2 — OS MÉTODOS DE SHERLOCK HOLMES
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Holmes
usava métodos próprios de actuação, métodos próprios de raciocínio, que se
destacavam como verdadeiros axiomas:
“Para
praticar a arte de discernir até ao mais alto grau, é necessário que o
raciocinador possa utilizar todos os factos que conhece, isto em si, implica
dever possuir conhecimentos de tudo que lhe possa ser útil no seu trabalho, o
que, mesmo nestes dias de educação livre e enciclopédica, é raro”.
“É da
mais alta importância, na arte da dedução, destrinçar os factos incidentais, daqueles
que são fundamentais”.
“O
raciocinador ideal, depois de observar um simples facto em todas as facetas, deduz
não só a corrente de acontecimentos, como todos os resultados seguintes”.
“É um
erro teorizar antes de possuir todos os indícios; é perigoso raciocinar com dados
insuficientes”.
“Deve
colocar-se no lugar do outro e tentar imaginar como teria ele agido em tais circunstâncias”.
“Imaginamos
o que poderia ter acontecido e, pelo método de indução, a partir de uma hipótese,
somos recompensados”.
“Para
um grande espírito nada é pequeno. O crime mais banal é muitas vezes o mais misterioso,
porque não apresenta nenhuma característica nova ou especial da qual se possam
fazer deduções”.
“Quando
a dedução intelectual é confirmada por um bom número de factos independentes, o
que é subjectivo passa a ser objectivo”.
“Tendo
excluído tudo o que é impossível, aquilo que resta, por mais improvável que
pareça, é a verdade”.
Sherlock
Holmes teve uma carreira de total sucesso? Não! Modestamente confessou ter sido
vencido três vezes por homens, uma por uma mulher. Esta chamava-se, sabemo-lo, Irene
Adler, a única mulher que o teria impressionado.
Sempre
a investigação, porém, se sobrepôs à sua vida particular. A sua grande paixão
era o conhecimento exacto e absoluto.
Para
raciocinar anichava-se numa poltrona, no rebordo da qual punha os pés, abraçava
os joelhos e apertava-os contra o peito e assim ficava concentrado a tirar
sucessiva cachimbada, saturando o ambiente de fumo de tabaco negro, janela
fechada para que este não escapasse. Sendo, porém profissionalmente, um
detective consultor, não é um detective de poltrona, como poderá julgar-se pelo
exemplo acabado de referir, sai, vai ao local dos acontecimentos, com riscos
inclusivamente mas, com uma dose substancial de esforço, consegue desvendar os
mistérios em que se mete.
A
resolução dos mistérios dava-lhe uma íntima satisfação pessoal. Interessava-lhe
a perseguição, pouco importando a captura do culpado, ou o cumprimento da Lei. Reconhecia,
aliás, que “vingar o crime é importante, mas preveni-lo ainda o é mais”. Não
sendo funcionário da Polícia, não lhe competia suprir as deficiências da
Corporação. Achar a solução de um problema era a recompensa que ambicionava, já
que “mandar um homem para a cadeia, será transformá-lo num bandido”.
Assim,
em sessenta casos narrados, em apenas vinte e cinco entrega o culpado à Justiça.
Esta, interessa-lhe, tão só, quando compatível com a sua ética pessoal.
Ao
longo sessenta casos narrados (tendo como pano de fundo, não exclusivo, a velha
Albion, designadamente a secreta Londres de ruas húmidas iluminadas a gás, por onde
se arrastam os destroços da sociedade vitoriana, os mendigos andrajosos e
mulheres perdidas, frequentadores de antros hediondos à beira do Tamisa, ou vielas
de East End, onde apenas o vício é vida) contam-se cinquenta e quatro contos e
três novelas longas, relatados por Watson; dois relatados pelo próprio Holmes e
um outro por um narrador anónimo.
Dos 64
casos temos:
26
mortos
|
21 por
acção criminosa
|
3 por
intenção justificada
| |
2 por
causas naturais
| |
12
roubos
|
4 de
jóias
|
5 de
documentos
| |
3 de
dinheiro
| |
16
auxílios
|
3 em
defesa de inocentes
|
5 recuperações
ou identificações
| |
1 falsificação
| |
4 a
aflitos
| |
1 espionagem
| |
2 contribuições
para um fim feliz
| |
6
desaparecimentos
|
3 por
rapto
|
3 voluntários
|
Para
além de Dr Watson, companheiro de habitação, para o qual dispensaremos um
capítulo próximo, Sherlock Holmes tinha auxiliares preciosos numa meia dúzia
dos mais sujos e andrajos garotos, que a troco de um xelim eram os seus olhos e
os seus ouvidos. Os Irregulares de Baker Street como os designava, chefiados por
Wiggins, esperto e desembaraçado porta-voz do grupo, valiam, no seu critério: “cada
um mais do que uma dúzia de agentes da Polícia, pois a simples presença de um
funcionário fecha a boca a toda a gente, mas aqueles garotos vão a toda a parte
e se ouvem tudo”.
Servia-se
também de antigos criminosos, os quais lhe eram reconhecidos, pela lealdade com
que os tratava. Shinwell Johnson, mais conhecido por “Porky”, um indivíduo
perigoso com duas prisões em Parkhurst, dava-lhe informações que recusava à
Polícia, e que recolhia nas piores camadas do crime. ~
Shinwell Johnson |
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