21 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO 112

EFEMÉRIDES – Dia 21 de Abril
Basil Thomson (1861 - 1939)
Basil Home Thomson nasce em Oxford, Inglaterra. Administrador nas colónias britânicas, governador na prisão de Dartmoor, diplomata, chefe do CID da Scotland Yard, director dos Intelligence Service, é também um autor prolífico. Escreve sobre diversos temas, incluindo memórias, justiça criminal e policiários. Publica The Story of Scotland Yard e cria duas séries: Peter Graham e Superintendent Richardson. Pouco antes de morrer escreve e publica a sua autobiografia, The Scene Changes.


TEMA — ENIGMA POLICIÁRIO — SOLUÇÃO
Está em atraso a solução do problema publicado no CALEIDOSCÓPIO 104 (clicar) um enigma de classe ou espécie tipo psicológico. Aqui vai.
Face à explicação anteriormente dada sobre a condução do sistema a resposta é fácil.
Observando o quadro, poderá verificar-se que em relação à resposta 7, Juvenal reagiu, sinal de que conhecia Amorim, não manifestando qualquer reconhecimento às palavras de estímulo, Gago e Gazua. O mesmo não aconteceu com Lúcio, e a palavra Gago apanhou-o de surpresa, pelo que não respondeu, reagindo igualmente, às palavras Amorim e Gazua, às quais não deixou de responder, embora cautelosamente, denunciado pelo tempo anormal.
Posto perante os factos, Lúcio acabou por confessar, tendo sido condenado posteriormente.

O sistema prende-se com o íntimo culposo do suspeito, sobrecarregado com um conjunto de sensações, emoções, reconhecimentos anteriores, raciocínios, decisões, com certeza tormentos de toda a ordem.
— As provas expostas advêm da interpretação e aproveitamento das reacções anómalas.
— A prova psicológica por sintomas aflora permanentemente os estados emotivos.
A pequena história, que vamos colocar á atenção dos leitores, ilustra sobejamente o exposto.
Constava-se que um jovem ambicioso procurou certo mago para que este lhe revelasse o segredo de fabricar ouro.
O mago acedeu aos seus desejos, forneceu-lhe a lista dos ingredientes necessários e uma fórmula para invocar o poder do inferno que havia de ajudá-lo a obter o precioso metal. Advertiu-o, não obstante, que para conseguir o resultado, era absolutamente indispensável abster-se de pensar em rinocerontes.
O jovem de pronto respondeu que isso não constituía dificuldade alguma e que jamais lhe ocorria pensar no designado animal.
Poucos dias passados voltou de novo à presença do mago manifestando a impossibilidade de evitar de pensar em rinocerontes cada vez que pretendia fabricar ouro.
Voltando à realidade e comparando as motivações:
Tal como na psique do jovem ambicioso se mantinha a lembrança do animal que pretendia esquecer, na psique do autor de um delito oculta-se, latente, o sentimento da falta.
O delinquente inevitavelmente, tarde ou cedo, inadvertidamente revela a culpabilidade na contingência de lhe ser impossível deixar de pensar em tudo aquilo que se relacione com delito cometido.

Um outro tipo de problema psicológico, aquele que de resto mais se coaduna com a arte da problemística, é o que abaixo se exemplifica. Devemos, porém, advertir o leitor, que tem sido classificado como verdadeiro plágio. E, o que é mais curioso, parece igualmente ter sido plagiado enquanto conto, pois temos duas versões assinadas por autores diferentes, contos que não resistimos em dar a conhecer.
Devemos referir que, quanto ao enigma que se segue, não é crime usar o mesmo tema enroupado com novas situações, nomes etc., desde que escrito com habilidade é perfeitamente aceitável, salvo se for para apresentar em concurso de produção que, com todo o respeito, só devem ser admitidos enigmas ou problemas perfeitamente inéditos. Sabe-se que uma das características do bom solucionista é guardar ideias de casos porque passou, encontrando uma ideia já usada: fica em vantagem sobre os restantes concorrentes. No que diz respeito à produção, o uso de uma ideia alheia, parece-nos pouco ético, pelo menos.
E vamos ao problema.
M. Constantino.


TEMA — ENIGMA POLICIÁRIO PRÁTICO — CULPADO OU INOCENTE?
De Marco Paulo
O Repórter Barbosa, da revista Dedução, ocupou o lugar que lhe estava reservado na plataforma da Imprensa, e circunvagou o olhar pela ampla sala do Tribunal, repleto dum público heterogéneo e interessado que aguardava com a mais viva impaciência o início de mais uma sessão a última do caso Philip Roche. A sentença ia ser lida nesse dia e por isso a expectativa era enorme.
O advogado de defesa começou:
Senhores jurados! Como sabem, passei todas as audiências ouvindo, enquanto o vosso promotor público tudo tentou para apertar o laço em torno da garganta do meu constituinte.
Todavia, como viram, não foi apresentada uma única testemunha ocular dos cinco crimes atribuídos ao acusado. Não houve quem tivesse encontrado, pelo menos, uma unha ou cabelo das mulheres desaparecidas. O promotor público baseou a sua acusação em provas circunstanciais algumas palavras captadas aqui ou ali, um botão além e algum sapato mais adiante…
Isto é o que consta no processo contra Philip Roche que vós julgais um segundo Jack. Lembrai-vos, porém, de que coleccionar sapatos não constitui crime. Em obediência à Lei não poderei condenar o meu constituinte, a não ser que estejais convencidos sem qualquer dúvida de ele ser o assassino.
O famoso advogado fez uma pausa. O Repórter Barbosa anotava nos mais pequenos pormenores todos os passos da brilhante intervenção do defensor de Philip Roche. Este, sentado no compartimento reservado aos réus, tinha a cabeça mergulhada entre as mãos grossas e compridas, parecendo alheado de tudo o que o rodeava. O advogado fitou os jurados, um por um.
As suas últimas palavras pareciam ainda ressoar de modo agitado em toda a sala. Toda a gente estava suspensa do seu discurso.
Asseguro-vos de que duvidais murmurou. Muito embora não estejais cônscios da vossa dúvida.
Não há dúvida nenhuma! bradou apopléctica uma das testemunhas, precisamente a irmã de uma das cinco jovens desaparecidas.
O juiz interveio, impondo silêncio.
O advogado prosseguiu:
Se uma das mulheres, de cuja morte estais tão certos, entrasse neste Tribunal, qual seria a vossa reacção? Continuaríeis positivamente convencidos de que as outras quatro estavam mortas? Continuaríeis ainda certos de que não há dúvida?
A emoção apoderara-se de todos. O orador levantou, então, vagarosamente o braço e apontou para os fundos do Tribunal, na direcção da porta cinzenta:
Senhores jurados exclamou peço-vos que olheis para aquela porta!
As respirações foram contidas e centenas de olhos se fixaram no ponto indicado.
Os estenógrafos deixaram de escrever.
Ninguém escondia o seu nervosismo.
Instantes se passaram que pareceram durar uma eternidade.
Depois, vendo que o silêncio penetrara bem fundo na consciência de todos, o advogado prosseguiu:
Perdoai o haver renovado as vossas esperanças. Perdoai o haver lançado mão deste recurso canhestro. NINGUÉM VAI SURGIR POR AQUELA PORTA! Mas a única pessoa que tinha absoluta certeza disso no recinto deste Tribunal, ERA EU! Todos os demais pensaram que uma das desaparecidas iria entrar aqui e por isso olhavam aquela porta. Houve dúvida no espírito de todos…
Senhores jurados, se houve dúvida no vosso espírito, o vosso dever é absolver o acusado.
O genial advogado sentou-se.
O juiz retirou-se para deliberar…
O Repórter Barbosa abandonou a sala por momentos respirando um pouco o ar fresco que penetrava através dos corredores do majestoso edifício público.
O seu espírito também estava confuso, profundamente chocado com o que se havia passado. Fora de facto extraordinária a defesa desenvolvida pelo advogado de Philip Roche.
Admirara, todavia, a aparente tranquilidade do réu, continuamente na mesma posição como se nada tivesse a recear ou não medisse o alcance da responsabilidade que pesava sobre si, transformada numa acusação horrível, deprimente, arrepiante…
Puxou dum cigarro e acendeu-o, extraindo breves fumaças.
Reconstitui a cena a que acabara de assistir, a luzente alocução do advogado de defesa, a força dos jurados
Qual seria a sentença?
Philip Roche seria considerado culpado ou inocente?
O Repórter Barbosa concentrou-se ainda mais…
A decisão só poderia ser uma. De facto…
Qual a decisão?
É a vez do leitor expor a sua ideia e… aguardar a solução.

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