2 de julho de 2012

CALEIDOSCÓPIO 184

EFEMÉRIDES – Dia 2 de Julho
William Le Queux (1864 – 1927)
William Tufnell Le Queux nasce em Londres. Jornalista e escritor de 150 novelas na sua maioria mistérios, thrillers e espionagem. As obras de maior sucesso, escritas antes da 1ª guerra mundial, envolvem histórias fictícias de infiltração de potências estrangeiras ou possível invasão da Grã-Bretanha por parte da Alemanha. The Great War In England In 1897 (1894), The Invasion Of 1910 (1906), e The Seven Secrets (1903) são um verdadeiro êxito editorial na altura da sua publicação.

Mark Billingham (1961)
Mark Philip David Billingham nasce em Birmingham, Inglaterra. Actor, comediante é um autor bestseller de policiários. Cria série Tom Thorne, um detective londrino, iniciada em 2001 com Sleepy Head e com o 10º livro Good As Dead, publicado em Agosto de 2011. Mark Billingham escreve também os romances In The Dark (2008) e Rush Of Blood (2012) e, sob o pseudónimo Will Peterson, cria Triskellion, uma série de thrillers para crianças. A obra do escritor tem sido distinguida com vários prémios e nomeações: Scaredy Cat (2002) ganha o Sherlock Award para Best Detective Novel e é nomeado para o Gold Dagger da Crime Writers Association; LazyTbones (2003) ganha em 2004 Theakston’s Old Peculiar Crime Novel of the Year Award; Lifeless (2005) é nomeado em 2006 para BCA — Crime Thriller of the Year Award; Death Message (2007) ganha mais um Theakston’s Old Peculiar Crime Novel of the Year Award em 2009 e por fim In The Dark é nomeado em 2009 para o Gold Dagger.

Agnete Friis (1974)
Nasce em Copenhaga. Escritora e jornalista e escreve em parceira com Lene Kaaberbøl já referida nas efemérides de CALEIDOSCÓPIO 84 (clicar)



TEMA — ESTUDOS DE LITERATURA POLICIÁRIA — OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA NARRATIVA POLICIÁRIA CLÁSSICA (Parte II)
por M. Constantino

HISTORIOGRAFIA
Criação
Sequència
Anterioridade
Pós – Poe
Idade de Ouro
Futuro

1. É ponto assente que o criador ou pai do género foi Edgar Allan Poe (1809-1849), com a publicação no Graham's Magazine daquela que é considerada a primeira narrativa policiária — “Os Assassinatos da Rua Morgue”.
Poe, cria não só um novo género literário, como inventa o moderno detective ou investigador: Dupin — no dizer de Locassin: “um arquétipo literário; o detective amador, o homem que coleccionava enigmas como os outros coleccionavam objectos”.

2. Exemplo da narrativa policiaria semi-real, igualmente da pena de Poe, é “O Mistério de Maria Roget". Na verdade, o autor serviu-se de factos reais — o assassinato de Marie Cecília Roger; — extraído dos jornais da época, para idealizar toda uma narrativa e solução coerentes com o enigma. Sem contacto com o local em que o facto ocorreu ou com os envolvidos na tragédia, empiricamente, através do interferências e plausíveis, faz Dupin desvendar o enigma sem sair do seu domicílio.
Poe esfacela assim os limites entre o real e o ficcional.

3. Com anterioridade a Poe, tem-se admitido, não sem alguma razão, a existência de passagens literárias que bem se podem considerar mais ou menos detectivescas, pelo menos do ponto de vista da indução e dedução.
A história de “Daniel” e “Casta Susana”, no Antigo Testamento; Arquimedes no “Tratado de Arquitectura” de Vitrúvio; um texto de “Eneida” referenciado a uma dedução de Hercules sobre pegadas; os contos de “Os Três Chefes da Polícia”, e “Dalila”, nas “Mil e Uma Noites”; um conto de Canterbury, de Chaucer; Zadig, de Voltaire; etc, etc., são exemplos de observação e análise tão perfeitos como os constantes dos escritos de Poe e seus seguidores.

4. Têm igualmente importância, do ponto de vista em causa, “The Castle of Otranto” de Horace Walpole, “The Mysteries of Udolpho” de Ann Radcliffe, “Der. Geisterseher” de Schiller, e outros da época se bem que o enredo pouco tenha de policiário e muito de sobrenatural, mas a técnica da descoberta das soluções, para cada caso, é idêntica à usada pelos escritores de narrativas detectivescas.

5. Após Poe há um compasso substancial, porém, na segunda década do aparecimento do género que havia criado, há um movimento substancial, como se os autores reconhecessem enfim o valor daquele tipo narrativo. Desse arranque sobressai Conan Doyle através de Sherlock Holmes (1887), sem dúvida o mais famoso e perdurável das representantes. Todavia, se as histórias de Holmes mereceram destaque especial, outras são de recordar e reler; é, de resto, a Idade Notável da narração curta, a qual terminou com a I Guerra Mundial — o período, claro, não a narrativa…

6. No período entre as duas guerras “A Idade de Ouro”, revela-se a decadência imediata, na qualidade e número, da narrativa curta, prevalecendo na medida inversa a forma de romance.
É o período de Rinehart, Christie, Chesterton, Sayers, Carr, Queen, Van Dine, Simenon, etc., etc..
O género criou leis dedutivas rigorosas, um código de hábeis recursos e regras de jogo próprias, que são um perpétuo repto dedutivo á inteligència e imaginação dos inúmeros leitores.

7. Os intentos de violar as normas típicas da narração policiária ou de as reconverter, são patentes em Hammett e Chandler (máscara negra) e William Irish (suspense), influem particularmente na quebra da popularidade daquela.
Não faltam vozes (Jacques Barzun em “Catalogue of Crime” que avançam pelo seu desaparecimento. ou, discordantes (Julian Symons, em “Bloody Murder From the Detective Story to the Crime Novel: A History”).

8. A verdade, é que coexistindo com todas as tendências, continuam a escrever-se e a publicar-se, contínua e aceleradamente, narrativas, detectivescas. Todos os dias surgem novos autores, novos métodos de investigação consoantes com o processo técnico, novos tramas, e versões, que não afastam totalmente os tradicionais, demonstram o evidente Propósito da substância do género e excluem, desde logo, a sumamente improbabilidade do seu desaparecimento.

9. Algo, porém, é fundamental, Que os autores rectifiquem as intoleráveis e toscas redacções das suas histórias, não escrevam narrativas policiárias por desfastio entretinimento o por dinheiro, a boa literatura deve uma unidade absoluta, o tema é que pode variar. E não estamos sós quando afirmamos que o tema policiário é omais difícil de idealizar e de escrever, exige saber contar, saber escrever com arte e inteligência.
(continua)



TEMA — ANATOMIA DO CRIME — MENSAGEM TEVELADORA

Na madrugada de 2 de Novembro de 1917, em Bloomsbury, a oeste de Londres, um jardineiro que iniciava o trabalho, encontrou um pacote deixado ma orla do parque central de Regent Square. A curiosidade fê-lo descobrir um saco de carne, contendo o dorso e os braços de uma mulher. Colocado no saco, um bocado de papel comum a mensagem escrita a lápis “Blodie Belgiam”. Quando recuperou do choque, participou à polícia. Ainda havia de passar algum tempo para se encontrar a cabeça. No entanto encontrou-se no lençol que envolvia o dorso a marca da lavandaria (II H.), por onde se descobriu que se tratava da senhora Emilienne Gerard, de nacionalidade francesa, com residência no nº50 de Munster Square. Significativo foi o facto de não ser vista desde a noite de 31 de Outubro.
Um exame ao apartamento permitiu à polícia reunir algumas peças para recompor a história da desaparecida. O sorriso de uma fotografia de Louis Voisin — como se apurou — contemplava os agentes do rebordo da chaminé, onde fora colocada a moldura.
Era um francês expatriado, carniceiro de profissão, amante da vítima, residente numa cave em Charlotte Street que partilhava com uma amiga Berthe Roche.
Voisin não negara o conhecimento com Madame Gerard, havia estado com ela no dia 31 de Outubro e, sabendo que se ausentava para França em visita ao marido ofereceu-se para ficar com o gato de estimação. Não voltara a vê-la.
O lendário Inspector Chefe Frederick Porter Wensley da Scotland Yard assumiu a direcção da investigação. Informado pelo departamento que o desmembramento estava de acordo com os processos decidiu usados pelos carniceiros franceses convocou Voisin para o interrogatório na esquadra, do qual não obteve qualquer informação, a não ser o conhecimento já referido de que Emilienne tinha partido para França. No dia seguinte o Inspector decidiu efectuar uma experiencia que poderia relacionar, de forma concludente, o suspeito com o despojos encontrados em Regent Square.
Através de um intérprete, para não haver mau entendimento, perguntou a Voisin se tinha algum inconveniente em escrever as palavras “Blody Belgium”. Voisin acedeu e com a mão lenta de quem conhece apenas o alfabeto escreveu “Blodie Belgiam”. O erro e a letra coincidiam com a nota encontrada. Wensley pensou e disse que talvez não estivesse tudo bem, e tentasse escrever de novo. Escreveu cinco vezes com o mesmo erro. Na última escreveu praticamente o original. Tudo apontava para o culpado, mas não era prova para tribunal. Nem sequer se identificaram os despojos com segurança.
Pouco tempo depois apareceu um novo pacote com pernas, mas a chave do enigma, que era a cabeça identificativa continuava sem aparecer.
A conexão final foi estabelecida e o sargento detective Alfred Collins, recebeu ordens para visitar a adega de Charlotte Street e ao tirar a tampa de um barril, descobriu a cabeça e as mãos delatoras com as impressões digitais de Emilienne Gerard.
Quando preso e acusado, Louis Voisin limitou-se a encolher os ombros e a murmurar: — Má sorte! Fez uma declaração completa que envolvia Berthe.
Julgados, face à sentença, Voisin foi executado em 2 de Março de 1918. Berthe Roche, por participação no assassínio, foi condenada a sete anos de prisão, onde enlouqueceu, morrendo numa instituição de doentes mentais, onde fora internada.

Adega de Voisin - Foto da época

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