Nota Explicativa do Policiário de Bolso:
Na sequência da publicação de “O Caso da Viúva Teresinha” (CICLAR), o Policiário de Bolso recebeu um testemunho que
permite clarificar os acontecimentos relatados. A proveniência das informações
foi devidamente comprovada através de contacto pessoal directo com a autora que
autorizou também a divulgação do conteúdo do e-mail anteriormente enviado.
Ao leitor deixa-se, como sempre,
a liberdade de muito bem acreditar no que quiser…
Exmos Senhores,
Sou seguidora do vosso blogue desde a primeira hora. Devo confessar que
sou uma leitora compulsiva de livros policiais, vício transmitido pelo meu avô
paterno, grande coleccionador dos livros da Vampiro. As histórias do cabo
Jeremias prenderam-me de imediato, por motivos óbvios, que facilmente serão por
vós entendidos.
Nunca pensei intervir porque sou uma pessoa bastante introvertida e não
gosto de levantar ondas. No entanto, não consegui resistir ao apelo final de A.
Raposo aos “indefetíveis leitores” do “Caso da Viúva Teresinha”. Apesar de
ainda não ter nascido na altura acontecimentos, tive conhecimento dos mesmos
porque me foram relatados por quem os viveu. Consta que o cabo Jeremias era um
homem tão bem parecido e charmoso que era de conquista fácil. A viúva Teresinha
viu-se ainda nova sem marido e o seu coração balançava entre o Raúl dos
cabedais e o Jeremias da esquadra. Um, era solteiro e bom rapaz, mas o outro
tinha a emoção do “bad boy”, do risco e da transgressão. E Teresinha andava ora
com um, ora com outro, sem capacidade ou vontade para se decidir. Devia ser o
eterno conflito entre a razão e o coração.
Ora acontece que na narrativa de A. Raposo é tudo verdade, mas a parte final
dos torresmos é uma pura invenção posta a circular na altura para protecção dos
intervenientes deste trio. Teresinha precisava de uma desculpa para meter o
cabo Jeremias dentro de casa. O cabo precisava de uma desculpa para passar mais
uma noite fora de casa e escapar às desconfianças da mulher. E o Raúl precisava
de defender a sua própria honra. Acontece que o bem intencionado Raúl estava verdadeiramente
apaixonado pela Teresinha e, como andava desconfiado, arranjou maneira de numa
quarta-feira afastar de forma definitiva, o cabo de esquadra do seu objecto
amoroso. Surpreendeu-os, aos dois. Teresinha estava nuinha em pêlo, Jeremias também,
apenas com as ceroulas de atilhos penduradas no braço. Raúl não esteve com
meias medidas, encostou a afiadíssima sovela de cortar cabedal à parte
anatómica mais estimada por Jeremias e ameaçou: “Larga-a de uma vez por todas e
inventa já uma história para sairmos limpos disto”. Compreende-se, uma coisa é
casar com uma viúva estimada por todos, outra é casar com uma mulher demasiado
estimada por vários.
Assim nasceu o mito dos torresmos mastigados por Teresinha de vela na
mão. Deu-se continuidade à mentira inicial do barulho mastigatório do defunto
marido e Raúl pode levar Teresinha ao altar ser dar azo a grandes falatórios.
Para ele o raminho da laranjeira foi botoeira e para ela no chapeuzinho creme,
porque parecia mal ir de branco, como atesta uma fotografia que tenho em meu
poder.
Desculpem, é verdade, depois de tanto escrever ainda não me apresentei.
O meu nome é Ana Teresa, filha de Maria Teresa e neta da genuína viúva
Teresinha, que casou em segundas núpcias com o Raúl dos cabedais, uma união
apadrinhada pelo (estranhamente atemorizado) cabo Jeremias.
Se A. Raposo precisar de um final feliz para esta história, eu posso apenas
dar-lhe este. Terezinha e Raúl, meus avós maternos viveram felizes para sempre,
nem a morte os separou porque partiram exactamente no mesmo dia.
Com os melhores cumprimentos,
Ana Teresa
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