13 de março de 2016

9º EPISÓDIO - AINDA O CASO DA VIÚVA TERESINHA


Nota Explicativa do Policiário de Bolso:
Na sequência da publicação de O Caso da Viúva Teresinha” (CICLAR), o Policiário de Bolso recebeu um testemunho que permite clarificar os acontecimentos relatados. A proveniência das informações foi devidamente comprovada através de contacto pessoal directo com a autora que autorizou também a divulgação do conteúdo do e-mail anteriormente enviado.
Ao leitor deixa-se, como sempre, a liberdade de muito bem acreditar no que quiser…

Exmos Senhores,
Sou seguidora do vosso blogue desde a primeira hora. Devo confessar que sou uma leitora compulsiva de livros policiais, vício transmitido pelo meu avô paterno, grande coleccionador dos livros da Vampiro. As histórias do cabo Jeremias prenderam-me de imediato, por motivos óbvios, que facilmente serão por vós entendidos.
Nunca pensei intervir porque sou uma pessoa bastante introvertida e não gosto de levantar ondas. No entanto, não consegui resistir ao apelo final de A. Raposo aos “indefetíveis leitores” do “Caso da Viúva Teresinha”. Apesar de ainda não ter nascido na altura acontecimentos, tive conhecimento dos mesmos porque me foram relatados por quem os viveu. Consta que o cabo Jeremias era um homem tão bem parecido e charmoso que era de conquista fácil. A viúva Teresinha viu-se ainda nova sem marido e o seu coração balançava entre o Raúl dos cabedais e o Jeremias da esquadra. Um, era solteiro e bom rapaz, mas o outro tinha a emoção do “bad boy”, do risco e da transgressão. E Teresinha andava ora com um, ora com outro, sem capacidade ou vontade para se decidir. Devia ser o eterno conflito entre a razão e o coração.
Ora acontece que na narrativa de A. Raposo é tudo verdade, mas a parte final dos torresmos é uma pura invenção posta a circular na altura para protecção dos intervenientes deste trio. Teresinha precisava de uma desculpa para meter o cabo Jeremias dentro de casa. O cabo precisava de uma desculpa para passar mais uma noite fora de casa e escapar às desconfianças da mulher. E o Raúl precisava de defender a sua própria honra. Acontece que o bem intencionado Raúl estava verdadeiramente apaixonado pela Teresinha e, como andava desconfiado, arranjou maneira de numa quarta-feira afastar de forma definitiva, o cabo de esquadra do seu objecto amoroso. Surpreendeu-os, aos dois. Teresinha estava nuinha em pêlo, Jeremias também, apenas com as ceroulas de atilhos penduradas no braço. Raúl não esteve com meias medidas, encostou a afiadíssima sovela de cortar cabedal à parte anatómica mais estimada por Jeremias e ameaçou: “Larga-a de uma vez por todas e inventa já uma história para sairmos limpos disto”. Compreende-se, uma coisa é casar com uma viúva estimada por todos, outra é casar com uma mulher demasiado estimada por vários.
Assim nasceu o mito dos torresmos mastigados por Teresinha de vela na mão. Deu-se continuidade à mentira inicial do barulho mastigatório do defunto marido e Raúl pode levar Teresinha ao altar ser dar azo a grandes falatórios. Para ele o raminho da laranjeira foi botoeira e para ela no chapeuzinho creme, porque parecia mal ir de branco, como atesta uma fotografia que tenho em meu poder.
Desculpem, é verdade, depois de tanto escrever ainda não me apresentei. O meu nome é Ana Teresa, filha de Maria Teresa e neta da genuína viúva Teresinha, que casou em segundas núpcias com o Raúl dos cabedais, uma união apadrinhada pelo (estranhamente atemorizado) cabo Jeremias.
Se A. Raposo precisar de um final feliz para esta história, eu posso apenas dar-lhe este. Terezinha e Raúl, meus avós maternos viveram felizes para sempre, nem a morte os separou porque partiram exactamente no mesmo dia.
Com os melhores cumprimentos,

Ana Teresa

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