As Recordações
Holmesianas deste mês recaem sobre Mycroft, o irmão mais velho de Sherlock
Holmes, que participa ou é é referido em quatro aventuras de Sherlock Holmes: “O
Intérprete Grego” (The Adventure of the
Greek Interpreter), ), “O Problema Final” (The Adventure of the Final Problem), “A Casa Vazia” (The
Adventure of the Empty House) e “Os Planos do Submarino” (The
Adventure of the Bruce-Partington Plans).
Recordações
Holmesianas,
um trabalho da autoria de M. Constantino com publicação na 1ª semana do mês,
sempre que possível, onde cada bloco inclui um tema base e um ou dois pastiches
com ligação ao assunto abordado.
As Recordações
Holmesianas já publicadas podem ser consultadas através da respectiva
etiqueta ou dos seguintes links:
6 — MYCROFT, UM IRMÃO DE
SHERLOCK
A saga,
ao longo das suas sessenta narrativas, é fértil na inclusão de personagens
marcantes. Para além dos heróis primeiros e permanentes, — Sherlock Holmes e
John H. Watson — são exemplo, em narrações várias ou individuais, personagens
como o Príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VII, que se advinha em “A Coroa de
Berilos”, Irene Adler, a mulher que Holmes nunca esqueceu, Mary Morstan, futura
senhora Watson, Violet Hunter, governanta, Violet der Melville, filha do
General Melville, rica e bela, salva da tirania do Barão Gruner devido à
intervenção do nosso herói; Lady Frances Carfax, Sir Henry de Baskerville,
Reginald Musgrave, James Mortimer, Helen Stone, Martha Hudson, Victor Trevor,
Brewer, o agiota de Curzon Street, Charles Auguste Milverton, o chantagista; os
inspectores da Scotland Yard, entre outros, Lestrade, Tobias Gregson,
Bradstreet, Stanley Hopkins, etc. etc.
Destacam-se
os personagens: Mycroft Holmes, irmão de Sherlock, de quem falaremos mais
detalhadamente, e o inimigo nº1 do detective, o Professor James Moriarty,
designado pelo “Napoleão do Crime”.
Baring
–Gould, na sua biografia — já amplamente citada — põe tudo e todos com datas.
Mycroft Holmes, mais velho sete anos que Sherlock, terá nascido em 12 de
Fevereiro de 1847, teve uma educação infantil em família e também na escola, foi
para Oxford e depois Londres, onde Sherlock se iria, igualmente, fixar. Mycroft
era muito mais forte e encorpado que Sherlock, tinha um físico realmente
robusto, mas o rosto embora cheio mostrava um pouco o aspecto do irmão. Os
olhos cinzentos tinham um brilho peculiar e pareciam ter mesmo um ar longínquo
e introspectivo que só se encontrava em Sherlock quando este estava em
concentração mental. Vivia num apartamento em Pall Mall e o seu ciclo
quotidiano ia do seu apartamento para o o Diogenes Club (agremiação mais
original de Londres, mesmo em frente da sua casa, que ele ajudou a fundar e
reúne os indivíduos mais insociáveis e reservados, por timidez ou misantropia),
daí para White Hall, onde desempenha uma missão qualquer ao serviço do Governo
Britânico.
Diz Sherlock:
“É
necessário manter uma certa discrição. Efectivamente num certo sentido,
poder-se-á dizer que é o próprio governo.
Recebe
quatrocentas e cinquenta libras por ano, permanece numa posição subalterna, não
nutre ambições de espécie nenhuma, recusando-se a receber honrarias ou títulos
nobiliários, mas nem por isso deixa de ser o homem mais indispensável ao país.
A sua
posição é única, criou-a para ele. Possui o cérebro mais metódico e preciso
deste mundo, com uma insuperável capacidade para registar factos. Os mesmos
dons potenciais que tenho dedicado à detecção dos crimes, Mycroft aplica-os ao
seu trabalho especial. Cada departamento do Estado canaliza para ele as
respectivas conclusões e Mycroft é o centro polarizador, a máquina que
contribui para o nosso equilíbrio político.
Todos os
funcionários são especialistas, porém a faculdade de Mycroft é ser omnisciente.
Se pensarmos, por exemplo, que certo ministro precisa de uma informação acerca
de um problema que envolve a Marinha, a Índia, o Canadá e o bimetalismo, poderá
obter pareceres isolados sobre cada assunto, proveniente de diversos departamentos,
contudo, só Mycroft se encontra em condições de catalisá-los simultaneamente,
discernindo a maneira como cada um deles exerce influência sobre os outros.
A fim
de facilitar as conclusões dos serviços, começaram por utilizar as aptidões do
meu irmão, até por mera comodidade. Presentemente tornou-se indispensável.
No seu
cérebro privilegiado tudo se encontra classificado, prestes a ser utilizado em
qualquer momento. Em muitíssimos casos a sua opinião condiciona, ou mesmo
decidiu a política nacional. Vive exclusivamente para isso e não pensa em mais
nada, a não ser quando, a título de exercício intelectual, se digna a
prestar-me atenção… pois já tenho pedido parecer acerca de alguns dos meus
modestos problemas.
Esta
arte de discernir está-nos nas veias e deve ter provindo da minha avó, que era
irmã do pintor Vernet. A arte quando nos está no sangue é susceptível de tomar
a forma mais bizarra, porque o irmão Mycroft possui esta qualidade em grau mais
elevado do que eu, mas o que para mim constitui um modo de vida é para ele um
mero exercício diletante! Já disse que ele é superior a mim em observação e
dedução. Na realidade, se a arte de um detective pudesse começar e acabar
cogitando, refasteladamente, numa poltrona, o meu irmão seria o inspector mais
notável do nosso tempo. Mas
falta-lhe a energia e a ambição. Nem era mesmo pessoa para verificar suas
próprias soluções, e preferiria considera-as erradas a ver-se na necessidade de
meter-se no mais pequeno sarilho que pudesse vir a prova-las como exactas.
Seria completamente incapaz de executar, por si só, aquelas tarefas de ordem
prática que têm de ser realizadas, antes de um caso ser apresentado em
Tribunal.
Ver Mycroft por aí, é como se fosse possível ver-se
um eléctrico numa ruela de província, tem os seus trilhos habituais, por onde
segue inexoravelmente”
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