grande do pequeno. A felicidade não é uma questão de geografia. Intuições são chaves para as portas da verdade. Para os felizes até as raízes dos repolhos são odoríferas.

Em jeito de conclusão da figura de Charlie Chan, é lícito esclarecer que à época as Ilhas Havai não eram um Estado da União (hoje é o 50º), mas uma colónia ou território dos Estados Unidos povoada por orientais em percentagem muito elevada, abundando os chineses, pelo que seria lógico colocar num posto oficial da polícia um chinês para tratar com chineses.
Charlie nasceu na China e chegou a Honolulu por volta de 1920 Serviu como cozinheiro, foi mordomo na família Phillimore, depois ingressou na polícia.
Quando sargento actuava com certa autonomia, mas não tinha direito a ajudante; ao ser promovido inspector obteve como ajudante precisamente um sargento, o sargento Kashimo, jovem, inexperiente e mesmo pouco esperto, todavia de uma dedicação extrema seu superior que, aliás, o tratava como verdadeiro filho.
Reúnem-se em Charlie Chan todos os defeitos qualidades — na época — dos filhos do Celeste Império: imperturbável, humilde, cortês, cerimonioso, fala pouco, é hermético nos seus conhecimentos.



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